Hotelaria em baixa aponta à entrada de cinco novas unidades de luxo
Especialistas acreditam que a baixa taxa de ocupação situada em 38% espelha a insuficiente procura do mercado e parece não haver espaço nem condições para receber novas unidades de alojamento. Mas estas já estão em curso e com previsões de entrada em funcionamento nos próximos três anos.
O mercado hoteleiro vai contar nos próximos três anos com a entrada de cinco novas unidades de alojamentos de luxo que estão neste momento em construção na cidade de Luanda, constatou o Expansão. Tratam-se de um hotel cinco estrelas da rede hoteleira Meliá, um hotel da cadeia Sheraton, o Centro de Convenções da Chicala, e dois hotéis do grupo Hilton, todos com previsão de abertura entre este ano e 2028.
A chegada destas novas unidades acontece numa altura em que a taxa de ocupação deste segmento hoteleiro é de apenas 38% (conforme indica a consultora Abacus no seu relatório anual sobre o mercado imobiliário angolano em 2024), o que espelha um nível de procura ainda insuficiente face ao esperado. A Abacus indica que o actual estado da procura, em baixa, está em linha com o ambiente económico e não permite que as taxas de ocupação sejam as desejáveis.
Assim, o empresário Carlos Cunha, é proprietário do Hotel Portugália em Malange, acredita que não há mercado para receber novas unidades de alojamento, já que aquelas que existem não têm nem 50% dos alojamentos ocupados. "Se nós temos uma taxa de ocupação de 38% a nível nacional, não vejo razão para que haja construções de mais hotéis na cidade de Luanda. E uma vez que este negócio está muito centralizado na capital, devíamos disseminar estes investimentos pelo País em pequena escala. É necessário que se melhorem as vias de acesso às províncias e às estradas nacionais. Teríamos rentabilidades maiores se o fluxo de pessoas pelo país fosse, ou correspondesse à vontade de cada cidadão. Obviamente que os índices de ocupação, por esta razão e outras, estejam nos níveis em que estão" explica.
Por outro lado, sendo o negócio principal dos hotéis a hospedagem, e com uma taxa de ocupação tão baixa, são os serviços adjacentes que assistem à hotelaria, como restauração, por exemplo, que permitem asseguram a sua sobrevivência. "Isto tudo congrega um certo valor que conquista o cliente. Mas depois há outros problemas que não permitem que a hotelaria cresça a nível nacional. A verdade é que o índice de ocupação é bastante baixo, para aquilo que se necessita. Deveríamos ter, no mínimo, uma ocupação mensal na ordem dos 70%, que é o que nos permite sobreviver" esclareceu o empresário.
É também importante frisar que em Luanda, além da hospedagem, os principais hotéis de referência estão muito virados à ocupação de salas para a realização de eventos. Carlos Cunha, concorda que depois da hospedagem a realização de eventos é um dos grandes negócios dos hotéis, pelo menos na capital do País. "Isso é uma grande valia para as unidades que estão em Luanda. Já as que estão nas outras províncias não têm esta utilidade, o que não justifica, tendo em conta o movimento e a entrega que há, ter adjacentes a essas unidades hoteleiras salas de eventos que acarretam custos de manutenção" concluiu.
Por outro lado, o presidente da Associação de Hotéis e Resorts de Angola (AHRA), Ramiro Barreira acredita que a construção de novos hotéis é necessária para dar resposta ao crescimento do turismo internacional e interno a longo prazo. "A perspectiva de crescimento do turismo é muito alta. A perspectiva nos próximos anos é atingir cerca de 6 milhões de turistas internacionais no novo aeroporto. As perspectivas também para a circulação das pessoas a nível do turismo interno é de que vai crescer nos próximos anos. O que significa que vamos ter necessidade de mais alojamento. temos que olhar o sector hoteleiro projectando para o curto, médio, e longo prazo" explicou.
Quanto a taxa de ocupação, continuou o responsável, 38% é a média geral. "Há hotéis que devem atingir os 50% ou 70% em determinados períodos. Nos períodos de feriados os hotéis chegam a atingir os 80%, 90% ou mesmo 100% nos períodos prolongados. Mas o problema é que há hotéis, por exemplo em Luanda, que diariamente têm uma taxa de ocupação alta. Mas no interior do País têm taxas muito baixas. Chegam a estar na ordem dos 15% ou 20% durante a semana, para não falar até mesmo 10%. Para estes, é com muito sacrifício que conseguem pagar os custos operacionais. Ao nível da manutenção, equipamentos, energia elétrica, água, etc" esclareceu o responsável.
Ainda assim, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2023 a facturação dos hotéis cresceu na ordem dos 111% em relação ao período homólogo ao atingir 153,5 mil milhões Kz contra os 72,8 mil milhões Kz de 2022. O sector hoteleiro foi responsável, neste período por 44% dos lucros do sector da hotelaria e turismo em 2023.
Projectos de luxo em construção
Entre os grades projectos do sector hoteleiro em curso na capital do País, consta um hotel de cinco estrelas com 250 quartos da rede hoteleira espanhola Meliá Hotels International em parceria com a Hoti Hotéis, com previsão de abertura para 2028, localizado no Complexo Waterfalls, junto à Fortaleza de São Miguel. Será denominado Meliá Luanda, um investimento avaliado em 70 milhões USD.
Leia o artigo integral na edição 848 do Expansão, de sexta-feira, dia 17 de Outubro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)