Aumento de 25% dos salários "comido" pelos aumentos
Após o aumento dos salários da função pública, as famílias passaram a gastar mais com energia, água, combustível e transportes.
Apesar do aumento de 25% em todas as categorias da função pública, que foi aplicado em Fevereiro de 2025 (com retroactivos a partir de Janeiro deste ano), prevista no Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2025, o ajuste não repôs o poder de compra da maioria dos trabalhadores e está a ser dissolvido pelas subidas das tarifas dos preços como o gasóleo, luz e água, transportes e educação.
Desde o incremento salarial, de lá para cá o gasóleo disparou 167%, com duas subidas (em Abril de 200 Kz para 300 Kz e depois em Julho para 400 Kz), as facturas da luz subiram quase 50% para a maioria das famílias, as da água 30% e os transportes subiram 50%.
Para o economista Francisco Xavier Pedro, em termos reais, o poder de compra dos salários da função pública está a ser erodido pela evolução dos preços em sectores fundamentais ao consumo das famílias, ou seja, em bens e serviços de primeira necessidade. "A inflação acumulada nos primeiros seis meses do ano, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística, ronda os 7,5%, absorvendo parte considerável do aumento salarial concedido no início do ano. A subida dos preços nos sectores de combustíveis, energia, transportes e educação acarreta efeitos regressivos, afectando desproporcionalmente os agregados familiares de rendimentos mais baixos", explicou.
Quanto à inflação dos bens e serviços não transaccionáveis, como saúde, educação e transportes, que está a crescer a um ritmo superior ao dos bens alimentares, Francisco Xavier Pedro entende que tem contribuido para a redução do rendimento disponível real das famílias.
Assim, para o economista, o aumento salarial de 25%, embora significativo em termos nominais, foi parcialmente neutralizado pela inflação acumulada e pelo impacto dos reajustes nos preços administrados. "A médio prazo, tal cenário exige medidas de compensação e ajustamento fiscal, sob pena de se agravar o desfasamento entre rendimentos e custo de vida", rematou.
Recordar que o secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores Angolanos-Confederação Sindical (UNTA-CS), considerou que devido à perda constante do poder de compra dos trabalhadores, dificilmente haveria um ajuste que compensasse o bolso dos trabalhadores. "Ao logo dos anos, os salários perderam poder de compra devido à inflação e não só. Em relação à cesta básica, a situação não foi diferente. É verdade que o ajuste para muitos não é nada, mas é o começo, já que o acordo é para um aumento igual em 3 anos", disse em Abril José Laurindo ao Expansão.