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África

RDC e Angola entre países que pagam milhões por lobbying

MAIORIA DAS EMPRESAS CONTRATADAS TEM LIGAÇÕES AO NOVO PRESIDENTE DOS EUA, DONALD TRUMP

A "crescente influência" junto de decisores políticos leva muito governos estrangeiros a contratar empresas de lobbying para "tentar influenciar as políticas americanas", evidencia a ONG Global Witness, que levanta a opacidade dos novos contratos de minerais.

Seis países africanos, entre os quais Angola e a RDC, estão entre as 17 economias menos desenvolvidas que assinaram contratos de lobby com empresas ligadas ao Presidente dos EUA, Donald Trump, desde as eleições de 2024, num contexto em que os EUA trocaram a ajuda externa por acordos de minerais com países em desenvolvimento, revela um relatório da Global Witness. A ONG britânica defende que os acordos que envolvam o acesso a recursos naturais em países estrangeiros devem ser feitos de "forma transparente, justa e sem coação" e apela à Casa Branca que restabeleça a Lei de Práticas de Corrupção no Estrangeiro (FCPA), uma vez que a sua revogação está a criar oportunidades para a exploração de "acordos obscuros em Estados frágeis e ricos em recursos".

A RDC é entre os seis africanos o país com o maior número de contratos e Angola também figura na lista, com um contrato de 3,8 milhões USD com a Squire Patton Boggs, empresa com quem o governo de João Lourenço estabeleceu ligações comerciais, em 2019, no primeiro mandato de Trump.

"Estes países esperam fechar acordos que ofereçam à maior economia do mundo o acesso a recursos valiosos, especialmente minerais ou outros activos estratégicos, em troca de apoio humanitário ou militar", resume a Global Witness, ONG com sede em Londres e escritórios em Washington e Bruxelas.

O relatório refere que "Angola, República Democrática do Congo (RDC), Libéria, Moçambique, Ruanda e Somália contrataram empresas de lobbying lideradas por figuras próximas do ocupante da Casa Branca" e "gastaram vários milhões de dólares, mesmo com Washington a cortar a ajuda às nações mais pobres do mundo".

O relatório detalha que os contratos assinados pelos 17 países ultrapassam os 21 milhões USD e envolvem países como o Iraque, Paquistão, Índia e Cambodja.

O levantamento tem por base os registos das empresas de lobbying junto do Departamento de Justiça dos EUA, ao abrigo da Lei de Registo de Agentes Estrangeiros (FARA).

Influenciar políticas

Os EUA são o único país do mundo onde o lobbying é regulado por lei. Contudo, a "crescente influência deste sector nos decisores leva há muito os governos estrangeiros a contratar estas empresas para tentar influenciar as políticas americanas que os poderiam afectar significativamente", evidencia a ONG, levantando preocupações sobre a dinâmica que impulsiona os novos contratos de lobbying.

A título exemplificativo, aponta os casos de Angola, país que gasta mensalmente 312.500 USD por mês num contrato com a Squire Patton Boggs, "empresa com laços conhecidos com o círculo de Trump". E a RDC que paga mensalmente 100 mil USD à Ballard Partners, propriedade de Brian Ballard, um importante doador da campanha de Trump.

A 21 de Março, o Expansão deu conta de contactos ao mais alto nível de uma empresa de lobbying contratada pelo governo da RDC para o estabelecimento de um acordo de segurança com a Administração Trump, em troca de "direitos de extracção e exportação" de minerais estratégicos. Os contactos, que envolveram o secretário de Estado, Marco Rubio, começaram em Fevereiro, meses antes de os EUA assumirem um papel importante nas negociações de paz entre RDC e o Ruanda, que em Março passaram a ser mediadas pelo Qatar, o que levou Angola a afastar-se como mediador no conflito no leste da RDC.

Segundo a Global Witness, a RDC, juntamente com a Ucrânia, está entre os países mais afectados pelo congelamento da ajuda americana. Em 2024, Kinshasa foi o maior beneficiário da ajuda humanitária em todo o mundo, recebendo 910 milhões USD.

No dia em que Donald Trump assinou uma ordem executiva a congelar a ajuda, a "RDC assinou um contrato de lobbying com a Ballard Partners". A empresa teve um aumento dos lucros maior do que qualquer outra desde o regresso de Trump ao poder, segundo uma análise do Político, e foi base de recrutamento da Administração Trump. A actual chefe de gabinete de Trump, Susie Wiles, trabalhou para a Ballard Partners, assim como Pam Bondi, que renunciou ao cargo de sócia no início deste ano para se tornar se a 87ª Procuradora-Geral dos EUA.

Leia o artigo integral na edição 836 do Expansão, de Sexta-feira, dia 25 de Julho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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