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Gestão

"Apanhar a onda" da Indústria 4.0 em Angola

EM ANÁLISE

Estas tecnologias estão a transformar as cadeias de valor tradicional, abrindo novos fluxos de receita e impulsionando uma mudança radical no desempenho dos negócios. É, por isso, que a indústria 4.0 é comumente referida como a quarta revolução industrial.

Em Abril do ano passado, o meu colega Fernando Mascarenhas escreveu aqui o artigo "Desenvolvimento industrial: desafios e sugestões de acção", onde chamava a atenção para a crescente relevância do sector industrial, em Angola, que representou cerca de 11% do PIB, em 2021. De facto, o tema da industrialização continua a ganhar uma atenção crescente por parte das empresas e do Governo. Nessa medida, gostaria de destacar a temática da indústria 4.0 e o seu impacto para o desempenho empresarial.

A indústria 4.0 refere-se ao impacto emergente da automação e da troca de dados em tecnologias de fabricação, permitindo a convergência de tecnologias baseadas em sistemas Cyber-Physical, IoT, Computação na Nuvem e Inteligência Artificial. Estas tecnologias estão a transformar as cadeias de valor tradicional, abrindo novos fluxos de receita e impulsionando uma mudança radical no desempenho dos negócios. É por isso, que a indústria 4.0 é comumente referida como a quarta revolução industrial.

O que torna a indústria 4.0 tão disruptiva é a capacidade de interligar ambas as dimensões: produtos e processos. Uma framework indústria 4.0 é a plataforma sobre a qual os industriais que pretendem estar preparados para os desafios do futuro, podem reformular completamente a cadeia de valor comercial e industrial tradicional e, ao fazê-lo, criar vantagens competitivas sem precedentes. Nesta perspectiva, a indústria 4.0 pode proporcionar melhorias de desempenho, sendo necessário delinear uma visão estratégica para esta viagem e um roadmap de implementação dessa mesma estratégia.

Entende-se que, para alcançar melhorias de desempenho reais e sustentáveis, é necessário que a implementação das iniciativas indústria 4.0 seja bem-sucedida. Os executivos reconhecem que a adopção da indústria 4.0 acarreta um enorme desafio e exigirá uma transição massiva ao nível de recrutamento e da formação dos colaboradores. As capacidades tradicionais de fabricação precisam de ser escaladas ou substituídas por novas competências e requisitos como automação, programação, dados e análises, Inteligência Artificial, integração de sistemas e desenvolvimento de softwares. As novas abordagens proporcionadas pela indústria 4.0 permitem criar novos modelos operacionais que, por sua vez, impõem mudanças adicionais às organizações e aos seus colaboradores, num "ciclo virtuoso" que se alimenta a si próprio.

Para ser claro, a indústria 4.0 não é sobre uma tecnologia em particular, ou Big Data, mas sobre a adopção de um conjunto de capacidades, tecnologias, abordagens e metodologias que, quando combinadas e aplicadas a um desafio empresarial específico, podem oferecer vantagens únicas, tendo como objectivo final a melhoria de desempenho, eficiência e produtividade das empresas.

Uma abordagem possível é a de unir os elementos corporativos e operacionais do ecossistema indústria 4.0, simplificando a estrutura para o sucesso em seis áreas principais que devem trabalhar em conjunto para impulsionar o sucesso da estratégia adoptada:

¦ Excelência operacional;

¦ Experiência do cliente;

¦Estratégia e modelos de negócio;

¦ Tecnologias e sistemas;

¦ Pessoas;

¦ Governo e gestão de riscos;

A Covid-19 foi um alerta para as empresas a nível mundial, que pressionou e fatigou as cadeias logísticas e produtivas das empresas globalmente, sendo que as empresas que tinham adoptado nas suas estratégias uma abordagem à indústria 4.0 foram as que melhor se posicionaram. Essas iniciativas no âmbito da indústria 4.0 representaram factores-chave para ajudar as empresas a ter argumentos que permitiram sobreviver à pandemia.

Como referido acima, em Angola, o potencial de crescimento do PIB devido à industrialização é significativo, e a indústria extractiva ou transformadora pode ter aqui uma oportunidade para começar a implementar algumas iniciativas no âmbito da indústria 4.0, de forma a fortalecer os factores críticos para o seu sucesso, podendo, posteriormente, escalar e acelerar a adopção destas iniciativas pela generalidade do tecido empresarial angolano, permitindo assim competir para a captura de valor das importações pela produção nacional.

*Inclui pesca, electricidade, diamantes, indústria transformadora e ajustamentos (serviços de intermediação financeira indirectamente medidos, imposto sobre produtos, subsídios)