Cursos de ciências médicas são os mais concorridos nas universidades
O grande número de candidatos aos cursos de ciências médicas e de saúde é induzido pela maior facilidade no acesso ao mercado do trabalho, através de concurso público. Apesar disso, também há um grande número de licenciados com estes cursos que estão no desemprego.
Para o ano académico 2022/2023 foram atribuídas 24.472 vagas para os cursos de ciências médicas e da saúde pelo Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação (MESCTI). A limitação do número de vagas, segundo o ministério, permite "conferir melhor qualidade de ensino e alinhar ao plano nacional de formação de quadros", mas aguarda-se que dezenas de milhares de candidatos entrem na disputa neste ano académico. Tem sido assim nos últimos anos, com o curso de medicina a ser o preferido dos candidatos, confirmou o Expansão junto das universidades.
Assim é na Universidade Agostinho Neto (UAN), que teve disponível para as ciências médicas e da saúde um total de 570 vagas, disputadas por mais de 13 mil candidatos. Para o curso de medicina, com 80 vagas, houve 5.152 candidatos inscritos para o exame de acesso, uma média de 64 concorrentes por vaga. De acordo com Lopes Baptista, coordenador da subcomissão de comunicação da UAN, há três anos que os cursos de ciências de saúde, sobretudo medicina geral, têm vindo a estar no topo das preferências, porque "parece ser mais fácil conseguir emprego com diploma nesta área". "É estranho que há cursos que também são importantes, mas têm poucos candidatos. Por exemplo, para o curso de Antropologia só recebemos 19 candidatos", lamenta Lopes Baptista.
A Universidade Jean Piaget, para medicina teve direito apenas a 140 vagas, de acordo com a coordenação do curso. Apesar de as inscrições nas instituições privadas não terem terminado, são esperados mais de 4.000 mil candidatos, como aconteceu em 2021. A Universidade Metodista de Angola explica que ainda é prematuro fazer uma análise às preferências, mas garante que os cursos de enfermagem, análises clínicas e fisioterapia estão a ganhar espaço e assumem cada vez mais importância para a universidade.
De recordar que a demanda e a especificidade do curso de medicina, em particular, e das ciências de saúde, em geral, também contribuíram para o aumento dos preços das propinas nas universidades privadas. Os cursos são atribuídos pelo MESCTI, de acordo coma quantidade e a qualidade do corpo docente, garantias de práticas laboratoriais, capacidade de orientar estágios profissionais e outros requisitos.
Garantir emprego
O grande número de candidatos aos cursos de ciências médicas e de saúde é induzido pela facilidade relativa no acesso ao mercado do trabalho, por via dos vários concursos públicos que os organismos do Estado têm vindo a realizar, nos últimos anos, na área da saúde. Por outro lado, há também um grande número de licenciados nestes cursos que estão no desemprego, de acordo com fonte do Expansão no Ministério da Saúde. "Vamos continuar a abrir sempre a torneira, mesmo com a fraca qualidade de ensino que temos?", pergunta a fonte.
Explica que não há qualidade nas infraestruturas que albergam estes cursos e que os professores não estão na docência a tempo inteiro, por exercerem cargos públicos, o que não garante a qualidade da formação.
Privado com 85% das vagas
O País conta com 98 instituições de ensino superior reconhecidas e em funcionamento, das quais 28 são públicas e 70 são privadas. O Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação atribuiu, para o ano académico 2022/2023, um total de 158.910 vagas, das quais 134.472 para o ensino superior privado, representando 85%, e 24.438 vagas para instituições de ensino públicas, correspondendo a 15%.
Comparativamente ao Ano Académico 2021/2022, foram aumentadas 6.984 vagas, ou seja, mais 4,6%. No que diz respeito à distribuição por cursos, as ciências sociais, humanidades e artes são as que têm mais vagas disponíveis, num total de 97.570, o que representa 61,4% do total. As engenharias e tecnologias representam 20,6%, 32.735 vagas. Ciências médicas e da saúde têm 15,4% e as ciências naturais e exactas 2,5%