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África

Banco Central do Zimbabué proíbe empréstimos bancários mas levanta proibição uma semana depois (actualizada)

Medida provisória para travar queda da moeda

"Esta não é uma medida ideal para controlar o crescimento da oferta de dinheiro", reagiu a Câmara Nacional do Comércio, alertando que a decisão "legitima um sistema bancário paralelo, com taxas de juro usuárias".

Uma circular do Banco Central do Zimbabué proibiu os bancos de concederem empréstimos, medida provisória que visa travar a queda da moeda nacional, que caiu 61% este ano, mas que, segundo a Câmara Nacional de Comércio, vai agravar a crise económica e expor os mutuários a empréstimos predatórios. Esta terça-feira, 17 de Maio, o Banco Central voltou atrás e levantou a proibição de empréstimos bancários. "O banco deseja informar o público de que a suspensão temporária dos serviços de empréstimo pelos bancos foi levantada com efeito imediato", disse o banco central num comunicado.

O Banco Central do Zimbabué reage, assim, às críticas de grupos empresariais e aos efeitos do congelamento dos empréstimos bancários. Segundo a Reuters, na semana passada, a Tongaat Hulett, empresa agrícola e de agro-processamento da África do Sul, suspendeu os pagamentos aos produtores de cana-de-açúcar, afirmando que dependia de empréstimos bancários para os fazer.

A decisão de congelar os empréstimos foi ordenada pelo próprio Presidente Emmerson Mnangagwa, e enquadra-se num conjunto de medidas tomadas desde 2020 para apoiar a moeda nacional e impedir o florescimento do mercado paralelo.

Trata-se, como esclareceu o governador do banco central, John Mangudya, de uma proibição "temporária", destinada a garantir "sanidade" ao sistema financeiro. "Certamente, esta não é uma medida ideal para controlar o crescimento da oferta de dinheiro em grande escala", reagiu a Câmara Nacional de Comércio do Zimbabué (ZNCC), numa declaração, onde argumenta que esta decisão "legitima um sistema bancário paralelo com taxas de juro usuárias". A principal câmara de negócios do país adverte ainda que nenhum investidor é atraído para uma economia, onde os "empréstimos podem ser suspensos de um dia para o outro" e onde todo o crédito concedido passa a ser investigado, por orientação presidencial.

Emmerson Mnangagwa ordenou que os bancos parassem de conceder empréstimos, com efeito imediato no sábado, alegando que esta medida sem precedentes se destinava a parar a especulação contra o dólar zimbabueano. Em 2009, o Zimbabué abandonou o dólar nacional, por causa da hiperinflação, tendo optado por utilizar moedas estrangeiras, sobretudo o dólar norte-americano. Mas, em Fevereiro de 2019, o governo de Mnangagwa reintroduziu o dólar zimbabueano que, só este ano, desvalorizou 61%, tornando-se na moeda com o pior desempenho do mundo, segundo refere a Bloomberg.

"Assassinos económicos"

O Presidente zimbabueano imputa a responsabilidade directamente aos bancos, acusando-os de inundarem o sistema financeiro com fundos. Excesso de liquidez que fez derrapar a moeda nacional e acelerar a inflação, justificou Mnangagwa, lamentando que os esforços do Estado para impulsionar a economia estejam a ser minados por "assassinos económicos". Antes de congelar os empréstimos, o governo ordenou o encerramento temporário das transacções de dinheiro móvel geridas pelo maior operador, a Econet Wireless, e impediu as negociações na Bolsa de Valores do Zimbabué durante cinco semanas.

Quer uma, quer outra medida não travaram a queda da moeda nacional, temendo-se que o corte do acesso das empresas a crédito bancário afunde ainda mais a economia e seja igualmente prejudicial ao sector bancário. "Esta é uma tentativa errada de lidar com o problema", reagiu Ringisai Chikohomero, consultor de investigação do Instituto de Estudos de Segurança em Pretória, alegando que o governo deve deixar a moeda flutuar livremente.

O governo está a assumir que "os empréstimos estão a alimentar o fornecimento de dinheiro e, consequentemente, a depreciação da moeda local. Isso é inoportuno. As medidas são claramente prejudiciais para o sector bancário", avisou.

Dados do Banco Central revelam que, em 2021, os 19 bancos autorizados a operar no país emprestaram 229,9 mil milhões de dólares zimbabueanos (o equivalente a 634,5 milhões USD). Entre os bancos que operam no país contam-se o Standard Bank Group, o Nedbank Group, com sede em Joanesburgo, e o Ecobank Transactional Inc., sediado no Togo.