Quando começo a perguntar "O Que Entrego?", tudo muda
Este questionamento, feito no silêncio do pensamento ou partilhado numa conversa de corredor, tem o poder de mudar profundamente a forma como profissionais se relacionam com o seu trabalho e, mais importante ainda, de influenciar directamente os resultados da organização.
Num dia qualquer, no meio da correria típica de uma organização em funcionamento, alguém interrompe o fluxo habitual da rotina com uma simples pergunta: "O que é que estou realmente a entregar?"
Este questionamento, feito no silêncio do pensamento ou partilhado numa conversa de corredor, tem o poder de mudar profundamente a forma como profissionais se relacionam com o seu trabalho e, mais importante ainda, de influenciar directamente os resultados da organização.
Porque a carreira não se constrói apenas com o que se faz. Constrói-se com aquilo que se entrega com consciência, impacto e responsabilidade. E é nesse momento que a transformação começa: quando deixamos de contabilizar apenas horas, tarefas e presença, e passamos a medir valor, relevância e sentido.
A pergunta "o que entrego?" obriga-nos a sair do automático. Obriga-nos a encarar com coragem se aquilo que estamos a produzir corresponde ou não ao nosso potencial. Se a nossa contribuição está alinhada com os resultados esperados, e mais ainda, com a visão que temos para o nosso próprio crescimento.
Nas organizações, profissionais que se posicionam com este nível de consciência tornam-se elementos diferenciadores. Entregam mais do que objectivos cumpridos: entregam visão, entregam ética, entregam constância, entregam qualidade. A sua presença passa a ser estratégica, não apenas funcional.
Esse tipo de profissional não espera ser lembrado para contribuir. Ele antecipa necessidades, propõe melhorias, comunica com clareza e lidera com o exemplo, mesmo sem um cargo formal de liderança. E ao fazer isso, impacta directamente na performance de equipas, nos indicadores de produtividade e no fortalecimento da cultura organizacional.
Por outro lado, nas empresas que incentivam esta pergunta como uma prática constante e não como uma excepção, o ambiente transforma-se. As metas passam a ser mais significativas, os relacionamentos mais colaborativos e as decisões mais assertivas. A confiança cresce porque cada um sabe que está rodeado por pessoas que entregam o seu melhor.
Perguntar "o que entrego?" é também um acto de responsabilidade emocional. É reconhecer que o nosso comportamento, o nosso estado de espírito e a nossa forma de comunicar também são entregas. E que estas, muitas vezes, são mais duradouras do que qualquer relatório finalizado ou reunião conduzida.
No contexto de uma carreira, esta mentalidade é o que separa o profissional comum daquele que evolui com consistência. Porque quem se habitua a entregar com consciência, carrega uma marca que vai consigo para onde quer que vá. É esse tipo de perfil que o mercado valoriza, que as empresas querem reter e que outros profissionais admiram.
O maior risco de não fazer esta pergunta é a estagnação. Profissionais que não se revêem no que entregam acabam por se desligar emocionalmente do que fazem, tornam-se reactivos, evitam responsabilidades e limitam o seu crescimento. E quando isto acontece em massa, o impacto na organização é imediato: baixa motivação, rotatividade elevada, conflitos latentes e perda de foco nos objectivos.
Por isso, esta reflexão é tão importante para a carreira individual quanto para a saúde das organizações. Ela não é sobre auto- -avaliação apenas, mas sobre o compromisso com a entrega de valor em tudo o que se faz. E, sim, é um processo que exige coragem. Porque ao perguntar "o que entrego?", enfrentamos também aquilo que não estamos a entregar. Reconhecemos lacunas, lidamos com desconfortos, aceitamos que podemos e devemos melhorar.
Mas é exactamente neste espaço de vulnerabilidade e honestidade que reside a chave para a evolução. Quando um profissional se responsabiliza pelas suas entregas, deixa de esperar que o ambiente mude e começa ele próprio a ser agente de mudança. E isto, inevitavelmente, contagia quem está à volta.
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