Distribuição da riqueza
O desafio para o desenvolvimento económico, para o aumento da geração de riqueza do País, será seguramente pelo crescimento do sector não petrolífero, que teima em não disparar, apesar dos milhares de milhões USD que têm sido absorvidos em programas especiais na última década e que aumentaram drasticamente a nossa dívida. Continua a privilegiar-se os investimentos assentes em linhas de financiamento que trazem já os beneficiários dos dinheiros a serem gastos, limitando o crescimento do tecido empresarial local, o que no limite leva a mais desemprego e maior pobreza.
As projecções dos especialistas apontam para a estagnação da economia, leia-se PIB, para este ano de 2023, enquanto que o crescimento demográfico está estimado em 3,29%, o que quer dizer que cada angolano tem menos rendimento disponível. Por outras palavras, e numa análise meramente estatística, cada um de nós ficou mais pobre em 2023 e o País, no seu todo, passa a garantir menos riqueza a cada um dos seus cidadãos. Isto acontece há nove anos consecutivos, desde 2014, que foi o último ano em que a taxa de crescimento do PIB foi superior à taxa do crescimento demográfico.
Para aqueles que enchem a boca de "Angola é um País rico", queria apenas lembrar que na lista dos países por PIB per capita, que na verdade resume a riqueza que em princípio caberia a cada cidadão para dados de 2021, que são os últimos que estão disponíveis, Angola aparece no lugar 127 numa lista de 186 nações. Deve também olhar-se para a distribuição da riqueza gerada pelo País, que, como todos sabemos, continua a privilegiar umas centenas em detrimento dos restantes, que na verdade já ultrapassam os 36 milhões.
O desafio para o desenvolvimento económico, para o aumento da geração de riqueza do País, será seguramente pelo crescimento do sector não petrolífero, que teima em não disparar, apesar dos milhares de milhões USD que têm sido absorvidos em programas especiais na última década e que aumentaram drasticamente a nossa dívida. Continua a privilegiar-se os investimentos assentes em linhas de financiamento que trazem já os beneficiários dos dinheiros a serem gastos, limitando o crescimento do tecido empresarial local, o que no limite leva a mais desemprego e maior pobreza. E contribui muito pouco para o aumento do consumo interno, que é a premissa fundamental para desenvolver as micro, pequenas e médias empresas, a base da geração de riqueza de qualquer economia.
Já se sabia que este seria um ano complicado para todos, mas temos de ser suficientemente humildes para reconhecer que alguns países da região, apesar de não terem a bênção do petróleo, lidaram melhor com esta questão, de que é exemplo Moçambique, que prevê um aumento de 4,8% do PIB, sendo que a previsão para a média da SADC, revista o mês passado, aponta para um valor perto dos 3,2%.
Temos de nos esforçar para perceber porque é que a dimensão dos investimentos no País não gera o mesmo efeito impulsionador na economia que acontece em alguns dos nossos vizinhos. O que estamos a fazer de errado. Que opções estamos a tomar e que na verdade não estão resultar. O que temos de alterar. Que parceiros e tipo de investimentos temos de eliminar, e quais devemos manter e estimular. Este é o grande desafio da equipa económica.
E, claro, ter muito mais cuidado com a redistribuição da riqueza, para que poucos não fiquem cada mais ricos e a maioria empobreça todos os anos.