Famílias angolanos estão mais pessimistas face à evolução da economia do que no ano passado
O pessimismo que se verifica no seio das famílias resulta da deterioração das condições de vida, um cocktail formado por falta de empregos, falta de salários e custo de vida cada vez mais alto. As famílias não consomem, não investem e não poupam. À boleia vem a fome, a revolta e a violência social.
Após atingir, no final ano passado, o nível mais baixo de 2019, o pessimismo dos consumidores sobre a evolução da economia acelerou no I trimestre deste ano. Nos primeiros três meses de 2025, os consumidores apresentaram-se mais pessimistas face ao período homólogo, já que o Inquérito de Conjuntura do Consumidor (ICC) nacional passou de -14,1 para -16,7 pontos no primeiro trimestre, uma diferença de 2 pontos, o que demonstra que as famílias angolanas estão mais pessimistas sobre a situação económica e financeira do País do que no ano passado, segundo o indicador publicado pelo INE.
Esta situação resulta do contributo negativo de algumas das variáveis que compõem o indicador, nomeadamente a opinião sobre a situação financeira das famílias nos próximos 12 meses, que caiu de -13,0 para -15,8, bem como a opinião sobre a situação económica do País nos próximos 12 meses, que também caiu para -7,7, quando no I trimestre do ano passado estava em -6,8 pontos.
O indicador que mede a confiança do consumidor nacional está em terreno negativo há pelo menos sete anos, depois de ter fechado 2024 em valores de pessimismo muito próximos dos que foram registados em 2020, ano da pandemia da Covid-19, em que a economia nacional registou um afundanço de 5,6%, o maior em mais de duas décadas. Embora em terreno negativo, no I trimestre deste ano, o indicador de confiança do consumidor inverteu a tendência decrescente após oito trimestres consecutivos de queda.
O ICC tem como objectivo obter a opinião dos agregados familiares face a vários aspectos da conjuntura económica e permite avaliar o nível ou o grau de confiança das famílias angolanas no que concerne à situação económica e financeira do País e dos agregados familiares.
O pessimismo que se verifica no seio das famílias resulta da deterioração das condições de vida, um cocktail formado por falta de empregos, baixos salários e custo de vida cada vez mais alto e, por isso, as famílias não consomem, não investem e não poupam. À boleia vem a fome, a revolta e a instabilidade social.
Uma fonte do Expansão ligada à banca entende que as famílias estão mais pessimistas porque a situação económica do País piorou. "Parece um contra-senso, quando sabemos que, por exemplo, o PIB cresceu 4,4%. Apesar do PIB ter crescido, não houve melhoria na qualidade de vida dos cidadãos, pelo contrário, houve deterioração da qualidade de vida. Isso é visível porque a inflação continuou a crescer".
Já o economista Heitor Carvalho aponta que esta "deterioração, resulta não apenas pela inflação existente, mas também pelas perspectivas associadas à redução dos rendimentos petrolíferos e à redução dos subsídios aos combustíveis", que tiveram impactos directos no aumento do custo de vida das pessoas.
"A principal consequência é o desespero e a explosão social a que acabámos de assistir. Não resolver o problema que gerou essa explosão só agravará e radicalizará as explosões subsequentes", apontou. Por isso, entende que deve-se "parar, negociar e perceber que nada se resolve sem satisfazer as mínimas reivindicações populares (manutenção do preço do táxi e autocarro) e sem promover as empresas e o emprego, o que se resolve fundamentalmente com medidas de alteração do ambiente de negócios e não com dinheiro (embora o crédito também seja necessário)", explicou.
O "pessimismo" das famílias angolanas tem se materializado, nos últimos dias, com a população a sair em massa às ruas de Luanda e outras províncias devido ao cenário económico do País. A título de exemplo, no dia 19 de Julho milhares de cidadãos saíram em pretextos a subida dos combustíveis. Duas semanas depois, os taxistas anunciaram uma paralisação de três dias, a população voltou à rua e o cenário foi pior, já que muitos aproveitaram o momento para cometer actos de pilhagem e vandalismo, que acabaram por "beliscar" a imagem do País, dificultar a mobilização de investimento estrangeiro e quebrar a confiança dos empresários.
Mais desemprego e inflação
O indicador calculado pelo INE demonstra também que as famílias estão mais pessimistas face ao período homólogo no que diz respeito ao desemprego e aos preços dos bens e serviços nos próximos 12 meses.
Só para se ter uma ideia, a previsão de subida do nível de desemprego nos próximos 12 meses aumentou de 25,1 pontos no primeiro trimestre do ano passado para 29,6 pontos no mesmo período deste ano, o que significa que as famílias esperam mais desemprego no curto prazo. Apesar disto, o saldo das expectativas sobre o desemprego no País para os próximos 12 meses registou uma redução no primeiro trimestre de 2025, contrariando a tendência crescente trimestral que se vinha registando desde o quarto trimestre de 2022.
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