Relatório de Emprego do Cinvestec mostra grandes desigualdades
Se as remunerações nas grandes empresas chegam aos 17 milhões, nas médias, um director-geral pode auferir mensalmente até 10 milhões Kz. Em sentido contrário, a classe dos motoristas e seguranças é a mais afectada, levando para casa os salários mais baixos do mercado.
O salário mais alto no País pode atingir os 17 milhões Kz mensais nas grandes empresas, 340 vezes mais do que o salário mínimo, de 50 mil Kz, que o trabalhador de uma microempresa leva para casa, demonstrando um fosso muito grande entre aquilo que se paga nas empresas de maior dimensão e nas startups, por exemplo.
Os dados foram recolhidos pela plataforma de emprego Jobartis, entre 2020 e Junho de 2024 e constam do Relatório Anual sobre Emprego, publicado esta semana pelo Centro de Investigação Económica (Cinvestec) da Universidade Lusíada de Angola.
Os números demonstram que o mercado de trabalho continua marcado por fortes desigualdades salariais, dificuldades de criação de emprego e um peso decisivo da juventude na definição do futuro económico, conforme pontuou ao Expansão o economista e investigador do Cinvestec, Agostinho Mateus. A política salarial das empresas parece bastante caótica sem um padrão lógico bem definido, mostrando um leque salarial desproporcional e pouco incentivador da produtividade.
Segundo o relatório, parece haver uma melhor rentabilidade nas empresas com maior número de trabalhadores e, provavelmente, melhor organização e mais economias de escala, que se reflectem na média dos salários. Contudo, esta proporcionalidade tem uma menor correspondência nos salários mais baixos, onde a regra parece ser a de nivelar por baixo. Talvez exista aqui alguma oportunidade de melhoria.
Se as remunerações nas grandes empresas chegam aos 17 milhões, nas médias um director- -geral pode auferir mensalmente até 10 milhões Kz. Já nas pequenas empresas não passa dos 8 milhões Kz e nas micro fica-se pelos 800 mil Kz. Com isto, os salários mais elevados nas grandes empresas é 21 vezes mais do que o máximo praticado nas microempresas. Já o salário mínimo nas grandes empresas é em média de 135 mil Kz, nas médias de 60 mil Kz e nas pequenas e micro 50 mil Kz.
Motoristas e seguranças
As classes dos motoristas, seguranças e pessoal de limpeza são as mais afectadas pela baixa remuneração. O salário mais baixo na classe dos motoristas é de 50 mil Kz, no caso de trabalhar numa microempresa, e o mais elevado chega aos 410 mil Kz nas grandes empresas. Já na classe dos seguranças, o salário mais baixo também é de 50 mil Kz nas microempresas. Nas pequenas empresas ronda os 60 mil Kz, nas médias o salário mínimo sobe para os 80 mil e chega aos 200 mil Kz nas grandes empresas.
Os dados indicam que a dispersão salarial no mercado nacional é enorme e reflecte a grande desigualdade social que caracteriza a sociedade angolana, na qual os salários mínimos representam 5% do salário médio, sendo 9% nas grandes empresas, 6% nas médias e pequenas e 24% nas microempresas, onde se concentra a maior igualdade salarial entre as empresas.
Directores
Na classe dos directores gerais, o salário mais elevado é de 17 milhões Kz nas grandes empresas e 10,2 milhões Kz nas médias empresas. Nas pequenas, o salário máximo pode chegar aos 8 milhões e nas microempresas não passa dos 800 mil Kz. Em sentido inverso, o salário mais baixo na classe de directores gerais é de 350 mil Kz.
Isto mostra que há igualmente directores gerais a ganhar muito pouco, sendo que a média dos salários dos directores gerais varia em função da empresa, sendo de 9,2 milhões Kz nas grandes, 5,7 milhões Kz nas médias, 3,3 milhões Kz nas pequenas e 517 mil Kz nas microempresas. Em termos gerais, o salário mais elevado dos responsáveis máximos das empresas é 49 vezes superior ao mínimo e 3,5 vezes superior ao médio, traduzindo o fosso que existe entre o salário mínimo e o mais elevado entre as empresas no mercado nacional.
Para Agostinho Mateus, o relatório não se propõe a definir políticas, mas os dados mostram um défice muito grande naquilo que é a criação de postos de trabalho a nível nacional. Sugere por isso a criação de melhores condições para os negócios, investindo em capital humano e promovendo emprego digno. "Cabe às autoridades analisar estas informações e transformá-las em medidas concretas, equilibrando a competitividade com protecção social e salários mais justos.
Leia o artigo integral na edição 845 do Expansão, de Sexta-feira, dia 26 de Setembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)