"O futuro não está a ser construído hoje, continuamos no passado"
Ainda sem data para lançar o seu mais recente livro em Angola, o jurista e coordenador editorial da Editora fala dos sonhos dos angolanos, ao mesmo tempo que traz uma reflexão sobre os 50 anos de Independência e os próximos 50 anos
Recentemente fez o pré-lançamento do seu livro "Saudades dos Tempos Que Não Vivemos", em Portugal. Quando será lançado em Angola?
Por enquanto não há previsão. Estava inicialmente definido que o primeiro lançamento seria em Luanda, no mês de Março, mas a gráfica fez a entrega do livro tarde.
Nesta obra aborda vários tempos e várias saudades. Afinal, de que tempos é que tem saudades?
Esses tempos coincidem com o passado, presente e futuro. No passado, o livro traz personagens mais velhas que recordam os tempos que viveram e o que, podendo construir bons tempos, não conseguiram fazer. No presente é onde estamos todos, com episódios recentes e que nos deixam a reflectir sobre o imediato. E, no tempo futuro, aquilo que perspectivamos fazer para vivermos melhor e, sobretudo, não vivermos numa perpétua repetição negativa. E são estas saudades que todos temos. De viver ou reviver bons tempos.
Diz que o livro espelha os sentimentos e anseios de gerações de angolanos, que continuam a sonhar com um futuro adiado. Que sonhos são esses?
É o sonho de um país funcional, onde se definem metas que são cumpridas nos prazos previstos, com efeitos positivos e duradouros para as pessoas. O sonho de uma sociedade assente no bem- estar colectivo, com saúde, segu rança e educação de qualidade para todos. É um vulgar sonho, mas é um sonho que, 50 anos independente, continua a ser mero sonho para o povo angolano.
Onde é que falhámos enquanto País?
Talvez a resposta seja fácil de dar apontando várias falhas, não apenas uma. Mas é interessante como coloca a questão, no plural, no colectivo. Ou seja, onde é que todos nós falhámos é a pergunta certa, porque não há apenas culpa de uns e não de outros, apesar de existir maior culpabilização para quem detenha funções de maiores responsabilidades. E falhamos todos, continuamos a falhar ao não conseguirmos construir o país. Onde? Em tudo e não seria possível enumerá-los numa entrevista. Mas aponto apenas uma: falhamos ao não implementarmos uma democracia no País.
Este ano celebrámos os 50 anos da independência. Vê esta data com algum sabor agridoce? Porquê?
Praticamente por tudo o que já referi. Angola continua a ser um país do passado, a viver no passado, suspirando pelo país. A qualquer momento é possível verificarmos o passado em todas as acções e discursos. Vejamos o que ocorre quando há eleições: a tentativa de contestação do processo eleitoral e seus resultados é respondida com uma ameaça do passado: a guerra. Jovens criticam a governação e respondem-lhes com o passado do 27 de Maio de 1977. Falta água e respondem com o passado, instalando chafarizes, a falta de energia eléctrica é suprida com candeeiros, velas e geradores. A educação é respondida com três ou cinco salinhas de aulas sem quartos-de-banho. Hospitais sem medicamentos. Angola é um país sem futuro e estou convencido que até os governantes e políticos na oposição já desistiram dele.
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