Sobre o Relatório Económico Anual de 2024
Defendemos a tese de que a principal causa da inflação se encontra do lado da oferta, com a redução dos rendimentos das exportações a fazerem cair as importações, que não foram totalmente substituídas pela produção interna não exportada, reduzindo-se, assim, a oferta ao consumo e aumentando os preços.
O CINVESTEC publicou o seu Relatório Económico Anual de 2024. É impossível reproduzir neste espaço as 142 páginas do relatório ou sequer as 10 páginas do seu resumo, pelo que apelamos à leitura do documento na íntegra em www.cinvestec.com. Nos seus 6 capítulos tratamos do produto e emprego, inflação, conta externa, ambiente de negócios, política monetária e cambial.
O produto e emprego analisa o crescimento do PIB em duas perspectivas: 1) a resultante do cálculo do INE usando a metodologia em medidas encadeadas de volume, onde o crescimento foi de 4,1%, mas, infelizmente, centrado nas extractivas (diamantes e petróleo), comércio, serviços do Estado e pescas, cujo crescimento representa uma perigosa aceleração da depredação da biomassa; 2) a resultante do nosso cálculo em valor nominal deflacionado onde o crescimento é de apenas 1,3%, com -5,3% nas "exportações", mas +4,1% na produção interna não exportada.
Ficámos um pouco mais pobres devido à queda do valor real do VAB das exportações! Sobre o emprego, destacamos que apenas recuperámos o nível dos empregos formais existentes em 2019 (antes da crise da pandemia), sendo os 2,6 milhões de empregos criados desde então quase totalmente informais. Apenas 14% das pessoas que procuram emprego conseguem um emprego formal, com 18% nas cidades e apenas 7% no mundo rural.
Esta situação obriga a que quase todos os adultos necessitem de trabalhar, atingindo a taxa de actividade mais de 90%! Sobretudo nas cidades, onde os empregos obrigam a grandes deslocações, quase todos os maiores de 15 anos saem de casa para trabalhar ou procurar emprego, abandonando as crianças ao cuidado dos irmãos mais velhos, reduzindo o aproveitamento escolar, aumentando o abandono escolar, criando uma mão-de-obra pouco produtiva e com elevados níveis de miséria e uma sociedade sem valores, onde as crianças são educadas por outras crianças! Esta situação é socialmente insustentável.
Calculámos também a "oferta ao consumo", somando toda a produção interna com as importações (excepto as de bens de investimento e serviços às petrolíferas). Esta aproximação à oferta ao consumo reduziu-se 15% desde o início da legislatura, constituindo esta redução uma medida bastante aproximada da queda do rendimento individual! Na análise sectorial, detalhamos a evolução de cada sector e mostramos as muitas inconsistências que ainda encontramos no cálculo do PIB.
Analisamos também a opinião dos empresários publicada nos inquéritos de conjuntura do INE e apresentamos para os principais sectores aquilo que pensamos serem as melhores soluções para o seu desenvolvimento.
Sobre a inflação apresentamos a tese da suavização da curva para explicar o valor apresentado pelo INE em Junho de 2023, mostrando que a inflação mensal se manteve estável perto de 1,6%, pelo menos desde Junho de 2024, o que corresponderia a uma inflação anual de 21%, mas muito provavelmente desde Julho de 2023.
Defendemos a tese de que a principal causa da inflação se encontra do lado da oferta, com a redução dos rendimentos das exportações a fazerem cair as importações, que não foram totalmente substituídas pela produção interna não exportada, reduzindo-se, assim, a oferta ao consumo e aumentando os preços.
Contudo, também do lado monetário houve alguma pressão inflacionista, com o M2 em Moeda Nacional a crescer 7,5%. Na conta externa registamos a variação positiva do saldo não-petrolífero, que melhora 5,2%, mas, infelizmente apenas pela redução da importação de bens essenciais, com o já assinalado efeito no crescimento da inflação.
A cobertura das importações pelas exportações não petrolíferas mantém-se extremamente baixa, melhorando apenas de 13,2% para 13,5%! A estrutura das exportações por categoria de produtos, mantém-se praticamente inalterada, com o petróleo a aumentar de 93,8% para 93,9%, os diamantes a baixar de 4,3 para 4,2% e a soma de tudo o resto a manter-se em 1,9%! Nesta perspectiva, não há qualquer diversificação! Na balança de rendimentos, o mais relevante são os juros e lucros cuja rentabilidade exportada desce de 8,9 para 7,9%. O investimento angolano no exterior, excluindo as reservas do BNA, passa de 32,9 para 33,5 mil milhões de USD, aumentando 0,65 mil milhões (+2,0%).
O investimento estrangeiro em Angola desce 3,4%, de 67,9 para 65,6 mil milhões de USD (-2,3 mil milhões de USD). Desde 2017, o saldo do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) cai 59%, de 29,4 para 12,0 mil milhões e o saldo de investimento externo total cai de 81,5 para 65,6 mil milhões (-20%)! As reservas internacionais tiveram um crescimento de 1.044 milhões de USD (+7,1%)! A cobertura das importações variou, desde o início da legislatura, entre os 5 e 8 meses!
Leia o artigo integral na edição 829 do Expansão, de Sexta-feira, dia 05 de Junho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)