Malparado encolhe 250 milhões USD no I trimestre para 1.850 milhões USD
Apesar da queda, admite-se que o malparado pode voltar a crescer, uma vez que o Governo tem aplicado políticas tendencialmente geradoras de inflação, com várias subidas de preços. A inflação é uma espécie de imposto escondido que "come" o rendimento das famílias e das empresas e pode influenciar também a capacidade destas em cumprir as suas obrigações com a banca no que ainda resta do ano.
O malparado da banca angolana encolheu 2,0 pontos percentuais, para 17,2%, em Março deste ano face a Dezembro de 2024, o que significa que dos 9,8 biliões Kz que valia o crédito bruto da banca no I trimestre, cerca de 1,7 biliões Kz (equivalentes a 1.850 milhões USD) estavam em incumprimento, de acordo com cálculos do Expansão com base nos dados do Banco Nacional de Angola (BNA).
Contas feitas, em apenas três meses, o malparado caiu 231,3 mil milhões Kz, equivalente a 250 milhões USD (ver gráfico). Trata-se da taxa de crédito malparado mais baixa desde Fevereiro de 2024, quando estava fixada em 14,3%. Já em termos de valores malparados na banca, trata-se do valor mais baixo dos últimos cinco meses.
Assim, por cada 1.000 Kz de crédito bruto do sistema financeiro nacional, cerca de 172 Kz estavam malparados em Março. Ainda assim, longe vão os tempos em que o malparado valia 34,5% do crédito bruto da banca, como aconteceu em Junho de 2019. Com o total do crédito bruto de 4,9 biliões Kz, à taxa de câmbio da altura equivalia a 14.494 milhões USD, o que significa que o malparado em Junho de 2019 era de 5.000 milhões USD, que baixou substancialmente, quando em Junho de 2020 a Recredit "assumiu" o crédito em incumprimento do maior banco público, o BPC.
A queda nestes três meses deve- -se, essencialmente à descida do valor total do crédito bruto, que passou de quase 10,0 biliões Kz para pouco mais de 9,8 biliões, ou seja, menos 167,2 mil milhões Kz. O crédito bruto, de acordo com dados do BNA, inclui o crédito bancário concedido a não residentes, à administração central, ao sector público (excluindo administração central), ao BNA, a outras instituições financeiras monetárias e não monetárias, bem como ao sector privado. Nestes três meses, destaque para a redução do crédito concedido ao BNA (-403,8 mil milhões Kz) e ao sector privado (- -115,3 mil milhões USD). Em sentido contrário, foi junto dos não residentes que o crédito mais cresceu (+194,4 mil milhões Kz) e também à administração central (89,9 mil milhões Kz).
Até à publicação destes dados relativos ao malparado na banca, através da base Indicadores de Solidez Financeira do Sector Bancário, o BNA avançava com os números mês a mês. Mas relativamente a 2025, apenas publicou dados do mês de Março, não publicando Janeiro e Fevereiro, o que acontece pela primeira vez.
A queda do malparado este ano contrasta, assim, com a forte subida verificada no ano passado, já que entre Dezembro de 2023 e Dezembro de 2024 subiu de 15,6% para 19,2%, representando mais cerca de 700 milhões só em crédito de cobrança duvidosa, para um total de 2.100 milhões USD. O aumento no ano passado resultou da subida das taxas de juro verificadas no primeiro semestre de 2024, depois de o BNA aumentar, por duas vezes, a taxa básica de juros e as facilidades permanentes de cedência e absorção de liquidez em Março e em Maio, e de ter suspendido empréstimos de dinheiro à banca.
Como os bancos que ficaram sem liquidez foram obrigados a recorrer ao interbancário para se financiar, as taxas Luibor dispararam desde Dezembro de 2023, com a Overnight a passar de 4,00% até bater o recorde de 32,6% no início de Setembro do ano passado, e fixar-se em 22,7% no final de Dezembro. Normalmente, quando alguém vai a uma instituição bancária pedir crédito, o banco cobra-lhe uma taxa Luibor mais uma margem que depende do risco desse cliente. Ou seja, os créditos viram as suas prestações subir exponencialmente, agravando as dificuldades das famílias e das empresas em cumprir as suas obrigações, dando margem para o aumento do malparado.
Leia o artigo integral na edição 834 do Expansão, de Sexta-feira, dia 11 de Julho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)