Manipulação (2)
A manipulação da comunicação económica tem uma vida curta. E deixa manchas na credibilidade difíceis de apagar. Depois, já ninguém acredita. E quando se está a comunicar algo que é verdadeiramente positivo para a economia, a maioria dos cidadãos, dos especialistas, dos analistas internacionais, torce o nariz e procura outras fontes para confirmar.
Do ponto de vista técnico, as conferências de imprensa económicas deviam ser claras, objectivas e exactas. Fundamentalmente não deviam deixar dúvidas, não deixando espaço para a especulação e, pior, estarem sujeitas a correcções por parte dos especialistas. Do ponto de vista político, estas conferências deveriam ser inclusivas e desafiadoras, estimulando o diálogo com os jornalistas, algo que aumenta a sensação de confiança e credibilidade. Do ponto de vista estratégico, deviam assumir-se como pedagógicas, escolhendo os melhores comunicadores e explicando os conceitos em paralelo com o debitar dos números e das taxas.
Isto tudo a propósito do que depois resulta em termos de mensagem pública. São frequentes os erros, os exageros, a ausência de verdade que grande parte da comunicação social, com especial destaque para a pública, que tem tendência para o exagero dos "números bons" e para a adulteração da realidade. E isto acontece muitas vezes com o silêncio de quem emite a mensagem, em muitos casos com o objectivo de manipular conscientemente esses jornalistas.
Entendo, também, que por vezes são os próprios jornalistas, por deficiência de conhecimentos, ou por desejo de agradarem ao chefe, que escolhem de forma voluntária uma linguagem que está muito longe da realidade. Mas o que me preocupa é que na próxima conferência repete-se o fenómeno, não se esclarece as nuvens que ficaram na comunicação anterior, pontapé para a frente e fé no ponta de lança. E acabamos todos por pensar que estamos a viver num mundo que afinal não existe, numa cloud que não tem a ver com o dia-a-dia dos cidadãos.
Toda esta "lenga lenga" para dizer que os ministros, secretários de Estado, presidentes de empresas públicas, responsáveis máximos dos reguladores e das instituições públicas têm a obrigação de fazer entender, de trabalharem a forma como se exprimem. E, mais importante, falarem verdade. E repetirem as vezes que forem necessárias essas verdades para que não se construam nos jornais, nas rádios e televisões essas tais visões desajustadas.
A manipulação da comunicação económica tem uma vida curta. E deixa manchas na credibilidade difíceis de apagar. Depois, já ninguém acredita. E quando se está a comunicar algo que é verdadeiramente positivo para a economia, a maioria dos cidadãos, dos especialistas, dos analistas internacionais, torce o nariz e procura outras fontes para confirmar. Criou-se uma imagem de bajulação colectiva nos órgãos de comunicação públicos, que faz mal a todos. E ao País.
E alguém com responsabilidade para tal tem de alterar a situação rapidamente, e não estar embevecido com esta atmosfera cor-de-rosa apenas para justificar as suas insuficiências e carências de gestão, usando a manipulação como remédio para resolução de todos os problemas do nosso País.