"Há Hip Hop em Angola, mas ainda não há um mercado no sentido pleno e sustentável"
Num show intimista marcado para 20 de Junho, o artista vai apresentar as músicas do seu novo trabalho. Os valores arrecadados do evento serão doados ao Centro de Acolhimento Mamã Madalena. Ao Expansão, o músico manifesta interesse em trabalhar mais com artistas angolanos.
Está de malas feitas para Angola. O que traz na sua bagagem para os angolanos?
A minha bagagem vai cheia de conhecimento, arte e consciência. Levo também versos que questionam, ideias que inspiram e uma presença que une raízes e futuro. Levo também escuta atenta, respeito pelas vivências locais e a vontade de construir pontes entre gerações.
"Mantendo o dinheiro que se faz em Angola em Angola." Por que traz este título para o seu concerto?
O título "Mantendo o dinheiro que se faz em Angola em Angola" reflecte um compromisso consciente com a valorização e o fortalecimento da economia e cultura locais. É uma forma de retribuir o amor e apoio que o meu povo me tem dado ao longo dos anos, investindo de volta na terra que me viu nascer, não só na arte e na cena cultural, mas também nas comunidades mais vulneráveis. É sobre responsabilidade, gratidão e acção concreta.
Diz que Angola é agora o seu foco absoluto por escolha, por dever e por amor. Quais são os seus próximos projectos para os angolanos?
Gostaria de trabalhar mais com artistas angolanos nos meus próximos projectos, fazer mais concertos em Angola e estar mais presente em acções culturais, educativas e comunitárias. Angola é agora o meu foco por escolha, por dever e por amor. Os próximos projectos passam por colaborações com músicos locais, workshops de escrita e performance, concertos intimistas e acções sociais que unam arte e consciência.
No dia 20 de Junho vai apresentar aos seus fãs músicas do seu décimo álbum. Que mensagens traz nas suas mais recentes músicas?
Não é o meu décimo álbum, é o meu décimo trabalho. Para começar trago produções incríveis e letras com um estilo literário mais rico do que nunca, carregadas de mensagens fortes, com o mesmo objectivo de sempre: despertar consciências e estimular o intelecto, não quero avançar muitos detalhes para já... Tenho muitas surpresas preparadas para os meus fãs.
Que balanço faz dos seus 26 anos de carreira?
O balanço dos meus 26 anos de carreira é mais do que positivo. Trabalhei imenso ao longo dos anos, e isso reflecte-se não só na quantidade, mas sobretudo na qualidade dos trabalhos que entreguei. Realizei muitos dos meus sonhos e hoje sigo de forma totalmente independente, livre de pressões editoriais ou expectativas alheias. Escrevo, gravo e lanço quando quero, mantendo ou superando a fasquia que sempre defini para mim.
Como olha para o mercado de Hip Hop angolano?
O chamado "mercado de Hip Hop angolano" ainda não se consolidou de forma estruturada. Existem bons artistas e um público interessado, mas isso, por si só, não constitui um mercado. Um verdadeiro mercado requer infraestrutura: editoras funcionais, distribuidoras, plataformas de media especializadas, promotores comprometidos e sobretudo instituições que protejam os direitos autorais e a propriedade intelectual dos artistas.
De que forma se concretiza esse mercado?
Com regulamentação, transparência nos contratos, remuneração justa, gestão de carreira profissional e um sistema de recolha de direitos eficaz, algo que uma sociedade de autores e compositores sólida deveria garantir. Sem isso, o talento circula de forma quase informal, onde o artista é muitas vezes autor, produtor, distribuidor e promotor ao mesmo tempo, o que limita o crescimento da indústria. Portanto, há Hip Hop em Angola, mas ainda não há um mercado no sentido pleno e sustentável.
Leia o artigo integral na edição 829 do Expansão, de Sexta-feira, dia 06 de Junho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)