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Angola

Angola pagou 200 milhões USD em margin calls mas valor pode crescer

SE PERSISTIR A INCERTEZA E O PREÇO DO BARRIL CAIR

Na prática, o banco norte-americano JP Morgan comunicou a Angola que o colateral de 1.900 milhões USD em eurobonds que o País deu como garantia para um empréstimo de 1.000 milhões USD vale menos USD 200 milhões e, por isso, tem de pagar para que as condições se mantenham.

O Governo foi obrigado a avançar com cerca de 200 milhões USD para cobrir o pedido de chamada de margem (margin cal em inglês) feito pelo JP Morgan, depois de os títulos em moeda estrangeira emitidos como garantia para cobrir um empréstimo de 1.000 milhões USD do banco norte-americano terem afundado com a queda do preço do barril de crude. Face à incerteza provocada pelo "furacão" Donald Trump, nada garante que o País não seja obrigado a avançar com mais dinheiro para cobrir esta garantia, admitem especialistas.

No final de 2024, Angola fez uma emissão contingente de eurobonds de cerca de 1.900 mil milhões USD (emissão que não entra para o stock de dívida) para servir como garantia a um empréstimo de 1.000 milhões USD do JP Morgan, tratando-se de um empréstimo denominado como swap de retorno total. Este empréstimo foi utilizado para o Governo evitar de violar a lei do Banco Nacional de Angola (BNA) que o obriga a saldar os empréstimos concedidos pelo banco central no ano em que são concedidos.

Na semana passada, a turbulência das tarifas impostas pelos EUA (entretanto adiadas por 90 dias) que atingiu a economia mundial acabou por arrastar Angola para o prejuízo, já que afectou fortemente o preço do barril de petróleo (faz aumentar o risco de Angola) e, por sua vez, os juros da dívida soberana do País. "O cenário actual afectou os mercados de commodities e eurobonds nos mercados emergentes, incluindo o nível de negociação de eurobonds angolanos, tendo desencadeado uma chamada de margem. Angola cumpriu a sua obrigação em tempo útil e em dinheiro", avançou o Ministério das Finanças.

O valor em si chegou a despertar alguma estranheza por parte de analistas, já que parecia exagerado, uma vez que era equivalente 20% do valor do empréstimo. No entanto, este cálculo é feito sobre o valor da garantia e como os títulos angolanos nessa semana perderam cerca de 11,5% do valor, era necessário avançar com estes 200 milhões para cobrir a perda de valor do colateral. "A emissão que serve de colateral totaliza 1,9 mil milhões USD, e estava na sexta-feira a negociar com uma yield de 13,9%. Isso põe o preço da emissão a rondar os 88,5, face aos 100 de emissão. Ou seja, uma perda de valor de 11,5%. Então, multiplicar 11,5% por 1,9 mil milhões dá cerca de 220 milhões de perda de valor do colateral, em avaliação de mercado. Portanto, bate certo", adiantou ao Expansão fonte de um dos maiores bancos nacionais.

Este especialista em mercados financeiros admite que se persistir a incerteza nos mercados e se o preço do petróleo baixar ainda mais, nada garante que não seja necessário avançar com mais dinheiro ou outro tipo de activos para cobrir as perdas deste colateral.

A parte positiva de tudo, admite, por outro lado, o economista Mateus Maquiadi, é que se trata de um empréstimo que vence em Dezembro e que, se Angola cumprir com o acordo, a garantia é-lhe devolvida. Ainda assim, defende que o País deve evitar este tipo de empréstimos que apresentam muitos riscos para um país com uma economia muito vulnerável, como é o caso de Angola. "Trump pode inventar mais coisas. O bom é que o empréstimo dura apenas um ano, se fosse mais do que isso seria bem complicado. Mas eu acho que Angola não pode fazer coisas dessas quando tem alta vulnerabilidade. E se quiserem fazer isso têm que aprender a ler cenários políticos. Isso que está acontecer era minimamente esperado. Na altura que fizeram o acordo com o JP Morgan, Trump era o favorito a ganhar as eleições. Com ele no poder o mundo entraria automaticamente numa confusão. Antes das eleições, Trump já tinha falado das tarifas e já tinha dito que iria controlar a Reserva Federal", defende o economista.

Entretanto, o Governo estava a sondar os mercados para uma eventual emissão de eurobonds - a ministra das Finanças anunciou recentemente que o País pretende captar até 3.000 mil milhões USD - que nesta fase parece estar afastada devido à alta de juros, que comportam riscos para a sustentabilidade da dívida. As yields angolanas - indicador que mede as taxas que os investidores dos eurobonds admitem cobrar para emprestar dinheiro a Angola -antes do anúncio das tarifas andavam à volta dos 11,30% e nesta fase estão já acima dos 14%.

Leia o artigo integral na edição 822 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Abril de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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