Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Angola

Relações "excelentes", sem irritantes na justiça, mas com atrasados na bagagem

JOÃO LOURENÇO NAS COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL EM PORTUGAL

Se no tempo da troika em Portugal, no início da década passada, houve uma corrida de portugueses para Angola, hoje as circunstâncias económicas fazem com que sejam os angolanos a irem cada vez mais para Portugal. Há 26 mil angolanos inscritos na segurança social portuguesa, número que deverá aumentar.

Longe parecem estar os irritantes na justiça que ensombraram as relações entre Angola e Portugal e é nesta boa fase de proximidade entre os dois países que o Presidente João Lourenço estará presente para a semana na "festa" da celebração dos 50 anos do fim da ditadura em terras lusas, que contribuiu, também, para a independência angolana.

Se em termos de relações políticas entre os dois países parece estar tudo bem, certo é que as relações económicas já foram de maior fulgor. Desde 2018 que Portugal passou a ocupar o segundo lugar do ranking dos países fornecedores de Angola, suplantado pela China, e tem hoje a Índia e os Emirados Árabes Unidos, com produtos a preços mais baixos, a "morderem-lhe os calcanhares".

Os ciclos recessivos da economia angolana e a forte desvalorização cambial que afectou a moeda nacional praticamente desde 2018 têm esfriado as trocas comerciais, diga-se a importação de produtos comprados a Portugal, de certa também tem comprometido a presença e entrada de novas empresas portuguesas em Angola. E a recente introdução da taxa de 10% sobre as operações cambiais também não caiu bem no empresariado.

Hoje estão ultrapassadas questões relacionadas com investigações da justiça portuguesa a altas figuras angolanas, entre elas o ex-vice-presidente Manuel Vicente, que geraram um mal-estar entre os dois países, e há até proximidade e colaboração entre as PGR, como acontece no caso contra Isabel dos Santos, em que a justiça portuguesa colaborou com a angolana, ou no caso Banco Espírito Santo, em que Angola colaborou com Portugal.

Por isso, a estabilidade cambial, as dificuldades de acesso a divisas e os já crónicos atrasos nos pagamentos do Estado acabam por ser os irritantes do momento e condicionam o investimento. Até porque, de acordo com um representante da diplomacia económica portuguesa, sob anonimato, "a memória que existe hoje no empresariado português sobre as dificuldades que existem em receber em Angola acaba por dificultar ou limitar o interesse em novos empresários quererem ir para Angola".

"Angola tem hoje um problema de percepção. Tirando as empresas que já lá estão e que vão continuar, os empresários portugueses não querem ir lá investir por causa da memória, por saberem que há grandes dificuldades para receber. Mas isso acontece também porque houve durante algum tempo excesso de confiança da parte dos empresários. Muitos deles tinham grandes margens nos negócios, para compensar os atrasos, esquecendo-se que há sempre riscos, em todo o lado, não só em Angola", admite a fonte.

Para o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA), João Traça, as queixas dos empresários portugueses não são diferentes das de empresários de outros países que operam em Angola. Quanto à questão do tempo que o Estado angolano demora para pagar, é uma questão que não é exclusiva em Angola. "Digamos que não é um exclusivo de Angola pois a mesma queixa existe em Portugal", sustenta. Quando questionado sobre o que é que está a falhar na atracção de investimento português em Angola nos últimos tempos, João Traça diz que está a falhar um pouco de tudo e nada em concreto. "A economia angolana já não está a crescer como crescia, há mais países interessados em estabelecer relações com Angola e a investir em novos projectos agrícolas, industriais e de serviços e as empresas portuguesas continuam receosas dos riscos da economia angolana ao nível cambial. O sector bancário português não está motivado para incentivar investimentos em Angola e o governo português não está a aumentar os valores das linhas de crédito. Como é normal neste tipo de contextos, estamos todos a "falhar"", sublinha.

Angola enfrenta hoje sérias dificuldades para ultrapassar uma alta de inflação provocada por uma forte desvalorização cambial e isso acabou por reflectir-se no quadro das trocas comerciais entre os dois países. Hoje, Angola procura cada vez mais outros mercados para importação de bens alimentares, como a Índia, a Turquia ou os Emirados Árabes Unidos, sobretudo devido ao factor preço, o que acaba por reflectir-se na descontinuação de importação de produtos alimentares portugueses. Ainda assim, as marcas portuguesas estão bastante presentes nos supermercados, mas hoje têm "rivais" com preços mais baixos.

Leia o artigo integral na edição 772 do Expansão, de sexta-feira, dia 19 de Abril de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)