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Gestão

É assim que se perde um bom funcionário

EM ANÁLISE

Não é coincidência: quando a saúde mental é negligenciada, o talento vai embora. Funcionários não querem apenas sobreviver; querem sentir que são respeitados, reconhecidos e que o seu trabalho tem impacto. Empresas que ignoram esta dimensão humana estão, na prática, a abrir a porta de saída para os seus melhores profissionais.

Setembro é mundialmente reconhecido como o mês da saúde mental. Em Angola, tal como em muitos outros países, o tema começa finalmente a ganhar espaço nas conversas empresariais. Mas ainda que muitas organizações falem em bem-estar, a realidade dos corredores mostra outra face: perde-se gente boa todos os dias. E, mais grave, perde- -se não apenas pelo salário ou pela competição externa, mas pela incapacidade de criar ambientes saudáveis, respeitosos e com sentido.

Perder um bom funcionário não acontece de repente. É um processo invisível, silencioso, acumulativo. Quando alguém talentoso sai, não leva só o crachá: leva consigo conhecimento tácito, relações com clientes, memória organizacional, confiança da equipa e energia criativa. O custo não aparece de imediato nas finanças, mas traduz-se em perda de produtividade, em atrasos nos projetos e na dificuldade em atrair novos talentos.

A relação entre saúde mental e perda de talentos

A Organização Mundial da Saúde já alertou: ambientes de trabalho tóxicos são fatores de risco para depressão e ansiedade. A Harvard Business Review mostra que a falta de bem-estar gera absentismo, presenteísmo (estar no local, mas desligado) e, no limite, rotatividade. Em Angola, onde a escassez de competências é uma realidade em setores críticos, a saída de um bom colaborador pode significar meses - ou anos - de vazio operacional.

Relatórios internacionais reforçam esta preocupação. A Gallup estima que o custo global da falta de envolvimento dos trabalhadores ultrapassa os 8,8 biliões de dólares anuais. Já a Deloitte demonstra que cada dólar investido em programas de saúde mental gera um retorno médio de quatro dólares em produtividade e redução de custos com rotatividade. Estes números confirmam que cuidar das pessoas não é caridade - é estratégia empresarial inteligente.

Não é coincidência: quando a saúde mental é negligenciada, o talento vai embora. Funcionários não querem apenas sobreviver; querem sentir que são respeitados, reconhecidos e que o seu trabalho tem impacto. Empresas que ignoram esta dimensão humana estão, na prática, a abrir a porta de saída para os seus melhores profissionais.

Como se perde um bom funcionário

01. Microgestão constante Transmite desconfiança, anula a autonomia e sufoca a criatividade. O colaborador sente-se infantilizado e desmotivado.

02.Metas confusas e incoerentes A cada semana, novas prioridades. O resultado é ansiedade coletiva e perda de foco.

03.Promessas vazias Prometer progressão, formação ou recompensas e não cumprir corrói a confiança e fragiliza a saúde emocional.

04. Reconhecimento desigual Quando quem entrega valor não é reconhecido, instala-se a frustração. O silêncio sobre os esforços é tão tóxico quanto a crítica injusta.

05. Ausência de segurança psicológica Sem espaço para discordar ou errar de forma construtiva, a equipa cala-se. O silêncio mata a inovação e desgasta emocionalmente.

06. Carreiras sem futuro A estagnação profissional gera desmotivação e aumenta o risco de burnout.

7. Valores decorativos Quando a prática contradiz a missão impressa na parede, instala-se o cinismo e os profissionais perdem sentido no trabalho.

Sinais de alerta que líderes devem observar

O silêncio de quem antes era participativo;

O desinvestimento emocional: cumpre tarefas, mas já não se importa;

O aumento da procura externa: networking, entrevistas, convites;

Preparação silenciosa de saída: férias longas, partilha de tarefas, distanciamento emocional.

Estes sinais não são apenas sobre desempenho. São indicadores de desgaste emocional e mental que, se não forem tratados, culminam em saídas. A ligação à saúde mental é direta: o esgotamento precede a demissão.

Como reter (e cuidar) de bons profissionais

Setembro convida-nos a falar não só de prevenção do suicídio, mas de todas as dimensões da saúde mental. No trabalho, isso traduz-se em:

Claridade e propósito: comunicar metas de forma simples e consistente.

Autonomia com responsabilidade: permitir que profissionais decidam como atingir os objetivos.

Reconhecimento justo: valorizar conquistas de forma transparente e consequente.

Trilhos de carreira claros: dar perspetiva de crescimento real.

Ambientes seguros: promover espaços de escuta e diálogo sem medo.

Gestão equilibrada da carga de trabalho: respeitar pausas, férias e ritmos humanos.

O impacto vai além da retenção: empresas que cuidam da saúde mental têm equipas mais criativas, resilientes e comprometidas. Num mercado como o angolano, onde formar um colaborador qualificado exige tempo e investimento, perder pessoas- -chave pode atrasar seriamente a expansão de projetos, reduzir competitividade e comprometer relações com clientes.

Leia o artigo integral na edição 845 do Expansão, de Sexta-feira, dia 26 de Setembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

*ARIANA ORTET VIGELANDZOON, Escritora, Coach, Terapeuta Holística e Assessora Organizacional

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