Preços dos produtos nacionais há 15 meses a subir mais do que os importados
O Índice de Preços Grossistas medido pelo Instituto Nacional de Estatística registou um crescimento mensal de 1,15% em Julho, invertendo uma tendência de abrandamento num mês em que subiram os preços do gasóleo, dos transportes públicos, da electricidade e da água.
Há 15 meses consecutivos que os preços dos produtos nacionais vendidos nos grossistas estão a subir mais do que os produtos importados. Em Julho, o ritmo de crescimento dos produtos nacionais (1,9%) foi mais de duas vezes superior aos dos produtos importados (0,9%), indicam dados do Índice de Preços Grossistas (IPG) divulgados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Numa economia que funciona na normalidade, o IPG é indicativo da evolução do índice de Preços no consumidor (IPC) e geralmente reflete-se um a dois meses depois neste valor, mas no nosso País essa situação não é linear, porque o IPG analisa apenas três sectores da economia: Agropecuária, Pesca e Indústria Transformadora, dos 10 sectores que compõem IPC.
Neste mesmo período, ou seja, no mês de Julho, os produtos nacionais aumentaram 1,85% face ao mês anterior e os produtos de produção nacional com maior aumento de preços foram o cachucho fresco, com 3,60%, pescada fresca, com 3,33% e a corvina fresca com 2,59%, além do carapau, cuja pesca esteve interditada durante os meses de Julho e Agosto de 2025.
Também terá contribuído para o encarecimento do pescado o aumento verificado no preço do gasóleo para 400 Kz, uma subida de 33%, ajuste que visa retirar gradualmente os subsídios estatais aos combustíveis, conforme consta do OGE 2025, mas também os aumentos das taxas de electricidade e da água.
Apesar dos inúmeros anúncios de investimentos na agricultura, a verdade é que o País ainda está longe da autossuficiência alimentar, e só assim é possível explicar que os produtos agrícolas importados são os que mais subiram nos grossistas no mês de Julho (0,86%), liderados pela batata rena, com aumentos de 1,78%, ginguba (1,74%), feijão castanho (1,62%) e tomate que registou uma subida de 1,56%.
Um importante factor que poderá contribuir para o fomento da agricultura prende-se com a entrada em funcionamento, já em Outubro, da primeira fábrica de fertilizantes do País, localizada na província de Benguela, num investimento de 18 milhões USD com a produção de 180 mil toneladas de fertilizantes por ano. Embora venha a cobrir apenas 22,5% do mercado, o produto se for bem distribuído aos pequenos agricultores, que se queixam da falta de insumos agrícolas, deverá servir de alento para o fomento da actividade agrícola e contribuir para a redução das importações.
No último ano, ou seja, entre Julho de 2024 e o mesmo período deste ano, o ritmo de crescimento dos produtos nacionais nos armazéns grossistas foi de 15,10%, percentagem muito maior que os produtos importados que registaram uma taxa de crescimento de apenas 7,12%, empurrando o IPG para uma inflação homóloga de 19,92%.
Os dados do INE indicam ainda ter havido uma desaceleração de 16,74 pontos percentuais (pp) em termos homólogos no ritmo de crescimento dos produtos nos grossistas, o que não significa ter havido uma descida nos preços, que na verdade cresceram, mas a um ritmo inferior.
Os dados do índice grossista confirmam a tendência verificada no IPC, onde os produtos alimentares assumem o maior peso no crescimento da inflação, o que se reflecte depois nas dificuldades dos cidadãos em ter uma alimentação adequada face às suas necessidades.