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Angola

Seis em cada dez empresas registadas em Angola actuam no sector do comércio

MAIOR REPRESENTATIVIDADE

Entre Março de 2020 e Agosto de 2021, mais de 59% das empresas registadas estavam ligadas ao comércio. Economias pouco desenvolvidas e falta de resposta ao nível do emprego encaminham pessoas para o comércio.

Os dados do INE referentes à série de 2019, sobre o censo das empresas em Angola, revelam que o comércio por grosso e retalho, com 59,1% do total das empresas do País, o equivalente a 49.480 empresas, lidera as estatísticas de unidades recenseadas entre Março de 2020 a Agosto de 2021. Já no lado oposto surge a "captação, tratamento e distribuição de água", onde estão concentrdas o menor número de empresas. Os dados fazem parte do segundo censo de empresas realizado em Angola 19 anos depois do primeiro. O relatório do INE não indica o volume de negócios do sector do comércio, mas especialistas acreditam que seja o segundo maior empregador do País após a agricultura.

O secretário de Estado para a Economia, Ivan dos Santos, disse que é uma matriz preocupante, mas as autoridades trabalham para inverter a situação. No seu entender estes indicadores são um meio de reflexão para a adopção de medidas e políticas mais eficientes no sentido de inverter o crescimento da actividade comercial. Realçou, por outro lado, que tudo será enquadrado no Plano de Desenvolvimento Nacional PDN 2023-2027.

"Não queremos que se mantenha esta matriz económica em que o comércio domina as actividades empresariais em Angola", disse, lembrando que as autoridades trabalham já para inverter este quadro com aposta no investimento para a indústria transformadora.

O investigador Fernandes Wanda lembrou, por outro lado, que Angola precisa é desenvolver o sector produtivo local para que possa depois alimentar o sector do comércio a grosso e a retalho, "já que hoje este comércio é muito alimentado pelas importações."

A estratégia, prosseguiu, passa por dinamizar sectores intensivos em mão-de-obra, encorajar as empresas a exportarem bens e serviços no sentido de diversificar as exportações. "O foco não é aumentar o número de empresas apenas por aumentar, elas devem ser competitivas", sublinhou.

Fernando Wanda acrescenta que é preciso definir os sectores prioritários, isto é, aqueles que vão ser o motor e impulsionar o crescimento económico, fora do petróleo, criando condições para que as iniciativas de investimento sejam bem-sucedidas. O ambiente macroeconómico de crise constante no País e a escassez de divisas potenciou o aumento do número de empresas no sector do comércio, que serviu de refugio para acomodar empreendedores e trabalhadores.

O economista José Lopes, mais pessimista, diz que não se desenvolve uma economia forte apenas com comerciantes e lembra, por outro lado, que o País tem de produzir e é obrigação do Estado desenvolver políticas de incentivos para atrair investimentos. "Não se pode desenvolver uma economia com comerciantes e é o momento de as autoridades trabalharem na atracção de investimentos qualitativos, sobretudo para o sector da indústria transformadora", remata.

Já o empresário Costa Camuenho diz que as constantes crises obrigaram empresas de outros sectores a fecharem as portas e, como alternativa, os proprietários passaram a dedicar-se ao comércio a grosso e a retalho."Tudo para compensar os efeitos com a crise financeira que a economia angola[1]na vive desde 2014", revela a fonte.

Reconhece, no entanto, que os números, nesse momento não o surpreendem, mas é urgente que os apoios do Estado cheguem aos empresários para investirem em sectores fora do comércio. "Temos de pensar uma economia industrializada e não num mercado dominado por comerciantes. Se queremos crescer temos que investir na transformação de matérias-primas e desenvolver a indústria, criando incentivos para todas as zonas.

Evitar que os interesses sejam manifestados apenas para o litoral", disse. De recordar que a maioria das empresas recenseadas, cerca de 84% são micro empresas, com 1 a 6 trabalhadores. Em termos de empregos há mais mulheres empregadas no sector informal (cerca de 32%) do que no sector formal (cerca de 26%).