Lucros da banca comercial disparam 63% para 539,3 mil milhões Kz no I semestre
Apenas três bancos detêm 70% dos resultados, nomeadamente, BAI, BFA e Standard Bank. O BAI teve o melhor desempenho e acumula os títulos de maior banco em activos, de líder do crédito e de campeão dos lucros. Os resultados são fundamentalmente suportados pelos rendimentos com títulos de dívida pública, principal instrumento de investimento da banca.
Os 20 bancos comerciais com os balancetes publicados contabilizaram, no primeiro semestre deste ano, um lucro conjunto de 539,3 mil milhões Kz (cerca de 591,4 milhões USD), o que representa um crescimento de 63% face aos 329,9 mil milhões Kz registados no mesmo período do ano passado, de acordo com cálculos do Expansão com base nos balancetes do II trimestre. Contas feitas, a banca comercial lucrou mais 209,4 mil milhões Kz em relação ao período homólogo.
Como de costume, os resultados da banca foram influenciados pelo aumento dos investimentos em títulos de dívida pública, o principal instrumento de investimento da banca angolana, depois de no I semestre do ano passado terem registado uma queda de 5%. Só para se ter uma ideia, os investimentos em títulos de dívida pública, que representam 35% do activo total dos bancos, cresceram 21% para 8,5 biliões Kz (+1,5 biliões Kz).
E na base está a maior disponibilidade de títulos, já que o Governo emitiu mais dívida pública nos primeiros seis meses deste ano do que no período homólogo. No primeiro semestre, o Executivo emitiu (no mercado primário) cerca de 1,7 biliões Kz (+ 341,0 mil milhões Kz), ou seja, um crescimento de 26% face aos 1,3 biliões Kz do mesmo período do ano passado. O facto é que os bancos continuam a preferir aplicar os seus recursos em títulos de dívida pública em detrimento do crédito à economia. As razões são as mesmas: o elevado malparado do País que no final de 2024 era de 19,2% sobre o crédito bruto da banca.
Isto, segundo o economista e consultor financeiro, Alberto Vunge, reflecte o facto de a banca não ter ainda observado o "ponto de inflexão" na percepção dos níveis de risco da economia. O que significa que os bancos vão continuar a ter a conservação de capital como o dito "first best" (a melhor opção de investimento).
"Actualmente o investimento em títulos públicos, pelo seu baixo nível de risco de crédito, é um bom meio de conservação de capital por um lado. E, por outro, o investimento em títulos públicos demanda menos capital para fazer face a riscos não esperados se comparado ao crédito". Assim se evitam os custos de oportunidade de ter estes capitais parados e melhoram os rendimentos de económicos na actividade bancária.
BAI, BFA e SBA detêm 70% dos lucros
Assim, a empurrar o lucro do agregado para cima está o BAI, que regressou ao topo do pódio depois de ser ultrapassado pelo BFA no ranking dos mais lucrativos em 2024. O banco liderado por Luís Lélis viu os lucros dispararem 278% para 189,4 mil milhões Kz (+139,2 mil milhões Kz) apenas no primeiro semestre, ou seja, os lucros quase quadruplicaram. Segue-se precisamente o BFA, que registou um aumento de 29%, ao passar de 89,5 mil milhões Kz para 115,5 mil milhões (+25, mil milhões) e o Standard Bank, que viu os lucros crescerem 35% para 70,9 mil milhões Kz (+18,5 mil milhões). Contas feitas, estes três bancos são responsáveis por 70% dos lucros da banca comercial nos primeiros seis meses do ano. Assim, dos 20 bancos comerciais que operam em Angola, apenas o banco Económico registou prejuízos. Mas isto não é novo, o ex- -BESA, que está em falência técnica há seis anos, tem tido prejuízos consecutivos há três anos, tendo registado no I semestre deste ano um resultado líquido negativo na ordem dos 673 milhões Kz. Ainda assim, o prejuízo é inferior aos 38,6 mil milhões Kz de perdas registadas no período homólogo.
Importa referir que no primeiro semestre do ano passado, a banca contava ainda com as operações do Standard Chartered Bank Angola (SCBA) e do VTB África. O SCBA fez a fusão com o Access Bank Angola (Access) depois de o accionista decidir encerrar as actividades em África, ao passo que o russo VTB encontra-se em liquidação após dissolução voluntária dos accionistas.
Fora das contas totais está igualmente o BDA, já que não faz parte da banca comercial e destina a sua a actividade ao apoio do desenvolvimento. Ainda assim, o banco público registou prejuízos de 26,2 mil milhões Kz no I semestre deste ano.
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