Universidades preparam aumentos de propinas para o próximo ano
As universidades privadas estão autorizadas por decreto a aumentar as propinas com base na taxa de inflação homóloga verificada em Maio de cada ano. Economistas e académicos criticam a base que se encontrou para ajuste de propinas, que vai arrasar os rendimentos das famílias.
Universidades privadas angolanas estão a preparar aumentos de propinas para o próximo ano lectivo, beneficiando da "autorização" concedida por decreto que permite ajustamentos de preços com base na inflação homóloga registada nos meses de Maio de cada ano.
Assim, as universidades estão autorizadas a fazer aumentas até 20,74% sobre o valor actual das propinas, uma vez que esta é a inflação homóloga registada no mês passado. O Governo definiu que as instituições de ensino superior passam a ajustar o valor das propinas com base na taxa de inflação homóloga de Maio de cada ano, tal como aconteceu nos últimos três anos lectivos em que algumas instituições aumentaram as propinas, obedecendo o limite.
Estudantes mostram-se preocupados uma vez que já há universidades que já começam a preparar aumentos de propinas. Ao que o Expansão apurou, na Universidade Metodista há cursos cujas propinas vão aumentar para 79.446 Kz, o que representa um aumento de 21%.
Jorge Pinto, antigo presidente da Associação de Estudantes da Universidade Nelson Mandela, sublinhou que qualquer aumento deve ser feito na base do decreto e para as instituições que obedecerem na íntegra a aplicação do decreto apela-se ao bom senso. Isto porque os estudantes universitários e as suas famílias vão perder mais uma vez capacidade financeira, o que poderá comprometer o pagamento das propinas ou outros emolumentos.
"No ano lectivo passado, algumas instituições fizeram aumentos de propinas. Por exemplo, a Universidade Metodista de Angola fixou propinas de 30 para 35 mil. Se esta instituição ou outra voltar vai complicar ainda mais a vida dos estudantes, que já denotam incapacidade de conseguir pagar para concluir o curso, então é preciso que se comece a pensar para onde estamos a caminhar".
O economista e professor universitário Agostinho Mateus entende que noutros cenários económicos é razoável que se utilize este critério para se estipular o preço das propinas, mas em Angola deveria ser diferente, isto porque "não conseguimos controlar a inflação". "O critério de ajuste da propinas em função da inflação não deve ser feito apenas na venda do produto, mas também no poder de compra, ou seja, deve ser feito nos dois lados, porque senão não resolve o problema de quem vende e nem de quem compra".
Universitários contra possíveis aumentos
Desde o período que se adaptou a inflação homóloga de Maio como base de cálculo para o reajuste de propinas, em cada ano lectivo é trazido para a mesa propostas de reajuste dos preços que deixam os estudantes de "cabelo em pé".
"Não se percebe como é que em todos os anos as instituições têm que falar em aumentos só porque existe uma base de cálculo que em cada ano vai variando com a sua percentagem. Realmente, estudar aqui não é fácil", lamenta um estudante do curso de ciências económicas e jurídicas do Instituto Superior Politécnico Maravilha, sublinhando que o mais difícil é o facto de não se notar melhoria nos ordenados dos que ensinam nem nas infrasestruturas que as instituições apresentam.
"Hoje, em quase todo o País, ainda temos universidades que para encontrar carteiras é difícil, porque as salas estão abarrotadas, pensam apenas no lucro, e nem notamos grandes melhorias no apetrecho das infraestruturas, então é complicado quando em cada ano lectivo se aborda a questão do aumento da propina", sublinha o estudante.
Em 2023 a inflação homóloga em Maio foi de 10,62%, no mesmo mês do ano passado foi de 30,16% e este ano é de 20,74%.
Edição 831 do Expansão, de Sexta-feira, dia 20 de Junho de 2025