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Angola

Opaca Gemcorp com ano dourado e milionário em Angola em 2025

FUNDO DE ORIGEM RUSSA E COM SEDE NO REINO UNIDO APROFUNDA RAÍZES NO PAÍS

A elevada exposição do País a uma única entidade levanta algumas reservas, que poderiam ser parcialmente mitigadas caso fossem divulgados publicamente todos os pormenores relativos aos acordos firmados, na última década, entre a Gemcorp e o Estado. O sigilo é a alma do negócio.

Um novo fundo de gestão de activos para actuar em Angola, negociações muito avançadas para a compra de 70% do Banco de Negócios Internacional (BNI), inauguração de uma refinaria em Cabinda, parcerias milionárias com o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) e financiamento directo à tesouraria do País avaliado em 600 milhões USD. Este é o resumo do ano da Gemcorp em Angola, um fundo considerado opaco que na última década tem vindo a aprofundar as ligações directas ao País, especialmente desde 2019, quando se tornou numa das estrelas mais cintilantes da governação de João Lourenço.

Os últimos episódios desta relação entre Angola e Gemcorp aconteceram nas primeiras semanas de Dezembro, com o anúncio, no mesmo dia, a colocar aquele fundo de investimento como credor e parceiro do Estado: por um lado, a financiar as actividades do governo, por outro, a servir de parceiro do FSDEA para a criação de um fundo de investimento em infra- -estruturas em África, que pode chegar aos 500 milhões USD.

O comunicado que divulgou a criação do fundo, que terá a sede em Abu Dhabi, dizia que o FSDEA fará um investimento inicial de 50 milhões USD, que poderá aumentar para 200 milhões USD, enquanto a Gemcorp contribuirá com até 50 milhões USD, sem especificar de que forma estes fundos serão canalizados e utilizados. Antes, em Novembro, a Kassai Capital, uma empresa de gestão de activos criada, em 2024, pela Gemcorp Capital, disse estar em negociações avançadas para adquirir uma participação no Banco de Negócios Internacional (BNI), no âmbito de uma operação que envolve a aquisição de 70% do capital social da instituição bancária.

O investimento, que ainda aguarda pela aprovação do Banco Nacional de Angola (BNA), será efectuado através do Fundo Fénix, de acordo com informação adiantada pelo presidente do Conselho de Administração da Kassai Capital, Walter Pacheco, ex-PCA da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (Bodiva) e antigo director da Unidade de Gestão da Dívida do Ministério das Finanças.

A indicação de Pacheco para a administração da Kassai Capital coloca o antigo PCA da Bodiva e ex-gestor principal da dívida pública (que, nestas funções, chegou a negociar directamente com a Gemcorp, enquanto credora do Estado) a defender os interesses particulares daquele fundo privado. A Gemcorp é também uma das principais gestoras de activos externos do BNA, tendo o contrato sido renovado em Maio de 2025, depois de ter sido iniciado em 2017.

Recorde-se que o BNA chegou a admitir que não sabia onde a Gemcorp tinha investido o dinheiro angolano. O fundo gerido pela Gemcorp em nome do BNA valia, em Maio, 597,2 mil milhões Kz, uma valorização de 21% face a 2023, segundo cálculos do Expansão.

A Gemcorp é ainda parceira do Estado (via Sonangol) no empreendimento da refinaria de Cabinda, oficialmente inaugurada em Setembro, acumulando diversas funções e papéis na economia angolana.

"Isso mostra-se, para mim, intrigante, pois há potencial conflito de interesses nesse envolvimento com o Estado, além de ser considerável a exposição a tal entidade", sublinha o economista Manuel Neto Costa em resposta ao Expansão.

Uma longa história

Globalmente, o percurso da Gemcorp tem sido muito ligado a Angola, com participações e envolvimentos directos e indirectos. Para além dos negócios já referidos, a Gemcorp tem a sua pegada no sector mineiro nacional (parcerias com a Endiama e financiamento à instalação de novos projectos).

Possui ainda uma participação de 1,90% na estrutura accionista do banco Atlântico e esteve na origem da Reserva Estratégica Alimentar (REA), posição que nunca chegou a ser completamente assumida. Também são conhecidos os financiamentos para a construção da Odebrecht na barragem de Laúca, que geraram 400 milhões USD em empréstimos a Angola, com o Estado a receber apenas 300 milhões, como noticiou o Expansão em Novembro de 2019.

Outra situação polémica, que não foi totalmente explicada publicamente, envolve os chamados "importadores designados". O esquema começou em 2016 e passava por garantir que as compras ao exterior eram realizadas em circuito fechado ou controlado. Os importadores designados pelos ministérios encomendavam os bens a traders lá fora que, por sua vez, enviavam a factura a uma empresa do universo da Gemcorp, que pagava, e depois cobrava os juros ao Estado.

Num desses negócios, o grupo Carrinho comprava os produtos a uma empresa criada pelos seus fundadores na Suíça, com os produtos a chegaram a Angola a preços muito superiores aos do mercado, como divulgou o Expansão em 2019.

Leia o artigo integral na edição 857 do Expansão, sexta-feira, dia 19 de Dezembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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