Preços dos cabazes de Natal oscilam entre 8 mil e 14 milhões Kz
Do símbolo máximo da "mesa farta" ao simples cartão de compras, o negócio dos cabazes de Natal em Angola espelha a viragem económica dos últimos 10 anos. Depois de um período em que empresas e instituições públicas sustentaram um mercado milionário, a crise levou à substituição dos cabazes por dinheiro e vales.
O mercado dos cabazes de Natal em Angola continua a expor, de forma quase didáctica, as profundas assimetrias económicas do País e a transformação dos hábitos de consumo das empresas e das famílias. Em Luanda, os preços praticados pelos supermercados vão de pouco mais de 8.000 Kz a valores superiores a 14 milhões Kz, confirmando que este é hoje um negócio segmentado, que sobrevive entre propostas populares, soluções intermédias e ofertas claramente direccionadas para nichos de elevado poder de compra.
Numa amostra recolhida pelo Expansão junto das principais cadeias de retalho, o cabaz mais barato identificado pertence à Angomart, cabaz Mercearia, com um preço de 8.390 Kz, seguido pelo cabaz mais barato do Arreiou, que custa 17.500 Kz (ver tabela). Estes valores contrastam fortemente com as propostas do segmento premium. A Multiáfrica, por exemplo, comercializa o cabaz "Pensador", avaliado em cerca de 14 milhões Kz, composto por mais de 50 garrafas de bebidas - entre whisky, vinhos, espumantes e champanhe - além de um cesto alimentar e outros produtos típicos da quadra festiva. A mesma empresa disponibiliza ainda o cabaz "Diamante", por 8 milhões Kz, e o "Ouro", por cerca de 4 milhões Kz, mantendo-se como a cadeia com os cabazes mais caros do mercado. Entre estes dois extremos, encontram-se propostas pensadas para a classe média urbana.
O grupo Candando estruturou quatro cabazes de Natal, com preços entre 15.000 Kz e 79.000 Kz, enquanto a Maxi apresenta três opções, que variam entre 50.000 Kz e 300.000 Kz, além de cartões corporativos para empresas. Já o Kero dispõe de três cabazes, com valores entre 39.999 Kz e 799.999 Kz, e o Kibabo oferece duas opções, que vão de 30.000 Kz a 50.000 Kz.
Na Ecoserv, os preços oscilam entre 35.000 Kz e 3 milhões Kz, reforçando a diversidade de segmentos ainda existentes neste mercado.
Cartões ganham terreno
Apesar desta diversidade de preços e formatos, a principal tendência do mercado é clara: os cartões de presente ganharam terreno e tornaram-se a solução dominante. Supermercados como Maxi, Candando, Kibabo, Kero e Fresmart disponibilizam cartões com valores que variam entre 20 mil Kz e mais de 1 milhão Kz, sobretudo para clientes empresariais.
A Fresmart, aliás, afastou-se totalmente dos cabazes tradicionais e optou exclusivamente pelos cartões, seguindo uma lógica de maior flexibilidade e menor custo operacional.
O caso do Deskontão é frequentemente apontado como exemplo desta transição. Há cerca de três anos, a cadeia decidiu desmaterializar por completo a oferta de cabazes, passando a disponibilizar apenas cartões carregáveis, sem valores mínimos ou máximos. Para os clientes que ainda pretendem manter a tradição, o Deskontão oferece caixas vazias, permitindo que cada consumidor componha o seu próprio cabaz com os produtos escolhidos na loja.
A solução é vista pelo retalhista como mais eficiente, menos dispendiosa e mais ajustada à realidade económica actual. Esta mudança marca uma ruptura com o passado recente. Para as empresas, esta alternativa tem vantagens claras: reduz custos logísticos, elimina desperdícios, transfere para o trabalhador a decisão de consumo e permite um maior controlo orçamental. Para os supermercados, representa também uma forma de fidelização e de garantia de receitas futuras.
Antes de 2016, o negócio dos cabazes de Natal tinha uma dimensão enorme em Angola, sustentado quase exclusivamente pelas grandes empresas, instituições públicas e governamentais, que ofereciam estes conjuntos aos seus trabalhadores como um benefício quase obrigatório. Muitos dos produtos eram importados, gerando receitas em moeda estrangeira e margens elevadas para os fornecedores.
Hoje, os cartões são a regra e os cabazes físicos a excepção. Ainda assim, o mercado tradicional resiste, adaptado a nichos específicos e à carga simbólica que o cabaz continua a ter no imaginário colectivo.
Edição 857 do Expansão, sexta-feira, dia 19 de Dezembro de 2025











