País produziu menos 74,7 mil barris por dia face ao previsto no OGE 2025
Problemas técnicos e trabalhos de conexão à plataforma de produção de petróleo FPSO Pazflor estiveram na base da queda na produção de petróleo nos blocos 17 e 18. Para atingir as projecções do Orçamento Geral do Estado de 2025, Angola teria de produzir 178,3 mil barris/dia a mais entre Agosto e Dezembro face à produção dos primeiros sete meses.
Angola produziu em média apenas 1,023 milhões de barris de petróleo por dia nos primeiros sete meses do ano, de acordo com cálculos do Expansão com base em dados da ANPG. Desta forma, o País produziu menos 74,7 mil barris/dia face à projecção de 1,098 barris/dia de média diária presente no relatório de fundamentação do Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2025.
Só em Julho, a produção média diária foi de cerca de 999 mil barris, baixando pela primeira vez em 28 meses a barreira psicológica dos 1,000 milhões de barris/dia (ver gráfico). Mas esteve próximo dessa meta negativa nos meses de Abril (1,002 milhões de barris/dia) e Junho (1,003 milhões/dia).
De acordo com cálculos do Expansão, para atingir os 1,098 milhões de barris/dia previstos no OGE, entre Agosto e Dezembro os poços petrolíferos angolanos terão de subir a sua produção para uma média diária impensável de 1,201 milhões de barris, ou seja, mais 178,3 mil barris/dia nos próximos cinco meses face aos primeiros sete meses, atirando a produção angolana, que está em declínio há vários anos, para patamares de produção do ano de 2020, quando ainda produzia acima dos 1,2 milhões de barris diários.
E se do lado da produção o cenário é negativo, as projecções para os preços nos próximos meses não são positivas. Apesar de no I semestre a média ter rondado os 71,6 USD, actualmente cada barril é vendido a cerca de 66 USD, abaixo dos 70 USD que o Governo inscreveu como média de valor de exportação, projectando receitas fiscais com o "ouro negro" na ordem dos 10,9 biliões Kz. Face à queda da produção, e também do preço médio, nos primeiros seis meses do ano os cofres públicos receberam 4,6 biliões Kz em receitas fiscais petrolíferas, o que dá uma execução de 42% face à projecção de receita para todo o ano.
Caso tivesse atingido os 50% de execução, teriam de ter recebido mais cerca de 872,0 mil milhões Kz, de acordo com cálculos do Expansão com base nos relatórios de execução orçamental do I e II trimestres, publicados no site do Ministério das Finanças.
Angola abandonou a OPEP em Dezembro de 2023 após um desacordo sobre a sua quota de produção de petróleo. Na altura, o País protestou contra uma quota imposta pela OPEP+ de um tecto de 1,2 milhões por dia. No entanto, de lá para cá o País nunca conseguiu atingir a meta do cartel, o que coloca dúvidas sobre as reais motivações da saída do País da organização.
Declínio da produção
Entretanto, o País enfrenta grandes desafios com a produção petrolífera, cujos índices de produção vêm diminuindo drasticamente nos últimos tempos a uma taxa de 10 a 15% ao ano, de acordo com especialistas. A causa deste declínio resulta, fundamentalmente, da falta de investimento, do envelhecimento de alguns poços, mas também devido a questões relacionadas com a manutenção de equipamentos que, por vezes, provocam interrupções na produção durante vários dias.
Segundo Patrício Quingongo, a redução significativa no investimento directo na indústria petrolífera é em média de 6% ao ano, evidenciado pela ausência de novas descobertas de petróleo, lembrando que nos tempos áureos da produção petrolífera tínhamos um investimento de 16 mil milhões USD/ano no desenvolvimento de novos campos.
Entretanto, o especialista José Oliveira explicou que duas situações estiveram na base da queda na produção do mês de Julho. No bloco 17, por exemplo, a média de produção reduziu cerca de 21.000 barris/dia devido a trabalhos de conexão ao FPSO Pazflor, que é um navio especializado que serve como uma plataforma de produção de petróleo e gás no mar do campo de Begónia, que é o primeiro projecto de produção de petróleo submarino "interblocos" no País, que conecta poços de petróleo de blocos diferentes a uma unidade flutuante de produção FPSO.
Por outro lado, no mesmo período surgiram alguns problemas técnicos nos FPSO Girassol e Clov enquanto no bloco 18 a perda foi de 19.600 de barris/dia devido a uma avaria grave no FPSO Plutónio, que obrigou a uma paragem de 8 dias.
No entanto, o especialista enfatiza que a produção média diária neste segundo semestre poderá ser superior à do primeiro semestre com a entrada em produção do Begónia e da Fase II do Clov, mas alerta que apesar disso, este ano será difícil atingir uma média superior a 1,060 milhões de barris por dia, o que é inferior à média projectada pelo Governo no OGE 2025.
Leia o artigo integral na edição 841 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Agosto de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)