Planatur com metas ambiciosas para tão curto espaço de tempo entra em modo esquecimento
O turismo tem deficiências enormes de infra-estruturas de apoio a vários sectores, como saúde, telecomunicações e vias de acesso. Assim como desarticulação entre os organismos do Estado, factores que dificultam a dinamização da chamada "indústria da paz", num País considerado seguro e que esbanja potencial turístico.
Após um ano e seis meses, o Plano de Fomento ao Turismo (Planatur 2024-2027), apresentado pelo Governo em Março de 2024, para despertar a indústria turística em Angola, caiu no esquecimento por ser considerado demasiado ambicioso para tão curto espaço de tempo, face ao contraste entre o vasto potencial turístico do País e as carências de infra-estruturas básicas de apoio à actividade, além de outras fragilidades que ultrapassam o próprio sector, afirmaram operadores turísticos ao Expansão. Criado com o objectivo de revitalizar os principais pólos turísticos do País, o Planatur prevê a implementação de infra-estruturas básicas e a melhoria das vias de acesso às Áreas de Interesse e Potencial Turístico (AIPT), com a meta de construir mais de 125 quilómetros de estradas neste ano, ou criar 50 mil novos postos de trabalho no sector até 2027. Além disso, o plano propõe ampliar a oferta de hotéis e de restaurantes nas áreas turísticas e apoiar financeiramente 55 operadores privados até ao final de 2025, num contexto em que o sector ainda carece de um fundo específico de apoio às empresas e à inovação. Contudo, apesar das várias iniciativas e dos discursos políticos que sinalizam uma aposta no turismo, a execução prática do Planatur e os seus resultados tardam a aparecer, quando faltam apenas dois anos do prazo para terminar, o que agiganta o cepticismo dos operadores do sector, que já tinha sido manifestado no início do programa. "O Presidente da República tem citado várias vezes a importância do sector, e era necessário um plano para começar, com objectivos imediatos em zonas de potencial turístico, como Massangano, Cabo Ledo, Calandula e ou Colinas de Curoca no deserto do Namibe. O problema é que não foi posto em prática, e já estamos em 2025", afirmou Paulo Augusto, proprietário do Carpe Diem, em Cabo Ledo. Até 2027, o Planatur prevê mobilizar investimentos públicos e privados, com uma disponibilização financeira do Estado de 2,49 biliões Kz, dos quais 276,1 mil milhões Kz correspondem a projectos sob gestão directa do Ministério do Turismo. Estes recursos destinam-se à promoção e requalificação da oferta e dos recursos turísticos, bem como ao desenvolvimento das infra-estruturas dos pólos de desenvolvimento turístico. O restante montante deve ser aplicado em projectos de infraestruturas de suporte ao turismo, sob responsabilidade do Ministério da Energia e Águas (MINEA) e do Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação (MINOPUH), tendo em conta que a indústria turística nacional enfrenta sérias carências nas ligações de energia eléctrica da rede, abastecimento de água e vias de acesso fiáveis aos principais pontos turísticos, além da limitada oferta hoteleira e de restauração. Somam-se a estas fragilidades as deficiências ou inexistência de infra-estruturas de saúde e telecomunicações, a escassez de mão- -de-obra qualificada e a desarticulação entre os organismos do Estado, factores que dificultam a dinamização da chamada "indústria da paz", num País considerado seguro e que esbanja um potencial turístico de fazer inveja. "Os desafios do turismo em Angola não são exactamente problemas do sector em si, mas do País como um todo. Para que o turismo possa realmente tornar-se uma actividade importante e ter uma melhor contribuição económica na diversificação que se ouve todos os dias, precisamos resolver as questões básicas. Por mais que tentemos vender a nossa imagem lá fora como um destino turístico maravilhoso, se não nos organizarmos internamente, estaremos apenas a vender sonhos, e ninguém vive só de sonhos", explicou um operador turístico que preferiu não se identificar. Em relação à articulação entre os organismos do Estado, a mesma fonte referiu que as metas do plano evidenciam essa falta de coordenação. "O Planatur tem as mesmas características dos outros planos: os números são excessivamente irrealistas face à realidade. Por isso, é que o plano foi esquecido (pelo que nunca mais ouvimos falar dele) porque é tão ambicioso que nem se sabe por onde começar. Além disso, há uma desarticulação na comunicação entre o Governo e os operadores privados. Por exemplo, este plano não contou com a contribuição dos operadores, a principal parte interessada", acrescentou.
Leia o artigo integral na edição 850 do Expansão, sexta-feira, dia 31 de Outubro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)
                










