Uma biblioteca para 904 mil pessoas apesar do número crescente de novos leitores
O Planacult não faz praticamente referência ao papel da comunicação social na promoção das indústrias criativas e também não associa a nova estratégia a iniciativas anteriores, o que reflecte alguma descontinuidade nas políticas.
Uma das vertentes mais interessantes do Plano de Apoio e Promoção da Cultura (Planacult) é o levantamento realizado sobre infraestruturas, grupos artísticos, bibliotecas e equipamentos culturais existentes em Angola (ver página 4). Embora não sejam desfeitas algumas dúvidas sobre a fiabilidade dos dados compilados pelo Ministério da Cultura, é possível chegar a rácios de acesso às infraestruturas existentes: tendo em conta os 36.170.961 habitantes em Angola (segundo o INE - Instituto Nacional de Estatística), o País tem uma biblioteca para cada 904 mil pessoas, um museu para 1.903.735 pessoas, uma livraria para 406.415 habitantes, uma discoteca por 117.281 pessoas e uma casa de cultura para 1.446.838 habitantes, o que descreve bem os enormes desafios que o sector enfrenta.
No caso das bibliotecas públicas, que o Ministério da Cultura afirma serem 40 em todo o País, o número de visitantes disparou entre 2018 e 2023: passou de 117.889 para 215.376, naquele que é um aumento significativo e que demonstra um renovado interesse pela leitura, que vai ganhando espaço em determinados sectores da juventude angolana. Esta tendência é visível também pelo surgimento de bibliotecas de rua, clubes de leitura (muitas vezes associados às mediatecas construídas em várias províncias) e pela procura de livros técnicos associados à investigação científica e ao ensino superior.
Para o produtor Jorge Cohen, "é essencial que existam espaços com comodidade, acessibilidade e conforto para que seja possível viver uma experiência cultural de facto. Existem as estruturas físicas, agora precisamos dessa atenção e desse espaço para trabalhar", defende o director-geral da Geração 80.
O Planacult, segundo o Ministério da Cultura, tem como objectivo apoiar e promover a cultura, preservar a diversidade e promover o desenvolvimento económico e social. O plano também aposta na expansão da oferta de bens e serviços culturais, fomento da produção e distribuição de conteúdos culturais em línguas angolanas de origem africana, fortalecimento das cadeias produtivas das indústrias culturais e criativas, melhorar a qualidade do ensino artístico (música, dança, teatro, literatura, artes visuais e cinema), dinamizar as economias locais e promover o turismo cultural.
Curiosamente, o Planacult não faz referências objectivas sobre o papel da comunicação social, que poderia ter uma função importante na divulgação cultural e também no acesso aos produtos culturais. Também não faz menção a iniciativas anteriores, nomeadamente à política cultural estabelecida pelo Decreto Presidencial n.º 15/11.
"Precisamos de uma programação cultural nacional, porque a cultura é o nosso cimento-cola. Estamos a comemorar 50 anos de independência, mas não nos conhecemos bem entre nós, conversamos pouco e a cultura pode também ser uma oportunidade para introduzir conversas mais difíceis", acredita Jorge Cohen.