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"Precisamos de nos valorizar, vender a arte e não vender a nossa alma"

JOYCE JAZZ - ARTISTA PLÁSTICA

Explora diversos temas nas suas telas e a arte tem sido como uma terapia. A artista revela que na área em que actua há muita exploração e desvalorização do trabalho artístico, sendo que alguns têm de emigrar para consagrar as suas obras. Ao Expansão, menciona a necessidade de criar galerias públicas, em Luanda e também noutras províncias do País.

Recentemente expôs "Paletas de Cores". Que mensagem procura trazer nas suas obras?

Trago uma mensagem universal. Mensagem de amor, paz, equilíbrio, respeito e alegria. "Paleta de cores" porque a paleta é o meu escudo, as tintas são o poder que uso para transmitir a energia positiva. Porque a arte tem o poder para transformar vidas. Informar e formar. A arte já me curou da depressão. É terapia.

Como e quando surgiu a paixão pelas artes plásticas?

Desde cedinho, porque nasci e cresci com um artista.

A influência que teve do seu pai não lhe permitiu experimentar outras artes e outros caminhos?

O meu pai era um mestre, o meu pai fazia de tudo. Perdi a minha mãe aos sete anos e o meu pai teve um papel importante, foi mãe e pai, ensinou- -me tudo: cozinhar, lavar, cuidar de uma casa e educação. Foi um pai que fez muitos sacrifícios por mim. A arte criou- -me, a arte sempre me deu o que comer, com a arte sobrevivemos, louvo a Deus por ter um pai como o [Paulo] Jazz! A sua sabedoria era extraordinária, quem se sentava ao seu lado saía rico em conhecimento, era um profeta, transbordou o verdadeiro exemplo do amor de Jesus Cristo. Ele escrevia, tocava, cantava, ele tinha uma banda quando novo, e eu hoje também canto, amo compor, escrevo as minhas músicas para louvar a Deus e passar a mensagem do evangelho.

O que significa para si a arte plástica?

Arte é vida. É liberdade.

Como avalia os nossos artistas plásticos?

Precisa-se de mais união e empatia, o mundo dá voltas! Sobre o carácter devemos melhorar, e sobre o trabalho, precisamos de continuar a trabalhar sem pisar ou humilhar os outros. Quem está a chegar, deve respeitar quem encontrou, quem já está no mercado deve saber estender a mão, pois alguma vez já precisou de apoio. Só o talento não basta, é preciso ter espírito de artista, mansidão, bondade, compaixão e humildade.

Qual é a sua opinião sobre o mercado nacional das artes plásticas?

Há muita exploração e desvalorização artística. É lamentável isto, por isso alguns artistas perdem- -se nas coisas ilícitas, acabam em depressão, transtornos, muitos deixam de pintar. Isso frustra o artista, pois quando não exerce o seu papel fica frustrado. Alguns artistas querem trabalhar, dão o seu melhor, vão atrás sem os "padrinhos na cozinha", sacrificam- -se para conseguir ter material para pintar e fazer exposição. Em muitos sítios, quando vamos pedir patrocínios, fecham-nos as portas na cara, somos rejeitados, dados como loucos. Muitas vezes, quando há um artista de pé é mesmo pela graça de Deus e porque é resiliente, acredita em si e não está à espera de ninguém para conseguir as coisas. Precisamos de valorizar-nos, vender a arte e não vender a nossa alma! Acreditar em nós e ter fé.

Há espaço para os novos artistas?

Há muito espaço, Deus criou cada ser humano com um propósito, as suas impressões digitais não são iguais às minhas. Saber ter identidade e essência é das coisas mais importantes para viver neste mundo.

Há compradores ou coleccionadores de arte? São mais nacionais ou estrangeiros?

Alguns são estrangeiros. É uma situação triste, pois devemos ter a cultura de coleccionar arte como africanos. Acho que é uma questão que está adormecida, porque os nossos ancestrais eram fazedores de muita arte, coleccionavam tudo, pintavam em tudo. É só estudar mais sobre o Egipto.

Acha que com a arte plástica terá uma reforma confortável ou tem outra profissão?

A dádiva de ser artista também é esta: somos livres para fazer outras carreiras! O meu objectivo é transmitir o que aprendi e ser uma grande mestre.

Com os anos de carreira que tem, acha que agora vende pouco quadros em função da situação económica do País?

Numa crise há dois tipos de pessoas, as que choram e as que vendem lenços. Fico com a segunda opção.

Leia o artigo integral na edição 771 do Expansão, de sexta-feira, dia 12 de Abril de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)