"Não exportamos mais, porque não produzimos mais"
A fase é de ter uma postura equilibrada e investir o pouco que vão libertando da actividade comercial da empresa. A economia no mundo e em Angola não está boa, diz, lembrando que também é necessário convencer os angolanos a investir no País.
A Novagrolíder é hoje o maior exportador de frutas do País, assumindo-se como um dos maiores produtores agrícolas angolanos. Dê-nos uma ideia da dimensão da empresa.
Direi que é uma empresa média, a caminhar para grande. Temos mais de 4 mil trabalhadores, produzimos um leque de produtos muito grande, mais de 60 produtos, e transformamos alguns deles. Nesta altura, é uma empresa que está a viver com algumas dificuldades inerentes àquilo que se passa no mundo, mas que continua a lutar todos os dias. Continuamos a investir alguma coisa, embora pouco, e continuamos a trabalhar e a levar o projecto para a frente.
Quais são as bandeiras da empresa?
A principal bandeira é a banana. Produzimos em grande quantidade e direi que já exportamos cerca de 30% da nossa produção.
Exportam para onde?
Exportamos fundamentalmente para Portugal. De lá vai para Espanha e outros países, através de distribuidores locais. Na verdade, estamos com muita dificuldade em arranjar transporte marítimo para vários países que nos querem comprar banana. Por exemplo, tivemos negociações com distribuidores russos que queriam a nossa banana, mas não havia navios disponíveis, por causa do boicote, e o negócio não se fez. Neste momento, estamos a negociar com Marrocos. Angola tem este problema da logística marítima, não há ligação a muitos destinos.
Além da logística marítima existem outras dificuldades para exportar?
A nível de documentação, a AGT está a trabalhar, e bem, embora falte muita sensibilidade nos portos. Por vezes, deixam estar a fruta 5/6 horas dentro de contentores ao sol, ao calor, e depois não chega nas melhores condições. Temos tido reuniões, falado, tentado sensibilizar para que os contentores cheguem ao porto e entrem no navio. Se estão inspeccionados, estão selados, a falta de documentação ou o atraso do sistema informático, por vezes, porque não há sistema, não pode contribuir para estragar a qualidade dos nossos produtos.
O processo administrativo de exportação, em si, já é um processo simples?
A nível da AGT, sim. Mesmo a nível do Ministério da Agricultura, do Ministério do Comércio, as coisas têm melhorado. E parece que vai haver, finalmente, um canal informático para poder tratar da documentação, porque também temos de acabar com algumas dificuldades que se colocam aos exportadores.
Além da banana, que outros produtos têm potencial de exportação?
Nós estamos a exportar manga, papaia, pitaya, algum maracujá.
Essas exportações são feitas por avião?
São todas por avião, porque os transit times dos navios não possibilitam que a mercadoria chegue em boas condições a qualquer país aqui próximo.
Isso encarece os produtos?
Por um lado encarece, mas por outro lado também há uma apetência dos produtos importados por avião, porque são colhidos com uma maturação mais avançada, portanto com um paladar melhor, mais doce. A fruta está mais criada, mais própria para comer. Por vezes, a fruta que vai de contentor marítimo está extremamente verde e depois fica ácida. Por exemplo, o abacaxi é um dos casos que nós temos. O nosso abacaxi que vai de avião, para os mercados internacionais, vale mais dinheiro do que o abacaxi que vai de navio.
Temos preços competitivos?
É evidente que há países que têm custos de produção muito mais baixos que nós. Nós dependemos muito de matéria-prima importada nos factores de produção, os adubos, pesticidas, insecticidas, embalagens e até os sacos de plástico. Nós já tentámos várias vezes usar sacos de plástico de produção nacional, têm de ser herméticos, onde vai a banana, mas eles rompem com facilidade e, quando chega lá, o produto está estragado. Somos obrigados a importar. O cartão das caixas, se não for um cartão impermeável, com o frio e a humidade dentro dos frigoríficos, ele derrete-se. Importamos cartão desmontado, vem em placas e nós fazemos aqui a montagem. Temos máquinas para isso.
A banana é um negócio de volume?
Sim, sim. A banana é o fruto mais produzido no mundo e o de maior consumo. É o fruto que todos os supermercados, as grandes superfícies internacionais usam como a bandeira para chamar os clientes pelo preço. Portanto, é sempre um produto barato. Nós vemos bananas em Portugal à venda, às vezes a 80 e tal cêntimos, agora a um euro e pouco, e vemos maçãs produzidas em Alcobaça, na minha região, a dois euros e meio. Quer dizer, a banana que vai de Angola, que vai da Costa Rica, do Equador, chega lá muito mais barata que as frutas produzidas localmente. É mesmo um negócio de quantidade. Ou temos muito volume e tudo corre bem para termos margens pequenas e ganhar um bocado, ou então não dá.
Há outros frutos mais rentáveis. Que produto me aconselhava a produzir que seja mais rentável?
Neste momento, talvez a pitaya. Já se começa a produzir bastante aqui, é um produto que, sendo bem trabalhado, dá uma produtividade bastante boa por hectare e os preços ainda são convidativos para vender nos mercados internacionais.
Fala-se também muito do abacate.
Sim, é outro produto. Tem um preço um pouco mais baixo mas também é produzido em muito maior quantidade. É uma fruta cujo consumo ainda está a crescer no mundo, é também empregue em outras indústrias - cosmética, higiene pessoal, produtos dietéticos - e, por exemplo, o México, que é um grande produtor, está com problemas de água no subsolo por causa do abacate. Nós não temos esse problema, nem se irá colocar no futuro. Nós temos tudo para produzir abacate.
Então porque é que não exportamos mais?
Sabe que exportar exige muita qualidade e os nossos agricultores, em geral, ainda não têm conhecimento, não têm formação para poder produzir para exportação. Vamos ter de formar pessoas, vai ter de haver regras muito bem definidas do processo de produção e dos produtos que se aplicam ao abacate. Qualquer produto que chega à Europa é sujeito a análises para detecção de resíduos químicos e, se ultrapassar os níveis, vai para destruição. E o processo de incineração é mais caro do que a própria fruta. Por vezes, é melhor mandá-la de volta à origem do que destrui-la lá.
Já estão a utilizar o novo aeroporto para exportar?
Ainda não. Continua a ser no 4 de Fevereiro, onde as condições não são boas. Não há um sistema de frio e, por vezes, a fruta fica horas à espera de ser embarcada. É mais um choque térmico que sofre e que é nocivo para a sua qualidade. Há um conjunto de factores que temos de ter, de condições e de conhecimento das pessoas que vão produzir e assegurar a logística dessas frutas para exportação, de forma a que tudo esteja de acordo com as regras que o país comprador exige.
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