Educação: Continuamos a falhar nos alicerces do futuro
Quando se desvaloriza a juventude. Recentemente, ouvi declarações que condenavam os jovens que decidem sair do país para procurar melhores oportunidades. Não é a fuga que devemos criticar. É a falta de condições para que fiquem. A juventude não é o problema - é o capital mais valioso que temos.
Formei-me em 1999, em Psicologia Social e das Organizações, no ISCTE (Portugal). Desde então, dediquei mais de 27 anos à capacitação e ao desenvolvimento humano, com uma carreira sólida em Recursos Humanos, e hoje, como empresária, mentora e CEO da minha própria empresa, continuo a entregar valor através daquilo em que acredito: o poder da formação contínua.
Nunca deixei de investir em mim. Porque, se quero ser uma mentora de excelência, uma coach que desafia e inspira líderes, tenho de me manter actualizada. Acredito firmemente que o conhecimento é um dos poucos bens verdadeiramente nossos. Podemos partilhá-lo ou guardá- -lo, usá-lo para construir ou para dividir. Mas nunca nos pode ser retirado. Concordas?
Durante os últimos anos, em Angola e fora dela, acompanhei muitos jovens no seu percurso de formação. Vi-os sonhar, lutar e alcançar. Vi-os chegar a cargos de direcção, conquistar espaço em mesas de decisão. E é com orgulho que digo: sim, a formação foi - e continua a ser - a ponte mais segura para o sucesso profissional.
Mas também vi o outro lado. O mais duro. O das dificuldades estruturais, das promessas falhadas, do acesso desigual. E aqui, permitam-me ser clara: a educação em Angola continua frágil, desajustada e, muitas vezes, desmotivadora. Entrevistando centenas de candidatos ao longo dos anos, encontrei professores que nunca tiveram formação superior. Encontrei jovens com cursos incompletos, mas cheios de vontade. E encontrei muitos, demasiados, com o potencial desperdiçado por falta de oportunidades.
O que dizer quando um professor, com um salário insuficiente, é obrigado a dar aulas em condições precárias? Quando a qualidade do ensino básico está tão distante das exigências do mercado de trabalho? Quando se investe em edifícios, mas não em currículos, professores ou ferramentas de pensamento crítico?
Pior: quando se desvaloriza a juventude. Recentemente, ouvi declarações que condenavam os jovens que decidem sair do país para procurar melhores oportunidades. Não é a fuga que devemos criticar. É a falta de condições para que fiquem. A juventude não é o problema - é o capital mais valioso que temos. O nosso desafio é criar um país onde valha a pena investir o talento, a energia e o tempo. Onde os jovens - e os menos jovens - se sintam parte da solução e não do problema.
Por isso, deixo a minha singela partilha, com base na minha experiência destes anos, de cinco abordagens urgentes que possam contribuir para transformar o panorama da educação em Angola:
01. Rever os currículos académicos com base nas necessidades reais do mercado - É urgente integrar competências digitais, pensamento crítico, comunicação e liderança desde cedo no percurso educativo.
02.Investir na formação e valorização dos professores - Sem professores motivados e qualificados, não há qualidade no ensino. Os salários, a formação contínua e o prestígio da profissão devem ser prioridades.
03.Criar verdadeiras políticas de inclusão educativa para meninas e jovens mulheres - Ainda enfrentam maiores barreiras ao acesso e permanência na escola. A igualdade começa na sala de aula, nas condições das escolas e nas oportunidades que lhes são dadas após a sua conclusão.
04. Fortalecer a ligação entre o ensino e o mundo profissional - Programas de estágio, mentoria e parcerias com empresas devem ser estruturais, e não acções pontuais. Ainda subsistem, programas académicos, que em nada agregam valor ao mundo real.
05.Descentralizar o acesso à formação de qualidade - Que ela chegue de facto a todo o lado, a todas as províncias. O talento não tem morada fixa.
Continuo a acreditar. Sou uma romântica, sim - mas também sou uma realista. Porque vejo, diariamente, os impactos positivos da capacitação, do investimento nas pessoas, do desenvolvimento de competências humanas e sociais. E se há algo que o meu percurso me ensinou é que a educação muda destinos (eu sou exemplo real disso) - e, por isso mesmo, deve ser a nossa prioridade colectiva.
Leia o artigo integral na edição 823 do Expansão, de quinta-feira, dia 25 de Abril de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)