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Grande Entrevista

"Quero investir na Africell ou noutra empresa de telecomunicações"

MINORU DONDO, EMPRESÁRIO

Minoru Dondo em rara entrevista, um dos maiores empresários do País, falou em exclusivo ao Expansão sobre os seus negócios mas também sobre as polémicas que envolvem a sua ligação a figuras e organismos públicos. E reforça o seu interesse em entrar no sector das telecomunicações

Subsistem dúvidas sobre os reais beneficiários de empresas importantes que actuam em Angola e também é bastante referida a utilização de "testas-de-ferro", por exemplo. Esta realidade afecta a economia do País?

Isso não vai sobreviver por muito tempo. Se eu coloco você como testa-de-ferro alguém vai chegar a essa informação.

Hoje já é mais difícil esconder?

Sim, porque no dia em que receber um recurso para depois repassar a alguém não tenho mais como justificar. O que eu quero dizer é o seguinte: além da necessidade das normas de compliance, nós estamos a importar as regras mais rigorosas do mundo. Veja na mineração, os parceiros preferenciais do País quem são: EUA, Canadá, Austrália, Inglaterra. Se você possui uma empresa de capital fechado eles já não aceitam, você tem de ser uma empresa com capital aberto, cumprir a prestação de contas e apresentar informação clara sobre o beneficiário final. Pelo próprio negócio e pelos parceiros que temos, se não cumprirmos, não vamos fazer negócios.

Por vezes o senhor era apontado como um articulador e uma figura que no fundo representava outros interesses. São rumores com fundamento?

No ano de 2000, quando não havia empresários aqui, nós desenvolvemos muitas parcerias numa altura em que nem existia o conceito de PEP. Os parceiros ou eram do Governo ou tinham servido o Governo. Hoje você já encontra empresários ou jovens talentos que não são PEP e que são genuinamente empresários.

No Brasil também chegou a ser investigado por alegadas comissões pagas pela intermediação na impressão de moeda nacional fora do País.

Esclareci a notícia na altura e não tenho processo nenhum aqui em Angola, no Brasil ou na França. Pode também confirmar que nunca tive qualquer contrato com o BNA. Eu era, sim, o representante oficial em Angola, nada por debaixo, de uma empresa francesa que era fornecedora do BNA. E recebi esse montante de 45 milhões USD pelo total dos dez anos de trabalho com eles, inclusive durante o período da guerra.

Também apareceu publicamente durante a apresentação da Africell ao mercado. É um dos investidores por trás desta empresa?

Não estou ligado à Africell. A Africell é uma empresa de capital aberto e podem verificar. O dono da Africell é meu amigo, então ele gentilmente convidou-me para o evento juntamente com outros empresários.

É público que a Africell precisou de financiamento para entrar em Angola. Foi um dos articuladores desses processos?

Não participei em nada, agora, posso afirmar que um dia, se a Africell abrir essa possibilidade, pretendo investir nessa empresa ou noutra do mesmo sector. Estou intimamente ligado a Angola e o risco-Angola eu conheço bem. Tenho interesse. O acesso a tecnologia será fundamental para o sucesso do País. É o sector do futuro. Quero investir na Africell ou em qualquer outra empresa de telecomunicações. Já não penso em telefonia móvel porque já não é um bom negócio, praticamente já não se usa a voz. O que é apetecível nas telecomunicações é o conjunto, a fibra óptica e a infra-estrutura. Em Angola vamos precisar de muita infra-estrutura.

Porque ainda não conseguiu investir nas telecomunicações?

Porque são investimentos de centenas de milhões de dólares e o segredo é que até hoje existe uma lei de compartilhamento de infra-estruturas que não funciona. No dia em que a lei for cumprida, vamos ter uma correria de investidores de fora, grandes investidores. Hoje a Africell está a criar a sua própria infra-estrutura, a Movicel já tem a sua, a Unitel também, mas isso não se justifica e no mundo inteiro não é assim que funciona.

E em relação à Gemcorp, já recorreu aos seus financiamentos e linhas de crédito?

A Gemcorp é financiadora de alguns projectos meus e temos um bom relacionamento. E tento sensibilizá-los a investir mais no País, sobretudo na agricultura e noutros projectos que estou a implementar.

(Leia o artigo integral na edição 665 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Março de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)