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"Angola tem condições, de solo e de clima, para produzir bom vinho"

LUÍS CABRAL DE ALMEIDA

É um dos enólogos mais prestigiados de Portugal, e veio pela quarta vez a Angola para apresentar alguns vinhos da Sogrape, a maior empresa vinícola daquele país. Defende que é possível produzir bons vinhos em Angola e aconselha que nunca se beba sozinho.

Pela quarta vez em Luanda, o que o traz e o que trouxe na bagagem?

Para além de vir partilhar alguns conhecimentos com formandos na área de restauração, na bagagem trago muita vontade de apresentar os vinhos da Herdade de Peso. São vinhos do grupo Sogrape, da sub-região da Vidigueira, que vão desde os mais simples aos fine wines. Venho apresentar os produtos da nossa carta, com destaque para o Ícone 2018, que foi lançado há uma semana.

Qual é o balanço que faz das vendas?

Muito positivo! Concretamente em Angola, o ano 2023 correu muito bem, o negócio do vinho está a ser muito promissor. No resto do mundo, está ligeiramente parado, ainda não arrancámos como gostaríamos. Como se sabe, a guerra na Europa alastra-se pelo mundo inteiro e a há uma incerteza muito grande nesse segmento, mas acreditamos que vamos fazer melhor.

A Sogrape actua apenas como distribuidor. Não pensa produzir vinhos em Angola?

Não diria que não estamos a pensar, estamos sim com outras prioridades! Comprámos novas vinhas e produzimos vinhos em Portugal, desde a região do Vinho Verde ao Alentejo, na Argentina, no Chile, Nova Zelândia e Espanha, onde, neste leque de aquisições, culminámos com a compra da Viña Mayor, uma propriedade bem conhecida e o nosso foco é a produção e implementação das marcas produzidas nestas zonas. Para já, olhamos para o mercado angolano como um grande parceiro a nível de consumo.

Se tivermos em conta o nosso solo e o clima, seria realmente possível produzir a nível local?

É sim possível. Angola tem condições, quer de clima, como de solo, para se produzir um bom vinho. Já começa a haver alguns exemplos de vinho com carácter. Temos estado a acompanhar a produção local de vinhos, mas ainda é muito cedo para falarmos de uma produção nossa em Angola. Já estivemos muito perto, há anos, de engarrafar directamente no País e estamos a acompanhar com bons olhos a produção interna de vinhos no sul do território. Aliás, o mercado angolano é extremamente importante, é uma extensão do português. Quando temos boas vendas lá, conseguimos visualizar boas vendas cá.

Com toda a complexidade que possuem, como se define um bom vinho?

Um bom vinho é aquele que tenha sentido de lugar, resultante de uma terra e da maneira de estar do homem, ou seja, tem que ter carácter, ser gastronómico, com intensidade de aromas e sabores, frescos, com acidez natural, e tudo isso é resultante das diferenças de solo, das castas, etc...

De acordo com a nossa gastronomia e localização, que vinhos deveríamos consumir?

Com o que tenho estado a aprender sobre a culinária nacional, e tendo em conta o clima tropical que existe, admira-me o baixo consumo de vinhos brancos e rosés. São vinhos que se bebem muito bem frescos e acompanham lindamente os mariscos, peixes e carnes brancas. Mas não é um problema do consumidor, mas do produtor que ainda não conseguiu passar essa mensagem. É verdade que, durante muitos anos, os vinhos brancos era vinhos muito leve e sem carácter, mas hoje já têm uma boa estrutura e são altamente gastronómicos e bons acompanhantes da gastronomia.

E quanto ao tinto, como o consumir?

O vinho tinto continua a ser muito importante. E é de ressaltar que a forma como o produzimos actualmente torna-o num produto com bons taninos e suave, o que significa que o podemos consumir um pouco mais fresco. E cada vez mais, a nível mundial, está a beber-se vinhos com temperaturas mais baixas e, concretamente em Luanda, ainda mais razões há para se consumir vinhos mais frescos. Ao invés de se consumir a 20º, é aconselhável que se consuma a 16/17 graus.

Essa baixa da temperatura não influencia na textura, principalmente nos tintos?

A verdade é que outrora não se encarava muito bem beber vinho tinto fresco, porque os taninos eram muito agressivos. Mas, actualmente, como são muito maduros, pode-se e deve-se consumir ligeiramente mais frescos. O branco ou um rosé não há dúvidas que são mais saborosos quando são consumidos com temperaturas mais baixas, proporcionando maior prazer.

Leia o artigo integral na edição 768 do Expansão, de sexta-feira, dia 22 de Março de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)