FPU: Um projecto iníquo para o combate político
A história mostra que quando os partidos, com ambições ambivalentes, se unem apenas por conveniência eleitoral, o risco existe. E a ruptura e a instabilidade estão sempre latentes nas intempéries do contexto. É o que prevaleceu. Foram juras de amor, trocas de favores e promessas de cargos que os juntou.
O Congresso do PRA-JÁ Servir Angola, que formalizou a legalidade de Abel Epalanga Chivukuvuku como líder eleito da organização partidária, expôs, de forma evidente, as clivagens e a rotura previsível com a Frente Patriótica Unida (FPU), sempre cogitada. Chivukuvuku anunciou a saída oficial da coligação durante o discurso de encerramento do primeiro congresso ordinário do partido, realizado em Luanda.
Conhecendo as ambivalências de Abel Chivukuvuku quase ninguém atento ao cenário político nacional deixou de antever que a FPU era um projecto de desconexões em frangalhos. Agora, ele confirmou: "Já sofremos muito com essa questão da FPU. Temos que nos preparar para avançar sozinhos, mas estamos abertos à eventualidade de conversas com outras forças políticas - desde que essas conversas tenham regras claras".
Ao condenar em tom catastrofista, os engulhos e as tibiezas, da FPU, Chivukuvuku assume o que não verbalizou, - e se pode inferir -, é simples. Qualquer projecto de aliança, a regra "sou eu". Quem quiser vai ter de me "engolir". Há muito tempo que tais posicionamentos vinham da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Isaías Samakuva, muito recentemente, numa rádio prenunciava a rotura. E isso era visto por todos, claramente.
Em política e nos partidos políticos a ambição é o poder. Chivukuvuku não é diferente. Ele é o chefe, é a boca e o fundo do poço. Todos devem obediência às regras dele. Mas, Samakuva amplificou ainda mais isso, no final da reunião da Comissão Política da UNITA, no dia 24 de Maio. Sem entrar em pormenores, ele mostrou que existem contrariedades profundas com Chivukuvuku. Ao longo daquele casamento político tudo estava evidente, principalmente, entre a direcção da UNITA e o próprio presidente do PRA-JÁ.
Como continuo a trafegar, no campo das percepções, infiro que, deste divórcio agridoce, a coligação, formada para disputar eleições em 2022, não resistiu às estratégicas ambivalentes, principalmente devido às desvantagens e consequências negativas, no domínio representativo.
Em 2022, o PRA-JÁ não tinha força legal, era um projecto nanico, impedido de concorrer por questões conhecidas. A perda de identidade legal do PRA-JÁ, naquela altura, serviu de justificação a Chivukuvuku para unir-se à UNITA sobreviver no cenário público, por conveniências eleitorais. Isso, talvez, enfraqueceu a coerência programática da FPU e dificultou a compreensão do eleitor sobre o que a coligação representava de facto.
A história mostra que quando os partidos, com ambições ambivalentes, se unem apenas por conveniência eleitoral, o risco existe. E a ruptura e a instabilidade estão sempre latentes nas intempéries do contexto. É o que prevaleceu. Foram juras de amor, trocas de favores e promessas de cargos que os juntou. Isso estimulou uma actuação fragmentada e oportunista, que a fez perder a função de organização programática e até, mesmo, ideológica, embora Chivukuvuku fosse, na altura, o filho prodígio. 2027 está às portas. As águas dividem-se, os campos desenham-se. E, como vão as coisas, a FPU pode ser um projecto a ser tragado, iníquo, custoso e de baixo incentivo à eficiência para o combate político.
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