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Com 32 anos de carreira, Banda Maravilha está de fora da festa de 50 anos da Dipanda

UM DOS PRINCIPAIS GRUPOS MUSICAIS DO PAÍS

Foi com o espírito de unidade e alegria que a Banda festejou mais um ano de caminhada. Ao Expansão, os embaixadores do semba contaram a sua trajectória e revelaram o seu sonho, desde levar o semba a todos os angolanos até à construção da casa da Banda Maravilha.

No dia 14, segunda-feira, a Banda Maravilha completou 32 anos de existência. Qual o balanço que fazem desse percurso?

O balanço é super, hiper, mega positivo. Porque, em primeiro lugar, honramos o propósito que nos levou a criar este grupo, que era impor a música angolana de raiz e de qualidade, numa altura em que no País se consumia muito a música estrangeira. Este propósito de impor a nossa música foi atingido. Hoje em dia já se consome muito mais música angolana do que se consumia naquela altura. Depois, por outro lado, também as nossas pesquisas à volta do semba e à volta dos seus derivados deram os melhores frutos possíveis e a prova está aí nos nossos CD"s. Portanto, o balanço é super positivo.

E como estão a festejar esses 32 anos?

A festa está a ser de uma maneira mais nossa, mais modesta. Não temos dinheiro, não temos nada para fazer uma grande festa, no sentido de divulgar os nossos 32 anos. Mas é com a nossa união, a nossa alegria, que estamos a festejar os nossos 32 anos. Algumas pessoas ligaram-nos a parabenizar e assim estamos a festejar, felizes.

Por que o nome "Banda Maravilha"?

Essa pergunta é interessante, porque parece que nós nos achamos os maravilhosos. Não somos assim tão bonitos. Não somos os melhores tocadores. Nem nada disso. Esse nome nasce porque a Banda Maravilha, no início, fazia parte de um programa de televisão que era apresentado pelo André Mingas. O nome do programa era "Agentes e Tons". O programa começou a ganhar muita audiência e a Banda muita popularidade e as pessoas perguntavam pelo nome da Banda, porque era um grupo de amigos que ia se encontrando para fazer o programa. Até que a Delfina, assistente de reali ação do programa, disse que esta banda é uma maravilha e o nome ficou. Não fomos nós a dar esse nome.

A banda já sofreu várias mutações em termos de membros. Como pensam em perpetuar a Banda Maravilha?

De facto, a Banda Maravilha já sofreu algumas alterações, e esta se calhar já é a quinta geração. Dos mais antigos estamos apenas três, o Moreira, o Marito e o Miquéias. E ao longo do tempo, à medida que vão saindo alguns músicos, uns por melhores ofertas e outros por estarem aqui já há algum tempo, nós fomos sempre incluindo novos elementos, mas baseados na juventude. Porque se tivermos que pôr apenas músicos já consagrados, acho que a gente não está a fazer nada. E temos aqui a prova destes estes jovens, a Djanira, o Isau, o Léo e o Domingão, que é o mais jovem da banda. Agora a banda é composta por 70% de jovens. E isso vem dar também outra nuance à banda. Novas ideias, porque eles são bons músicos, esses jovens, são muito bons músicos.

Os jovens acabam por trazer também novas dinâmicas à Banda?

Sim. Se juntarmos as ideias deles, mais revolucionárias, como se diz, à nossa antiguidade, estamos a fazer um trabalho bem aceitável e que toda a gente gosta. E é por isso que a banda está sempre cada vez mais coesa. A nossa intenção, quando incluímos um elemento novo na banda, é que seja um jovem talentoso e com capacidade de assimilação. E aqui, talvez, se calhar, também dou uma chega ao facto de nós termos o projecto da Casa da Banda Maravilha. O Domingão, com 10 anos, e mais alguns meninos que estudavam aqui ao lado da nossa sala de ensaios, vinham sempre assistir aos nossos ensaios. Os nossos ensaios sempre foram e são sempre abertos. Quem quiser pode assistir. As pessoas é que não vêm. É um menino extremamente talentoso e muito atrevido. Como qualquer criança, queria mexer em todos os instrumentos e isso despertou nele o instinto musical. Hoje, com 21 anos, é um dos membros da Banda Maravilha. Se nós tivéssemos uma sala onde pudéssemos, em vez de ter o Domingão mais duas ou três crianças, ter 30, 40, quantas crianças, quantos talentos não iam despontar para o nosso mercado musical?

Isso também permite convencer um público de várias idades?

São jovens que nos trazem coisas modernas e a gente moderniza sempre. Ajudam-nos a não fazer o semba ficar estático. E isso traz- -nos um público com várias gerações. Nós não somos uma banda agradável só para os velhos, como se diz. Tem muitos jovens que nos apreciam, que nos seguem e gostam das nossas músicas.

Fora essa abertura que dão ao inserir jovens à Banda. De que forma é que transmitem conhecimento à nova geração?

Em princípio, nós recebemos a nova geração de forma que eles façam a música sem perder o sentido da raiz. Esse é o nosso principal objectivo. Mesmo que eles façam novos ritmos, acrescentem novas coisas à música, ao semba principalmente, porque é do semba que a gente está aqui a falar, há sempre novas ideias. E isso tem casado muito bem com aquilo que fazemos.

Alguns músicos mais conservadores alegam que a nova geração está a distorcer a identidade da música. A Banda Maravilha concorda?

De facto, alguns distorcem, mas há muitos que estão a contribuir bastante para que o semba tenha uma nova cara e esteja a evoluir.

Já participaram em trabalhos de vários artistas, como também já pisaram em vários palcos. O que falta a Banda fazer?

Nós, de facto, já participamos em vários espectáculos. Não conseguimos sequer contá-los. Já pisámos inúmeros palcos. Mas sentimos que o nosso legado, apesar de nós incluirmos, por exemplo, jovens na banda, a quem estamos a passar o testemunho, apesar de darmos alguma formação a alguns mais jovens que nos visitam e que nos seguem, que nos acompanham, nós sentimos que ainda podemos dar mais. E um dos nossos sonhos seria ter a Casa da Banda Maravilha. Seria um espaço onde nós pudéssemos fazer ensaios abertos ao público, onde as pessoas pudessem vir beber realmente dos nossos conhecimentos, dos nossos ensinamentos, e aí, sim, poderia dizer que nos sentiríamos mais realizados.

O que falta para concretizar esse sonho?

O velho problema de sempre, os apoios financeiros, porque nós teríamos que construir uma casa de raiz. Nós vivemos numa cidade, numa sociedade completamente saturada, onde não há casas para alugar nem para comprar, nem temos sequer essa possibilidade. Então teríamos que construir de raiz, e para isso eram necessários os meios, eram necessários os apoios. Essa é a parte que nós não temos, nunca tivemos, e já não acreditamos que venhamos a ter.

Leia o artigo integral na edição 835 do Expansão, de Sexta-feira, dia 18 de Julho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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