Excesso de oferta global volta a dominar o mercado petrolífero
A procura cresce a um ritmo moderado e desigual mas a oferta mantém-se robusta, sustentada por novos projectos em todo o mundo. Para o período entre o final de 2025 e os primeiros meses de 2026, a Agência Internacional de Energia projecta um superávit médio global próximo de 3,7 a 3,8 milhões de barris/dia.
O mercado petrolífero internacional voltou a ser dominado, nos últimos meses, pela narrativa do excesso de oferta, apesar dos esforços coordenados da OPEP+ para restringir a produção e do persistente risco geopolítico em várias regiões estratégicas.
A conjugação entre produção resiliente fora do cartel, crescimento moderado da procura e níveis elevados de crude acumulado tem pressionado os preços e reforçado a percepção de que o equilíbrio do mercado continua frágil. Este facto acaba por expor a fragilidade estrutural dos países fortemente dependentes das exportações de crude, como Angola. Um dos sinais mais claros deste desequilíbrio é o volume de petróleo armazenado em navios, frequentemente designado como "stock flutuante".
Estimativas recentes apontam para mais de 1,4 mil milhões de barris em trânsito ou ancorados no mar, um valor significativamente acima da média histórica e próximo dos níveis registados durante o choque da pandemia em 2020. Parte relevante deste volume resulta da dificuldade de escoamento de crude proveniente de países sob sanções internacionais, como a Rússia, o Irão e a Venezuela, cujas exportações recorrem cada vez mais a frotas paralelas e a rotas opacas, atrasando a chegada aos mercados consumidores.
A Agência Internacional de Energia (AIE) tem vindo a sublinhar este fenómeno nos seus relatórios mensais. Segundo a agência, os stocks observados de petróleo bruto atingiram máximos de quatro anos, impulsionados sobretudo pelo aumento do crude "on water". Para o período entre o final de 2025 e os primeiros meses de 2026, a AIE projecta um superavit médio global próximo de 3,7 a 3,8 milhões de barris por dia, reflectindo uma oferta que cresce mais rapidamente do que a procura. Mesmo com revisões ligeiras em baixa para o crescimento da produção, a agência mantém a convicção de que o mercado caminhará para um novo ciclo de excesso estrutural.
Para países como Angola, esta leitura tem implicações directas. A economia angolana permanece altamente dependente do petróleo, que continua a representar a maior fatia das exportações, das receitas fiscais e da entrada de divisas.
Num contexto de excesso de oferta global, cada dólar perdido no preço do barril traduz-se numa compressão imediata da margem orçamental, agravando a pressão sobre o financiamento do Estado, a gestão da dívida pública e a disponibilidade de divisas para a economia.
A proposta do OGE 2026 assume um preço de 61 USD/barril, mas nesta altura o preço Brent já está abaixo dos 60 USD e as previsõesapontam que possa cair até aos 54 USD/barril nos próximos meses.
A produção prevista no documento é de 1,050 milhões barris/dia, está muito próxima dos valores actuais e a tendência é que possa cair entre 8 e 10% até ao final do ano. Por isso, o cumprimento da meta das receitas petrolíferas para 2026 avizinha-se como muito difícil.
Divergência entre a OPEP+ e a AIE
Em contraste com a visão da AIE, a OPEP apresenta uma leitura mais optimista. No seu relatório mais recente, o cartel defende que o mercado estará globalmente equilibrado em 2026, com crescimento sustentado da procura, sobretudo nos países emergentes da Ásia, África e Médio Oriente. Esta divergência não é nova e reflecte abordagens distintas: enquanto a AIE privilegia uma análise agregada de balanços globais e stocks visíveis, a OPEP tende a valorizar a procura estrutural de longo prazo e os riscos de subinvestimento no upstream. No plano da política de produção, a OPEP+ optou por manter os cortes em vigor e adiar qualquer aumento significativo da oferta pelo menos até Março de 2026.
A decisão traduz o receio de que uma flexibilização prematura possa aprofundar a pressão descendente sobre os preços, num momento em que vários países produtores enfrentam constrangimentos orçamentais. Ainda assim, o mercado permanece céptico quanto à eficácia destes cortes, dada a fraca taxa de cumprimento de alguns membros e o crescimento contínuo da produção fora do cartel, nomeadamente nos EUA, Brasil, Guiana e Canadá.
Este contexto tem-se reflectido na evolução dos preços. O Brent e o WTI registaram várias semanas de quedas acumuladas, com perdas superiores a 4% em alguns períodos, interrompidas apenas por recuperações pontuais associadas a eventos geopolíticos.
A perspectiva de um eventual abrandamento económico global, aliada às tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, continua a pesar sobre as expectativas de procura futura. Apesar disso, os factores de suporte do preço não desapareceram.











