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Grande Entrevista

"Transportes, agricultura e pescas deviam ter uma atenção muito especial"

ANTÓNIO GAVIÃO NETO PRESIDENTE DA ATROMA

A Associação dos Transportes Rodoviários de Mercadorias de Angola garante que o aumento do preço do gasóleo vai encarecer os seus serviços e o custo de vida dos cidadãos e defende uma concertação com o Executivo na retirada gradual da subvenção aos combustíveis.

Recentemente, o preço do litro de gasóleo aumentou 50%, passando a custar 300 kwanzas. Como a associação encarou este aumento?

Com bastante ceticismo. Entendemos que esses reajustes graduais, antes de serem feitos, devem ser concertados com as associações, no sentido de prevermos os impactos que podem causar na vida cotidiana de todos nós.

Não houve concertação?

Não. Fomos apanhados, como se diz na gíria, com as calças nas mãos. Tomamos conhecimento pela informação que começou a circular nas redes sociais, com a partilha do comunicado do Instituto Regulador dos Derivados do Petróleo (IRDP), dando conta do reajuste de 50% no preço do litro do gasóleo.

De que forma este reajuste se reflete na sua atividade?

Reflete na alteração da estrutura de custos das empresas associadas à ATROMA. Tiago de refazer tudo. As empresas associadas fizeram uma planificação financeira para todo o ano, de que o custo com as despesas de combustível rondaria foi de 38 milhões de kwanzas. Portanto, com a demonstração financeira do primeiro trimestre do ano, já tivemos de reajustar a partir do segundo trimestre e os números que encontraram para suportar as despesas com o gasóleo andam à volta dos 57 milhões de kwanzas. Isso numa amostra de cinco caminhões. Se para uma amostra de cinco caminhões, há um gasto de combustível de 57 milhões, imagine um horizonte de 100 ou 200 caminhões. É uma fatura pesada. Tio de reajustar as nossas tarifas em 65%, 50% para o gasóleo e 15% para os custos variáveis. Acessórios, pneus, despesas de manutenção, mão-de-obra em escritório, etc.

Como esse reajuste, quem paga a factura final?

É o consumidor final. Somos todos nós, infelizmente. A vida pública vai ficar mais cara. Os cidadãos que estão habituados a locomover-se através das suas viagens ou serviços não terão salário suficiente para aguentar a despesa. O Executivo ajustou o salário nacional há um pouco tempo, em 25%, quer dizer que esses 25% já estão absorvidos. Portanto, vai causar-nos transtornos e não serão pequenos.

Qual é o preço defendido pela associação para o preço do gasóleo?

O Governo deve trabalhar por variáveis. A variável industrial, que são os transportes, agricultura e pesca, deve ter uma atenção muito especial justamente para não encarecer a vida dos cidadãos, que por si só já vai com um aperto bastante grande. Para esses, deve haver uma subvenção especial, quer para a indústria de transportes, pescas e a indústria propriamente dita. Porque são essas variáveis ​​que podem reduzir o sentimento de carência dos consumidores. Infelizmente, os parceiros sociais nunca são ouvidos nas tomadas de medidas que têm a ver com a vida pública e com a vida, sobretudo, dos cidadãos. E isso tem estado a provocar estes constrangimentos, que em algumas situações resultam em convulsões populacionais.

O preço seria em função destas variáveis?

Devia ficar como estava e então mexer-se em outras variáveis. A gasolina, por exemplo. E mesmo no nível do gasóleo, nos carros de recreio e outros meios de transporte que não incluam o transporte público urbano, o transporte rodoviário de mercadorias, nem o comboio.

A retirada da subvenção aos combustíveis é necessária para a economia nacional...

Para uma economia mais estável, pode ser esse o argumento. Mas somos cidadãos deste país e temos alguma noção de vida dos cidadãos. Digo isto porque os escândalos que aconteceram, no âmbito da tesouraria nacional, são visíveis. Veja bem que o escândalo recente na área das finanças custou 7 mil milhões de kwanzas. Portanto, não há nenhuma tesouraria que aguente. Esse é um dos escândalos que vieram à superfície e que chegaram ao nosso conhecimento. Poderá haver outros, mais leves ou mais pesados, que também estão a decorrer, que não chegam ao nosso conhecimento. Portanto, a administração financeira e orçamentária, o seu controle, a sua progressão, deve ser muito melhor para que esses fenômenos de corrupção, de roubo e de açambarcamento à tesouraria nacional não venham a acontecer.

Reduzir a subvenção não basta?

Não, não basta. Entendendo que, com os recursos que o País tem, nosso Produto Interno Bruto (PIB) deve ser melhor. Devíamos encontrar formas muito sapientes de atuação para termos um melhor PIB, para sairmos deste fosso. O PIB assenta essencialmente no petróleo, quando temos o ferro, o ouro, o diamante, mas diz-se que o preço está baixo e se está a vender muito pouco.

Este potencial do País de que fala tarde em efetivamente se tornar...

Possuem recursos naturais e não são apenas emblemáticos do património da nação. Agora, da forma como ele está a ser explorado e da maneira como está a ser comercializado, não sabemos. O cidadão não está por dentro desses fenômenos, por isso é que estamos constantemente ouvindo que a tesouraria está sem dinheiro. E ficamos sem saber. Então, tanta riqueza no País tem, mas estamos sempre de mão estendida a pedir dinheiro, depois contraimos dívida para pagar dívida.

Em algum momento a associação tentou uma aproximação com quem de direito para uma concertação?

A associação sugeriu um bocadinho, no âmbito do seu saber, uma melhor colaboração entre o Executivo e os departamentos ministeriais. No ano passado, fizemos uma revolução na fronteira com a RDC, por causa das taxas aduaneiras, que infelizmente afetaram muito a tesouraria das empresas associadas à ATROMA. Isto originou a feitura de um decreto por parte do Presidente da República, publicado com a recomendação de entrada imediata em vigor. Infelizmente, não sei o que se está a passar, mas até agora o decreto presidencial não entrou em vigor. Há muitas coisas que ainda precisam de ser aprimoradas, mesmo no âmbito das orientações ao mais alto nível do setor decisório.

Leia o artigo integral na edição 820 do Expansão, de sexta-feira, dia 04 de Abril de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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