Saída da OPEP não trouxe ganhos de produção ao País ao fim de dois anos
Angola deixou a OPEP no final de 2023, argumentando que a quota atribuída limitava a produção, mas os anos seguintes demonstraram que o verdadeiro entrave estava na capacidade interna do País. Enquanto isso, produtores africanos que permaneceram na organização, como a Nigéria e a Líbia, aumentaram significativamente a oferta.
A decisão de Angola abandonar a OPEP no final de 2023 foi sustentada politicamente pela ideia de que a quota atribuída - 1,11 milhões de barris/dia - prejudicaria a capacidade produtiva nacional e colocaria em risco contratos já firmados com as operadoras.
No entanto, a realidade dos dois anos seguintes mostra que estes pressupostos não eram totalmente verdadeiros e que a limitação essencial do sector não estava na quota, mas na capacidade física de produção do País.
Em 2023, antes da saída, Angola produzia entre 1,09 e 1,13 milhões de barris/dia, valores já muito próximos da quota contestada. Ou seja, mesmo que a OPEP tivesse confirmado o limite de 1,11 mb/d, o País não seria forçado a cortar produção, porque já operava abaixo desse nível devido ao declínio natural dos campos maduros e ao reduzido número de novos projectos.
Depois da saída, no início de 2024, a produção média subiu apenas para cerca de 1,13 Mb/d, um aumento marginal de aproximadamente 3%, insuficiente para justificar o argumento de que a organização impedia Angola de crescer.
A própria ANPG e o Ministério dos Recursos Minerais, Petróleos e Gás acabaram por reconhecer, ao longo de 2024 e 2025, que a capacidade efectiva nacional dificilmente ultrapassará 1,15 Mb/d no curto prazo.
As estimativas oficiais apontam para uma estabilização entre 1,10 e 1,12 Mb/d até 2027, independentemente de quotas, confirmando que a limitação estrutural é interna, não imposta pela OPEP. Se os pressupostos defendidos em 2023 fossem correctos, a saída deveria ter permitido uma expansão mais expressiva, algo que não se verificou. Ou seja, mesmo fora da OPEP, a capacidade instalada continua a ser o principal travão, mais do que qualquer limitação imposta por Viena.
Na ocasião, Patrício Quingongo, CEO da Petroangola, tinha explicado ao Expansão que "não há nenhuma justificação técnica para a nossa saída. A OPEP não proíbe nenhum país de produzir petróleo. Essa é uma questão que se quer passar para a opinião pública, mas não é assim. Pelo contrário. A OPEP fomenta a produção e a continuação da indústria de petróleo e gás. As quotas são definidas de acordo com a capacidade actual de produção de cada país".
Acrescentou ainda: "Mesmo que nos mantivéssemos na organização, a nossa produção estaria abaixo da quota e não teríamos necessidade de fazer qualquer corte, como Angola nunca fez desde que pertence à OPEP. A minha visão é que estamos a usar a OPEP como bode expiatório no sentido de explicar o facto de não estarmos a ter sucesso na estratégia para a indústria petrolífera".
Comparação com a evolução de outros países africanos
O contraste com outros produtores africanos que permaneceram na organização reforça esta conclusão. A Nigéria, dentro da OPEP, aumentou a produção de cerca de 1,2 Mb/d em 2023 para níveis entre 1,45 e 1,55 Mb/d em 2024 e 2025, beneficiando do reforço da segurança nos oleodutos e do regresso de investimento interno e externo. A Líbia, também membro, atingiu em 2025 cerca de 1,38 Mb/d, o nível trimestral mais alto em mais de uma década. Mesmo a Argélia, com uma quota próxima dos 0,97 Mb/d, conseguiu elevar a oferta com novos projectos e uma ligeira flexibilização negociada dentro da OPEP+.
Estes números demonstram que os países que permaneceram na organização não ficaram impedidos de crescer, e alguns cresceram bem mais do que Angola fora dela.
Do lado político-económico, o País perdeu influência num fórum onde se discutem decisões que movem o mercado global e que influenciam directamente o preço do Brent, referência para as exportações angolanas.
A saída não alterou a posição de Angola como price taker, continua dependente das decisões da OPEP+ sobre cortes ou aumentos de oferta, apenas sem estar presente no processo. Em termos de percepções internacionais, o gesto foi lido como sinal de menor compromisso com a diplomacia energética multilateral, embora o Executivo tente compensar com maior proximidade bilateral a parceiros como a China ou Estados Unidos.
Os ganhos potenciais existem - maior liberdade formal para definir metas de produção, narrativa pró-investimento e reposicionamento estratégico -, mas a sua materialização depende da capacidade do País em reverter declínio estrutural, acelerar novos projectos offshore e captar capital para tecnologias de recuperação avançada e para o gás natural.
A presença na OPEP permitiria também uma ligação mais próxima com potenciais investidores na nossa indústria, fora dos players que já cá estão.











