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Opinião

Chega de diagnósticos! é tempo para avaliar

CONVIDADO

Políticas públicas mal ou não avaliadas, resultam em decisões baseadas em suposições erradas, dados desactualizados ou, pior, na completa ausência de evidências. Este descuido não é apenas erro técnico - é um erro fatal de gestão.

Não existem países subdesenvolvidos, mas sim países subadministrados.

Peter Drucker, "pai" da administração

É uma tragédia. O país que um dia foi o orgulho da região é agora uma sombra do que era. A economia morre aos poucos, asfixiada pela inflação e pela voracidade do governo em recolher mais impostos para engordar despesas intermináveis de um OGE sub-administrado. Peter Drucker tem razão: "o que pode ser medido, pode ser melhorado". Por outras palavras, é preciso medir, avaliar. Vários profissionais angolanos têm demonstrado, com insistência, que os diagnósticos desde os tempos idos dos anos 90 apresentam sempre os mesmos problemas estruturais(1). No entanto, novos diagnósticos têm sido pedidos, mas nunca nos últimos 40 anos, se pediram avaliações, uma vez que estas permitem e servem para medir o antes e depois, retirar lições e verdadeiramente melhorar... se, se... existir compromisso e comprometimento.

Relembro que o termo em latim compromissus, formada por "com-" (junto) e "promittere" (prometer), tem raízes nas práticas sociais que se refere a um acordo mútuo ou promessa entre duas ou mais partes, significando literalmente "prometer juntos", um acto que requer responsabilidade. Na antiguidade, o não cumprimento de um compromisso podia levar a consequências legais ou sociais severas, pois compromisso era visto como uma expressão da integridade e da responsabilidade pessoal, um acto de confiança à palavra dada. Então? O que aconteceu ao compromisso com o serviço público?

Apesar dos angolanos serem um povo com uma alta dose de energia positiva e criatividade, o cansaço e a desilusão começam a ser contagiantes pela ausência de comprometimento na avaliação dos servidores públicos às suas políticas publicas. A ausência de compromisso, na avaliação das políticas, projectos e programas públicos, é uma tragédia silenciosa que corrói a esperança e o bem-estar de uma nação. Num mundo onde a confiança nas instituições é um pilar essencial para a coesão social, a falta de comprometimento na análise e na melhoria das políticas que governam a vida das pessoas leva a consequências devastadoras (há exemplos). A ausência de compromisso manifesta-se em relatórios nunca lidos, em dados ignorados, em críticas que são silenciadas. Sem uma análise honesta e contínua, programas que deveriam aliviar a pobreza, promover a saúde e garantir a educação transformam-se em meros símbolos de intenções não realizadas.

Os recursos públicos, fruto das contribuições e trabalho árduo de milhões, são desperdiçados em iniciativas mal planeadas ou executadas de maneira inadequada. Para as famílias que vivem na periferia, essa falta de compromisso é sentida na carne e na alma. São mães que esperam horas em filas de hospitais, apenas para serem informadas de que não há médicos suficientes. São crianças que sonham com um futuro melhor, mas que enfrentam um presente onde o aprendizado é uma batalha diária contra a falta de materiais e infraestrutura. São trabalhadores que se esforçam para manter as suas famílias, com um salário mínimo, mas que vêem os seus esforços minados por políticas ineficazes que não conseguem criar oportunidades reais. É a morte lenta da esperança, onde cada promessa não cumprida é uma ferida aberta no tecido social.

Por todas essas razões, a ausência de compromisso, ou a incompetência na avaliação das políticas públicas, é uma traição aos cidadãos e não é apenas uma falha administrativa. Esse facto emerge como uma tragédia silenciosa e devastadora. Uma traição aos valores de justiça, equidade, eficiência, que deveriam nortear a boa governação e nos que depositam sua confiança em líderes e instituições que permanecem num estado permanente de reiniciação. Políticas públicas mal ou não avaliadas, resultam em decisões baseadas em suposições erradas, dados desactualizados ou, ainda pior, na completa ausência de evidências. Este descuido não é apenas um erro técnico - é um erro fatal de gestão com consequências a longo prazo que se espalham como um câncer na Sociedade.

Não está a ser pedido um mundo ideal, apenas o compromisso com a avaliação das políticas públicas como prioridade inegociável, para garantir de que cada esforço, cada recurso, cada acção seja direcionada de maneira eficaz para construir uma sociedade mais justa e evitar que recursos limitados sejam desperdiçados em programas ineficazes, enquanto problemas reais permanecem sem solução. Sem esse compromisso, permanecemos presos a um ciclo de desapontamento e desilusão, onde o potencial humano é sufocado pela inércia e pela negligência, e a confiança nas instituições públicas é erodida, levando à desilusão entre os cidadãos.

Leia o artigo integral na edição 780 do Expansão, de sexta-feira, dia 14 de Junho de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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