"A utilização dos meios digitais de pagamento não é uma opção, é uma realidade"
O CEO da empresa que produz ATMs, TPAs e cartões multicaixa, e serviços de pagamentos financeiros, entende que a solução das filas nos bancos não está só no aumento de TPAs e ATMs, mas na mudança de hábito das pessoas, na formalização da economia e redução da massa monetária em circulação nos mercados. Para o responsável, se todas as pessoas que têm um telemóvel usassem pelo menos uma vez um meio financeiro digital, o País teria um crescimento maior.
A innovation Markers é uma empresa que desenvolve produtos e soluções tecnológicas para o sector bancário e, actualmente, os desafios dos bancos passam por assegurar a adequação às exigências e expectativas dos seus clientes, oferecendo maior personalização e qualidade na prestação de serviços financeiros. Como avalia a prestação dos serviços da banca angolana?
Em termos práticos, nos últimos anos, a prestação de serviços do sector bancário em Angola tem crescido, quer em termos de qualidade, quer em termos de dimensão. A oferta que tem havido, com as soluções que os bancos disponibilizam aos seus clientes, que a Emis tem disponibilizado também ao mercado, a disponibilização de novas soluções de empresas de pagamento, tudo isso tem dinamizado o sector financeiro e o sector bancário no País. Angola tinha alguns sistemas que estariam mais atrasados, nomeadamente os pagamentos móveis. Mas, se compararmos com Moçambique, por exemplo, neste momento, está à frente. Angola, neste momento, tem soluções bancárias inovadoras, está a fazer um esforço de aproximação às populações. Neste momento, vejo com muito bons olhos a afirmação e o crescimento do sector tecnológico que suporta a actividade bancária em Angola.
Mas hoje os clientes bancários exigem maior rapidez, querem serviços mais inovadores e a custo mais baixo. Que serviços vocês têm disponíveis para a banca, que esta, por sua vez, pode disponibilizar aos seus clientes?
Com a banca nós trabalhamos muito na área dos pagamentos. As nossas soluções estão a evoluir, com a integração de tecnologia de inteligência artificial. Estamos a utilizar sistemas de data science. Posso dar-vos só um exemplo. Um dos nossos sectores principais é a comercialização de TPAs (terminais de pagamento). Temos o gosto e o privilégio de ter tido grande aceitação pelos bancos, hoje somos a empresa que mais TPAs tem activos neste mercado, mas não nos chega. Ou seja, para nós, o posicionamento importante que queremos assumir não é vender mais TPAs, mas sim criar valor acrescentado com os TPAs.
E como se acrescenta valor?
Por exemplo, temos com dois dos maiores bancos angolanos o serviço de gestão do parque, onde fazemos apoio aos comerciantes, a substituição de equipamentos e formação. Estamos a desenvolver soluções com data science [ciência de dados] e com a utilização dos processos para que se possa ter uma visão mais ampla de como o parque está, prevenir os clientes que vão desistir, conseguir analisar o comportamento dos comerciantes para que os bancos possam maximizar e rentabilizar ao máximo todo o seu parque.
Pode dar exemplos práticos?
Por exemplo, em ATMs estamos a criar sistemas automáticos de monitorização, de dashboards para perceber como está a ser o desempenho do parque, quer das máquinas de depósitos e das máquinas de dispensação. Estas máquinas, tanto de pagamento e os depósitos, são desenvolvidas e concebidas por nós, desde o desenho, concepção, software, tudo.
E quanto à máquina que permite pagamento e emissão de factura. Como funciona e quando será lançada?
É expectável que no decorrer deste ano seja lançada a nova geração de TPAs, com o sistema operativo Android. Os equipamentos comercializados pela Innovation Makers Angola irão ter integrado uma solução de software de gestão certificado pela AGT, que irá permitir a emissão de facturas, controlo de stocks, contas de clientes e mais funcionalidades de gestão adaptadas a diferentes negócios, desde lojas, até mercados de rua, passando por cabeleireiros, restaurantes e outros. Tudo isto integrado num TPA de pagamentos, quando o cliente faz o pagamento permite emitir factura e garantir a gestão do estabelecimento.
Toda a produção de ATMs e TPAs é feita cá em Angola?
O desenvolvimento e produção das nossas máquinas de auto- -atendimento é feita inteiramente pela Innovation Makers Labs, que detém a Innovation Makers Angola, desde o seu design à montagem, entre Portugal e Angola. A equipa de Angola está preparada para proceder à assemblagem localmente nas nossas instalações em Luanda. Os equipamentos de ATM e TPA, produzidos pelos nossos fornecedores, são oriundos de diferentes mercados, nomeadamente o chinês.
Quantos TPAs têm activos?
Podemos dizer que temos próximo dos 60 mil TPA activos. Portanto, já existem hoje, espalhadas por Angola inteira. E procuramos integrar inovação nos equipamentos, nas soluções e nos serviços que prestamos. E, repito, o importante é conseguirmos que o nosso cliente, que é o banco, tenha valor acrescentado com as nossas soluções.
Qual é vossa quota de mercado em termos de ATMs e TPAs no sistema financeiro?
Em termos de ATMs, somos o líder, com maior número de TPAs activos no mercado. Em ATMs, temos vindo a crescer, pois só estamos neste mercado há menos de dois anos. Porém, temos crescido significativamente, em número de ATMs vendidos nestes anos, ocupando os primeiros lugares.
E quanto custa produzir estes equipamentos?
Não lhe posso dizer, por questões de confidencialidade.
A fuga para o digital é hoje a principal solução para facilitar as transacções, permitindo maior celeridade nas operações e evita as longas filas nos ATMs. O Express já é o canal mais utilizado na rede Multicaixa. Acredita que há uma alteração no perfil do cliente bancário e a sua migração para os canais digitais?
Há, sem dúvida. A digitalização, a utilização de meios digitais é inevitável. O Multicaixa Express hoje é uma ferramenta útil e os bancos também estão a acompanhar esta solução. A Emis com o Multicaixa tem uma grande vantagem, porque garante a interoperabilidade, isto é: eu estou a trabalhar com o banco A, quero fazer um pagamento para o banco B, a Emis consegue dar-nos essa visão e garantir que a transacção é feita instantaneamente e dar a notificação. A evolução dos meios digitais com as tecnologias de pagamentos móveis é inevitável, e a nível internacional estão a crescer bastante. Eu penso que a fase seguinte importante que Angola terá de passar é para o conceito de open bank.
Leia o artigo integral na edição 828 do Expansão, de Sexta-feira, dia 30 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)