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Opinião

China: Um parceiro ideal para Angola?

CONVIDADO

Angola deve continuar a investir no intercâmbio de experiências com a China, absorvendo tecnologias e modelos de gestão que possam ser adaptados à nossa realidade, mas sempre preservando a nossa soberania. Afinal, um parceiro ideal não é aquele que dita caminhos, mas aquele que caminha ao nosso lado, respeitando a nossa autonomia.

A relação entre Angola e a República Popular da China é, sem dúvida, uma das mais estratégicas do continente africano no século XXI. Trata-se de uma parceria que não apenas se baseia em interesses económicos imediatos, mas que se projecta como um modelo de cooperação pragmática, assente em princípios de respeito mútuo, soberania e benefícios recíprocos.

No plano internacional, a China ocupa um papel de relevo no Conselho de Segurança das Nações Unidas, destacando-se como uma das potências que mais investe no sector da segurança em África. A sua presença não se traduz em intervenções militares ou em imposições unilaterais, mas em missões de manutenção da paz, apoio logístico e capacitação técnica. Esta postura revela de facto uma diferença fundamental em relação a outras potências, ao privilegiar o diálogo político, a pacificação e a consulta mútua na resolução de crises africanas, em vez de práticas intervencionistas que tantas vezes fragilizam os Estados.

No campo económico, tem-se visto que a China consolidou-se como o maior investidor em infraestruturas sociais e estratégicas no continente, em especial em Angola. Já são mais de 400 empresas chinesas que actuam em Angola, com investimentos acumulados de cerca de 24 mil milhões USD. Entre 2002 e 2024, Angola beneficiou de obras de grande impacto social e económico financiadas por capitais chineses, como a reabilitação da linha férrea de Benguela, a construção da nova marginal de Luanda, o novo aeroporto internacional de Luanda, estradas nacionais, hospitais, universidades e centrais eléctricas. Estas infraestruturas, além de contribuírem para a mobilidade, saúde pública e a produção de energia, constituem alicerces indispensáveis para o desenvolvimento sustentável.

Estimativas de estudos apontam que em empresas chinesas de infraestruturas, uma grande parte da força de trabalho é composta por angolanos. A título de exemplo, em projectos chineses em Angola, cerca de 74% da mão-de-obra usada é local. Isto traz benefícios duplos: por um lado a redução do desemprego local e, por outro, aumento de capacidades técnicas nacionais reforçando o compromisso social e estratégico, além do "visível" que a China tem com Angola, tornando-se cada vez mais num parceiro ideal para continuidade e aprofundamento das relações bilaterais entre os dois governos.

Um outro dado importante, quase nunca considerado, foi a inauguração de um Centro Integrado de Formação Tecnológica (CINFOTEC). É importante mencionar que este centro foi doado pelo governo chinês, com 30 laboratórios e 6 oficinas (robótica, máquinas, informática, medições, reparações automotivas) em Janeiro de 2024 na província do Huambo. Esta iniciativa é significativa, porque fortalece o capital humano angolano, uma vez que este centro vai formar cerca de 1200 a 1800 angolanos por ano. Outro aspecto decisivo desta parceria é a política de tarifas zero aplicada pela China às exportações de produtos africanos, incluindo os angolanos. Este gesto reforça a abertura do mercado chinês às economias africanas e representa uma oportunidade única para diversificar as exportações de Angola, para além do petróleo, estimulando sectores como a agricultura, as pescas e as indústrias transformadoras. Mas, no quadro desta iniciativa, é indispensável mencionarmos a nossa preocupação quanto aos poucos benefícios que Angola em particular tem aproveitado dessa iniciativa chinesa, uma vez, que até à presente data somente 4 empresas angolanas têm exportado para o mercado Chinês a custa zero.

Portanto, chama-se aqui a atenção do nosso Ministério da Indústria e Comércio que atente aos padrões técnicos e sanitários e testificação da origem dos nossos produtos, tal como é exigido pela alfândega chinesa para melhor beneficiarmos dessa iniciativa.

No geral, do ponto de vista macroeconómico, os investimentos chineses têm representado um contributo significativo para o Produto Interno Bruto (PIB) de Angola, gerando emprego, estimulando a circulação de capitais e, sobretudo, fornecendo bases sólidas para a industrialização. O exemplo da própria China, que em poucas décadas deixou de ser um país subdesenvolvido para se tornar a segunda maior economia mundial e por ter erradicado a pobreza extrema, deve inspirar Angola a acelerar o seu processo de modernização.

Contudo, é fundamental que essa aproximação continue a ser conduzida sob a égide da realpolitik, onde prevaleça o pragmatismo e a busca por interesses nacionais estratégicos. Angola deve continuar a investir no intercâmbio de experiências com a China, absorvendo tecnologias e modelos de gestão que possam ser adaptados à nossa realidade, mas sempre preservando a nossa soberania. Afinal, um parceiro ideal não é aquele que dita caminhos, mas aquele que caminha ao nosso lado, respeitando a nossa autonomia.

Diante deste quadro, a China desponta como um parceiro incontornável para Angola. Mais do que números, obras ou investimentos, o que está em causa é a possibilidade de transformar esta relação em um motor de prosperidade comum, capaz de projectar Angola no cenário global como um país moD.R. derno, estável e desenvolvido.

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