Correcções do INE dão mais 166,7 mil milhões ao PIB angolano em dez anos e suavizam recessões
O INE actualizou a metodologia de cálculo do PIB, passando para o manual mais actualizado do FMI, e mudou o ano de base, o que provocou uma "revolução nos cálculos", de acordo com especialistas, que defendem que o instituto deve divulgar a metodologia aplicada para afastar as já habituais desconfianças.
O processo de actualização metodológica das Contas Nacionais do Instituto Nacional de Estatística (INE), que inclui a migração do ano de referência de 2002 para 2015, trouxe alterações substanciais ao Produto Interno Bruto (PIB) nacional medido a preços correntes, já que atribui uma média anual de 16,5 mil milhões USD a mais do que anteriormente, de acordo com cálculos do Expansão.
Nova metodologia tira o petróleo do primeiro lugar dos sectores com mais peso no PIB e duplicou o peso da agro-pecuária. Estas alterações resultam do processo de actualização metodológica do Sistema de Contas Nacionais (SCN), isto é, migração do Sistema de Contas Nacionais (SCN) de 1993 para o SCN de 2008 e a alteração do ano de referência do Produto Interno Bruto (PIB) para 2015.
De acordo com uma nota do INE, esta mudança teve "grande impacto tendo em conta a nova dinâmica da economia" e permitiu actualizar a estrutura de base do PIB, actualizar os coeficientes técnicos, fruto do desenvolvimento tecnológico, bem como actualizar os conceitos e classificações, em função das melhorias dos estudos e actualizar as bases de dados.
Com a base anterior (a última publicada no relatório sobre o IV trimestre de 2024), o PIB angolano acumulado entre 2015 e 2024 foi equivalente a 947,9 mil milhões USD, cerca de 116,7 mil milhões USD a menos do que os 1.114,6 mil milhões USD que resultam da nova metodologia (ver gráfico). E se o crescimento de 2024 de 4,4% foi o maior em dez anos, o de 2022 esteve perto, 4,2%.
Se os dados empurram o PIB para cima, também acabaram por suavizar as recessões consecutivas verificadas entre 2016 e 2020. O PIB é o valor dos bens e serviços finais produzidos num país durante um ano. Só para se ter uma ideia sobre a profundidade das alterações, de acordo com o penúltimo relatório do INE publicado sobre as Contas Nacionais, relativas ao IV trimestre de 2024, medido a preços correntes em kwanzas, o PIB nacional no ano passado teria sido de 81,1 biliões Kz, mas com a correcção publicada agora relativa ao I trimestre deste ano, o PIB de 2024 passou a ser de 101,3 biliões Kz, quase 20 biliões a mais, o que medido em dólares representa mais 23,2 mil milhões USD, à taxa de câmbio média do ano.
E se o crescimento económico registou ganhos significativos com as correcções - veja-se o ano de 2022 que passou de 3,0% para 4,2% - também as recessões económicas consecutivas entre 2016 e 2020 ficaram a "ganhar", já que ficaram mais suaves face aos valores até agora oficiais.
Por exemplo, a variação homóloga do PIB no final de 2020 passa de -5,6% para -4,0%. Mas as correcções não foram apenas ao nível da variação do PIB e do PIB nominal a preços correntes. Isto porque, operou-se, num só relatório, a uma transformação da economia nacional, já que os dados do INE revelam que, afinal, a economia será mais diversificada do que se pensava.
Edição 829 do Expansão, de Sexta-feira, dia 06 de Junho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)