"Financeiramente o teatro não me faz rir, mas faz-me sentir feliz, porque faço com amor"
A preparar o seu mais recente desafio no teatro, a actriz que neste momento está a servir o País noutro sector, faz uma análise do teatro nacional. Ao Expansão, Cláudia Gourgel aponta o crescimento, bem como as dificuldades dos profissionais.
Depois da 1.ª exibição da peça "Loucas e Prudentes" estão a preparar a 2.ª edição. Para quando?
Sim, estamos a preparar a peça teatral "Loucas e Prudentes", escrita e encenada pelo director Joel Mulemba. Na verdade, estreámos a peça o ano passado, em Outubro, no Royal Plaza. Tivemos a sala lotada e com muitas pessoas que, infelizmente, não conseguiram assistir. Por isso decidimos preparar agora a segunda edição, vai ser no dia 17 de Maio, na Casa das Artes, em Talatona. Realmente é um espaço mais apresentável para um espectáculo de teatro, uma vez que nós não temos muitas salas aqui e a Casa das Artes simplifica mesmo o que significa a arte de representar. E pronto, como teatro é teatro, merece sempre uma segunda , terceira edição, quantas vezes for preciso.
As outras salas não são adequadas para o teatro?
Posso apontar uma única sala adequada para espectáculos, a Casa das Artes. A responsável daquele espaço apostou mesmo na qualidade, é uma casa de rigor. As outras são salas de conferências adaptadas, que muitos actores, produtores ou realizadores acabam por se refugiarem lá para realizarem os seus espectáculos e, às vezes, acaba-se por pagar balúrdios de dinheiro para se alugar um espaço para se fazer um espectáculo com qualidade. Muitas vezes questiono-me onde está o Teatro Avenida? O que é feito do Cine Miramar e do Karl Marx? Tenho memórias desses espaços que os meus pais fizeram questão de levar-me, ainda pequena, para acompanhar um pouco de arte que se fazia naquele tempo, Hoje não temos isso, hoje temos que praticamente sobreviver...
E a venda dos ingressos compensa?
Às vezes compensa, às vezes não, porque também temos outros gastos, temos que se pagar os actores, todo pessoal da produção, pagar a casa de espectáculo. Há uma série de gastos e, no fundo, a pessoa vê que não há uma recompensa aceitável, mas como nós queremos fazer, não paramos. Mas acho que o Ministério da Cultura poderia olhar com mais atenção para esta questão.
Que mensagem trazem na peça "Loucas e Prudentes"?
É uma peça teatral gospel, as pessoas pensam que nós estamos só a falar de igreja ou de religião. Não, o objectivo não é esse, é trazer também uma mensagem de reflexão. Com a peça teatral "Loucas e Prudentes" temos como objectivo mostrar à sociedade que devemos posicionar- -nos e não nunca perder o foco.
O que falta para levarem essas peças a outras províncias do País?
Na verdade, não é nossa vontade ficar só por Luanda. O "Loucas e Prudentes" estreou o ano passado e vamos fazer a segunda edição. E estamos à procura de patrocínios para podermos ir para as outras províncias, porque como se sabe, ainda que fosse só do nosso bolso, a estadia, a organização, o fechar com os espaços e outras despesas, não seria possível. Deslocar para outra província exige uma série de condições e de preparo, porque nós somos uma equipa grande. Aparentemente, olha-se para as cinco actrizes em palco, mas existe todo um processo que envolve mais pessoas. Mas sim, já estamos a traçar estratégias para que ainda este ano consigamos girar pelo menos em duas ou três províncias. Vamos ver como tudo corre, porque isso é tudo à base de negócios e conversas. Há empresários de outras províncias que vêm assistir as nossas peças cá em Luanda, dizem que gostam, no entanto, não têm iniciativa para levar a peça para a sua província.
Tem estado um pouco ausente dos palcos. O que tem feito?
Sim, por algum tempo, estive a fazer a locução. O ano passado estive, felizmente, na LAC, a fazer o noticiário. Depois, abracei outro projecto na rádio FM Afro. Mas outro dever de grande responsabilidade chamou-me. Então, tive que largar tudo, mas não desisti da arte, porque eu digo que sou filha de Angola, e sendo uma filha de Angola faço de tudo um pouco. Assim que tiver uma brecha dedico-me à arte, como neste momento que estou a ensaiar para uma peça teatral que vai ser exibida, e outros trabalhos em preparação que eu não posso ainda adiantar. Faço as minhas publicidades, os meus trabalhos de locução, por voz em parcerias, publicidades, tanto visuais como áudio. Tenho participado em filmes, que brevemente, acredito, que vão estar no cinema nacional.
E na televisão. Quando volta às telas?
Quanto aos programas de televisão acho que já dei o que tinha a dar. Entendo que também é o momento de outras pessoas brilharem. Temos visto muitos bons apresentadores, jornalistas, repórteres, que têm dado o seu máximo. Eu estou feliz, porque as pessoas não estão estagnadas. Posso dizer que sou feliz, porque bebi de muitos profissionais nacionais na televisão, entre coordenadores e colegas. E eu dou-me por feliz por passar nessa escola que foi a Semba Comunicação, e pela relação com os profissionais da TPA, que foram muito além do conhecimento. Hoje procuro passar essa experiência para aqueles que querem seguir os passos da comunicação social. Quem sabe um dia voltarei mais madura, mais com os pés no chão, porque quando entrei para a televisão tinha os meus 17 anos. E a vida também faz-nos abrir os olhos para abraçarmos outros desafios.
Leia o artigo integral na edição 823 do Expansão, de sexta-feira, dia 25 de Abril de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)