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Grande Entrevista

"A Angonabeiro só faz sentido existir se houver agricultores em Angola que produzam café"

RUI MIGUEL NABEIRO PRESIDENTE EXECUTIVO DO GRUPO NABEIRO-DELTA CAFÉS

A empresa assinala 25 anos de presença no mercado nacional, com o CEO a acreditar que o País pode voltar a constar na lista dos maiores produtores de café do mundo. Para isso, basta que haja estímulos para que as pessoas pratiquem a agricultura no País. Angola tem um peso de 10% na facturação do maior produtor de café português.

A Angonabeiro entrou em Angola com o propósito de apoiar a recuperação da fileira do café. Que passos têm sido dados e como é que estão a correr até hoje?

O desafio que foi lançado à minha família nessa altura foi, em primeiro lugar, recuperar esta fábrica, onde celebramos já 25 anos de vida. O desafio, por um lado, era recuperar a fábrica, naturalmente que o grande propósito era podermos ajudar na recuperação da produção de café em Angola e isso tem vindo a ser feito. Hoje acabamos por ter um volume de exportação de café verde muito interessante a partir daqui e que enviamos para Campo Maior, onde temos a nossa outra fábrica. Temos apenas duas fábricas, a fábrica principal que está em Campo Maior, onde é a nossa sede, onde o meu avô nasceu e onde fundou a sua empresa. Angola é a nossa segunda casa, a seguir a Campo Maior. Parte deste café é para o consumo nacional.

Por isso....

Diria que é um caminho muito consistente, um caminho em que as nossas equipas aqui apoiam muito os agricultores, hoje já chegamos a 40 mil famílias que produzem café. Apoiamos através de formação, apoiamos com a compra por um preço justo, também através de investimentos nalgumas regiões, furos de água que são importantes para a irrigação das terras, ajuda nas sementes que têm de ser compradas, no estímulo para que as pessoas não abandonem as terras. Porque a Angonabeiro só faz sentido existir se houver agricultores em Angola que produzam café.

E o futuro, o que perspectiva?

Temos de ter muita gratidão com aquilo que aconteceu nestes 25 anos. Foram 25 anos de crescimento sólido, 25 anos de uma empresa em Angola é, de facto, um valor que merece, digo eu, algum respeito. Mas isso acontece também porque temos feito um trabalho muito sólido, com muita consistência, com muita persistência em que vamos estando muito próximo dos nossos clientes, que são essenciais para este caminho. Portanto, a grande perspectiva que nós temos é de continuar a crescer, hoje o grupo não vende só café aqui, já vendemos outros produtos, desde água, trazemos os cafés do grupo, nossos vinhos, um portfólio de produtos muito interessantes. Naturalmente que Angola, para nós, é um centro muito importante em África.

Angola já foi um dos maiores produtores de café mundial. Na sua opinião, é possível Angola voltar a ocupar este lugar?

Penso que é algo que depende muito da vontade que os angolanos têm, porque as condições estão lá, de facto. Temos um terreno óptimo, a terra é fértil. Há muita área útil agrícola. Ao fim destes 25 anos aqui em Angola sabemos que há uma boa base sólida de produtores de qualidade capazes de fazer crescer essa capacidade produtiva. Acho que era importante e uma oportunidade para o País. O consumo de café no mundo continua a crescer, o que é bom para o nosso negócio e isso representa uma boa oportunidade. Do nosso lado tudo faremos e continuaremos a fazer para apoiar e formar novos agricultores, famílias que se queiram dedicar ao café, com uma certeza que eu acho muito importante, que a Angonabeiro é compradora deste café, de certeza absoluta. Portanto, quanto mais café houver, mais café compraremos, estamos nesta senda de apoiar porque a vida do torrefator de café tem de viver em simbiose com o agricultor. Se não houver café verde, não temos a matéria-prima para produzir. Nós precisamos muito que haja agricultores que queiram fazer este trabalho, que se queiram dedicar a esta vida para termos a nossa matéria-prima.

O que era preciso?

Basta querer, basta vontade dos angolanos, em particular, em quererem fazer acontecer, em quererem dedicar-se a esta profissão tão bonita, que é a agricultura. Na verdade, não é só um tema de Angola, mas do mundo inteiro. O abandono da agricultura é uma realidade e as pessoas rumam para as grandes cidades, o que é uma pena, porque de facto a oportunidade agrícola é muito grande. Temos é talvez de estimular as pessoas que queiram dedicar-se à agricultura, porque as bases estão cá. O que a Angonabeiro faz é dar e retirar o risco de quem investe neste negócio, porque sabe que vai haver alguém que lhe vai comprar esta matéria-prima. Portanto, eu diria, basta querer.

Quando fala em estimular. Refere-se a incentivo fiscais? Apoio do Estado?

Honestamente não conheço a 100% a fiscalidade angolana para conseguir responder a esta pergunta, mas acredito que, muitas vezes, só o facto de estarmos aqui a conversar são estímulos suficientes para que as pessoas percebam que há aqui uma oportunidade de persistirem, de criarem uma vida diferente. O meu avô começou o seu negócio do nada e, portanto, ser empreendedor começa-se do nada, basta querer ser empreendedor e encontrar uma oportunidade. Para o café, acredito que em Angola há uma oportunidade ligada à agricultura. Mais do que falar em estímulo fiscal, é o estímulo de incentivar as pessoas, para que desejem esta profissão, que é tão digna.

Leia o artigo integral na edição 750 do Expansão, de sexta-feira, dia 10 de Novembro de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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