Operadores inexperientes "emperram" exploração de Oil & Gás no onshore
Na maior parte dos blocos operados por novos operadores que vêm de outros sectores como minas e consultoria ainda não se fez nada. Nem sequer uma reunião dos membros dos grupos empreiteiros, admitem fontes. Nos blocos operados pelos novos MTI energia e Mineral One está tudo parado.
A faltar apenas um mês para completar dois anos desde a assinatura dos contratos dos primeiros blocos onshore das bacias do Kwanza e do Baixo Congo investidores reclamam que a exploração nestes activos está paralisada em quase todos, apurou o Expansão. Uma boa parte dos operadores vêm de outros sectores como minas e consultoria, não têm experiência em petróleo, e emperram arranque, admitem fontes do sector.
Dos nove blocos entregues aos grupos empreiteiros pela Agência Nacional de Petróleo Gás e Biocombustíveis (ANPG) em Agosto de 2021, o Expansão apurou que apenas um está em condições de cumprir os quatro anos do programa de trabalho no contrato assinado.
Trata-se do Bloco CON1 localizado na Vila petrolífera do Soyo na província do Zaire e que é operado pela Etu Energias (Ex-Somoil). O grupo empreiteiro já aprovou o Joint Operation Agreement (JOA)e o programa de trabalho e orçamento para os quatro anos de exploração.
Neste bloco, que é vizinho de outro já em produção, o FST - também operado pela Etu Energias - a concessionária ANPG já aprovou o programa de trabalhos.
Aliás, neste bloco os trabalhos estão tão avançadas que se prevê começar a produzir em quatro anos, período de tempo curto se comparado aos até oito necessários para concluir as fases de exploração, desenvolvimento e produção. Segundo o PCA da ETU energias, Edson dos Santos, "no CON1 mantemos a meta de começar a produção até 2025 ". A contribuir para encurtar os prazos de exploração desenvolvimento e produção para quase metade do tempo necessário são o conhecimento do activo aliado ao facto de já existir um bloco em operação ao lado e que produz 6.000 barris de petróleo por dia e que pertence ao mesmo operador, o que vai permitir partilhar as infra-estruturas de produção. Este facto permitirá aos parceiros do Bloco CON1 poupar tempo e dinheiro, já que na fase de desenvolvimento (após a descoberta comercial) não será necessário montar infraestruturas de produção de raiz.
Mas o mesmo não acontece nos outros blocos entregues aos grupos empreiteiros pela Agência Nacional de Petróleo Gás e Biocombustíveis em Agosto de 2021. Fontes e investidores do sector ligadas a estes blocos confirmaram ao Expansão que na maioria dos blocos "está de facto tudo parado". Estão, assim, criadas as condições para atrasar a contribuição destes blocos petrolíferos para a estabilização da produção em Angola que se encontra em declínio. O País chegou a produzir quase dois milhões de barris de petróleo por dia em 2014 e hoje luta para manter a produção acima de um milhão de barris de petróleo.
Os especialistas, que pedem anonimato para evitar represálias, esclarecem que o prazo normal para os blocos em terra saírem da exploração (fase de procura por petróleo e que termina com ou sem descoberta comercial) são quatro a cinco anos em linha com o que está nos contratos assinados.
Caso na fase de exploração em que se fazem os estudos do bloco e a perfuração dos poços se faça uma descoberta comercial avança-se para a fase de desenvolvimento em que se constroem as infraestruturas de produção. Esta fase pode levar de um a três anos. Findos estes quase oito anos, normalmente começa a terceira e ultima fase, a produção. Aliás, segundo os especialistas, um investimento na fase de exploração num bloco em terra pode custar até 10 milhões de dólares.
"Praticamente já só faltam dois anos de contrato para exploração e na maior parte dos blocos operados por novos operadores que vêm de outros sectores como minas e consultoria ainda não se fez nada. Nem sequer uma reunião dos membros dos grupos empreiteiros foi convocada até agora o que é grave e preocupante" Refere fonte do Expansão.
De acordo com a mesma fonte o facto de a operação dos referidos blocos ter sido entregue a empresas sem experiência de exploração e produção no sector petrolífero é a base dos problemas. "Um país que precisa urgentemente de aumentar as descobertas comerciais e trazer novos barris de petróleo em produção para travar ao declínio não se pode dar a este luxo porque até se pode ao final dos quatro anos de exploração renovar o contrato de exploração por igual período, mas o problema é o tempo que não se tem. Já que é urgente que as campanhas de exploração lançada pelo Executivo apresentem resultados" esclarece.
(Leia o artigo integral na edição 731 do Expansão, desta sexta-feira, dia 30 de Junho de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)