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Angola

Subida da tarifa tira 10,6 milhões de passageiros à TCUL em 2024

PASSAGEIROS PROCURARAM OUTRAS ALTERNATIVAS

Em média, cada um dos 98 autocarros que operaram o transporte, em Luanda, transportou 513.548 passageiros, a média mais baixa desde 2021. O número de autocarros avariados subiu para 297, mais 52 do que em 2023. Com a perda de passageiros, as vendas da TCUL caíram 57% para 882,5 milhões Kz.

A Empresa Pública de Transportes Colectivos Urbanos de Passageiros de Luanda (TCUL) perdeu 10,6 milhões de passageiros no ano passado em relação a 2023, ano em que transportou 61,0 milhões de pessoas. Contas feitas, em média, a empresa deixou de transportar cerca de 29.302 passageiros por dia, calculou o Expansão com base no relatório e contas da empresa. A queda acentuada deveu-se, essencialmente, ao aumento da tarifa dos transportes urbanos de 50 Kz para 150 Kz, em Maio daquele ano, autorizado pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT).

O aumento da tarifa, justificado pela subida do preço do gasóleo (que passou de 135 Kz para 200 Kz na época), teve efeito adverso na TCUL, que está em falência técnica há pelo menos cinco anos. Isto porque o valor do bilhete dos autocarros ficou muito próximo ao preço da corrida dos táxis azuis e brancos, que passaram a custar 200 Kz também a partir de Maio.

Logo, os 50 Kz a mais deixaram de fazer diferença para os utentes, especialmente considerando a precariedade do serviço do transporte público em Luanda. Como resultado, mais de 10,6 milhões de passageiros trocaram os autocarros por "candongueiros" ou por outras formas de transporte, já que o transporte público só se justificava em rotas mais longas.

"Nos primeiros quatro meses de 2024, face ao mesmo período de 2023, verificou-se um desempenho superior. Entretanto, com a entrada em vigor da nova tarifa do serviço urbano a Kz 150, a procura pelos serviços da TCUL sofreu uma queda", justifica a empresa pública no relatório e contas.

O transporte público é particularmente sensível a alterações de preço, sobretudo entre as populações de baixa renda, que representam a maioria dos utilizadores em Luanda. "Embora o reajuste do tarifário possa ter contribuído para a diminuição da procura, é plausível que outros factores como falhas operacionais, concorrência cm meios alternativos de transporte ou deficiência no planeamento, também tenham influenciado negativamente a procura pelo serviço", segundo o relatório do conselho fiscal da empresa.

Assim, não foi apenas a tarifa que prejudicou os números da operação da TCUL. A recorrente falta de uma gestão mais eficiente dos meios disponíveis também tem pesado no estado degradante da empresa. Em 2024, para o serviço urbano, a empresa operou apenas com 98 autocarros, mais seis do que no ano anterior, mas teve 297 veículos avariados, 52 a mais do que em 2023.

A baixa procura pelo transporte público impactou negativamente as receitas da empresa, reduzindo a disponibilidade financeira para a aquisição de peças sobressalentes e para a manutenção da frota. Isso aumentou ainda mais o número de meios parados e acentua a prática da "canibalização dos veículos", disse uma fonte da empresa ao Expansão.

As vendas da TCUL caíram 57%, para 882,5 milhões Kz, conforme o relatório e contas.

Na prática, apenas um terço dos autocarros esteve disponível para os passageiros durante o ano, numa província com mais de 10 milhões de habitantes e graves problemas de mobilidade urbana. Por exemplo, Lisboa, que está inserida numa área urbana de cerca de 2 milhões de habitantes, é atendida, em média, por mais de 770 autocarros, segundo o site da Carris, empresa de transportes públicos da capital portuguesa. Além disso, Lisboa dispõe de outras modalidades de transporte como metro, barco e comboio, que apoiam o fluxo de passageiros numa zona urbana (Lisboa e periferia) que cabe mais de 5 vezes em Luanda em termos demográficos.

Este contraste revela o défice estrutural de transporte público na capital angolana, cuja solução não passa apenas por aumentar a frota de autocarros, mas também por introduzir e integrar outras modalidades de transporte, bem como criar infraestruturas adequadas para a circulação dentro e fora da cidade.

20 autocarros para o AIAAN transportam 7 pessoas/dia

Em termos médios, cada um dos 98 autocarros que operaram o transporte urbano da TCUL em 2024, em Luanda, transportou 513.548 passageiros, a média mais baixa desde 2021, altura em que o sector dos transportes começou a recuperar da Covid-19.

Porém, se por um lado, há carência de autocarros para atender à crescente procura, por outro, a gestão da frota levanta dúvidas. Exemplo disso foi a canalização de 20 autocarros, dos 35 previstos, para servir os passageiros do Aeroporto Internacional António Agostinho Neto (AIAAN). Nesta linha, a TCUL transportou apenas 54.657 passageiros. Contas feitas, cada autocarro desta rota levou, em média, apenas 7 pessoas por dia no ano passado.

Leia o artigo integral na edição 845 do Expansão, de Sexta-feira, dia 26 de Setembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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