Há pessoas - e talvez você seja também uma delas - que, quando não conseguem resolver um problema, em vez de ficarem horas focadas no mesmo, resolvem desligar-se e ir fazer algo totalmente distinto, como relaxar, caminhar, ler banda desenhada, ver uma comédia, andar de motorizada, ir à praia, ouvir música ou ver alguns vídeos no YouTube. Durante esse período, estas pessoas não pensam, conscientemente, no problema que querem solucionar. Desconectam-se completamente. E depois, quando voltam a encarar o tema: já têm a solução! Isso porque o inconsciente ficou a processar, analisar e trabalhar naquele tema que parecia muito difícil e complexo de resolver. A esse processo cognitivo inconsciente chama- -se incubação.

O tempo de incubação varia. Um paciente disse-me que, quando tem um problema administrativo complexo, pensa nele, lê a documentação, e depois larga o computador e vai ao cinema. Concentra-se no filme e em mais nada. Quando regressa ao computador, já tem a solução. Uma paciente minha, por sua vez, contou-me que, depois de reprovar no exame de condução, ficou um ano noutro país, sem conduzir e sem pensar no assunto. Depois de um ano regressou, fez o exame e passou. "O mais incrível, doutora - disse - é que eu realmente aprendi a conduzir sem saber como! No ano passado reprovei porque nem sequer sabia pôr a primeira mudança para arrancar com o carro!".

Um dos primeiros e mais influentes estudos sobre o tema foi realizado pelo psicólogo social e filósofo britânico Graham Wallas, no seu livro "The Art of Thought" (A Arte do Pensamento), publicado em 1926. Nesta obra, Wallas identifica quatro etapas do processo criativo:

01. PREPARAÇÃO | Etapa de familiarização com o problema ou tarefa.

02. INCUBAÇÃO | Etapa em que o indivíduo se afasta do problema e permite que a mente trabalhe de forma totalmente inconsciente.

03. LUMINAÇÃO | Etapa em que o indivíduo tem uma ideia, um insight, uma solução.

04. VERIFICAÇÃO | Etapa em que o indivíduo testa e valida a ideia.

Desde então, muitos outros pesquisadores se têm dedicado ao estudo do processo de incubação e a sua relação com a criatividade, a resolução de problemas e a cognição.

Como funciona o processo de incubação? Face a um problema que não conseguimos resolver, ou uma ideia que não surge, uma solução criativa que não conseguimos ter, uma perspectiva nova de que precisamos, lemos, analisamos, pensamos, investigamos, e depois fazemos uma pausa deliberada. Paramos de pensar na questão. Dedicamo-nos a uma outra actividade que nos permita desligar do tema que precisamos de solucionar. Esta pausa permite que o nosso inconsciente comece a trabalhar no tema, processando as informações, testando possibilidades, fazendo conexões e associações. E depois, aparentemente "do nada", temos um insight, uma visão clara do tema, uma solução criativa inesperada.

Diz-nos a psicóloga organizacional Maria José Futa (LinkedIn): "Provavelmente tem ouvido muitas pessoas relatarem que as melhores ideias de projectos ou estratégias lhes têm surgido durante o banho, enquanto cozinham ou inclusive quando estão a treinar. Tendemos a acreditar que essas ideias surgem do nada. Mas, na realidade, nada surge do nada. Trata-se de um processo de incubação".

Nada surge do nada, e mesmo quando acreditamos que não estamos a fazer nada, o nosso inconsciente pode estar a trabalhar para nós!

Há várias vantagens em percebermos - e permitirmos - este processo cognitivo. Através da incubação, conseguimos resolver problemas, perceber tarefas, compreender textos complexos, aumentar a nossa criatividade, encontrar soluções inovadoras. Ao permitirmos pausas e nos desligarmos do problema, a mente pode trabalhar de forma mais eficaz, num nível inconsciente. A incubação permite também a redução do stress e da ansiedade associados à necessidade de resolver uma tarefa complexa. Sabendo que desligar ajuda, podemos parar de olhar para o problema cheios de preocupação e nervosismo, e podemos permitir-nos descansar.

Leia o artigo integral na edição 840 do Expansão, de Sexta-feira, dia 22 de Agosto de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)