À medida que nos aproximamos do final do ano, as empresas enfrentam um período crítico onde os resultados se encerram, os objetivos são avaliados e planeia-se o ano seguinte. Contudo, para lá dos indicadores financeiros e da performance operacional, o que verdadeiramente sustenta a continuidade dos negócios são as pessoas. E gerir pessoas nesta fase implica reconhecer o impacto que a época tem no bem-estar, na motivação e no compromisso dos trabalhadores.

O último trimestre é marcado por elevados níveis de pressão: deadlines acumulados, expectativas de entrega, avaliações de desempenho, renegociação de contratos e planeamento estratégico. Tudo isto coincide com um contexto emocional particular, em que muitos colaboradores vivem um cansaço acumulado, preocupações familiares e exigências pessoais aumentadas. Se a gestão não for cuidadosa, este período pode dar origem a burnout, aumento do absentismo e queda no moral das equipas.

A gestão de pessoas deve assumir uma postura preventiva e humanizada. Isso inclui ouvir os colaboradores, compreender as necessidades individuais e ajustar cargas de trabalho quando possível. Reconhecer o esforço e celebrar conquistas, mesmo que parciais, contribui para reforçar o sentimento de pertença. Programas de reconhecimento, mensagens de agradecimento ou momentos de partilha podem ter um impacto significativo na perceção de valor e satisfação no trabalho. A comunicação transparente torna-se essencial. É importante que as lideranças clarifiquem prioridades e evitem metas irrealistas que gerem frustração. Além disso, envolver os trabalhadores no planeamento do novo ano gera alinhamento e reforça o compromisso coletivo. Numa economia em constante mudança, a capacidade de adaptação e a cocriação de objetivos tornam-se determinantes.

Outro aspeto crítico é o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Incentivar a gestão saudável dos horários, promover pausas adequadas e respeitar os períodos de descanso no Natal e no Ano Novo contribui para uma força de trabalho mais saudável e motivada no regresso. Por fim, o final do ano deve ser visto como um momento de aprendizagem.

A análise das práticas de gestão de pessoas adotadas ao longo do ano deve alimentar uma reflexão estratégica: que competências precisam de ser desenvolvidas? Que condições de trabalho devem ser melhoradas? Como fortalecer a cultura organizacional para garantir sustentabilidade no futuro? Investir em formação contínua e desenvolvimento de liderança é igualmente vital.

Líderes bem preparados reconhecem sinais precoces de desmotivação e sabem atuar com empatia e assertividade. A escuta ativa, a confiança e a valorização da diversidade tornam-se pilares para fortalecer relações e promover um ambiente inclusivo.

O final do ano também pode ser uma excelente oportunidade para iniciativas de responsabilidade social corporativa, envolvendo equipas em ações solidárias que reforcem valores e aproximem colegas através de um propósito partilhado. Estas práticas aumentam o orgulho em pertencer e destacam o papel da empresa na comunidade. Em suma, gerir pessoas no fim do ano vai muito além de fechar números - é cuidar de quem faz o negócio acontecer. Uma abordagem estratégica, humana e equilibrada permite transformar pressão em motivação e desafios em oportunidades.

As empresas que o compreendem não apenas terminam o ano em força, como constroem bases sólidas para crescer com resiliência e inovação no ano que se segue. Num mercado altamente competitivo, reter talento depende de relações de confiança, reconhecimento constante e um propósito claro. O futuro das organizações portuguesas escreve-se com pessoas motivadas hoje. Cuidar das pessoas é crítico.

Edição 851 do Expansão, sexta-feira, dia 07 de Novembro

*JOSÉ RODRIGUES, Expert in Human Resources & Entrepreneur, Certified Coach PLD19, Harvard Business School Alumni