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Análise

O impacto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia na mesa das famílias angolanas

Análise

Se, por um lado, o aumento do preço do barril de petróleo originado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia beneficia a economia angolana, por outro lado, o país precisará de mais divisas para importar alimentos, fertilizantes e matérias-primas, que estarão mais caras e menos disponíveis no mercado, para produzir bens alimentares para o consumo das famílias.

Existem várias nuances no conflito entre a Rússia e a Ucrânia, desde questões ligadas à geoestratégia, a factos e acontecimentos pouco conhecidos que nos levam a séculos atrás, como o restabelecimento do Império russo, no século XVIII e outros que foram marcantes e bem conhecidos como a dissolução da União Soviética em 1991. No entanto, atemo-nos aqui a procurar saber em que medida a guerra entre a Rússia e a Ucrânia interferirá na mesa das famílias angolanas, ou seja, como um conflito entre países do leste da Europa pode criar alterações na mesa das famílias na África Austral?

A Rússia e a Ucrânia são dois países do Leste da Europa que distam mais de 6.500 Km de Angola. A forma mais célere de se deslocar para aqueles países é por avião, viagem que se faz em 8 horas e 30 minutos num voo directo de Luanda a Kiev, e 9 horas e 24 minutos num voo directo de Luanda a Moscovo. Angola, Rússia e Ucrânia têm relações de Estado há vários anos, pelo que a ex-União Soviética (da qual faziam parte a Rússia e a Ucrânia), foi dos primeiros entes a reconhecer a independência da República de Angola.

Contudo, entre os povos, entre as famílias angolanas, russas e ucranianas não existem fortes laços culturais, tal como existem por exemplo entre os povos angolanos e os dos países da SADC e entre os povos angolanos e os de alguns países da América Latina. As relações culturais entre angolanos e ucranianos são ténues, uma amostra disso é aferida na dificuldade que os africanos e angolanos em particular, enfrentaram para sair da Ucrânia, facto que levou o presidente em exercício da União Africana (UA), Macky Sall, e o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, a apelarem a todos os países que respeitem a lei internacional e mostrem a mesma empatia e apoio a todas as pessoas que fogem da guerra, independentemente da sua identidade racial.

Porém, tal como o dissemos no início, o "quid" do presente artigo é tão-somente perceber como o conflito entre a Rússia e a Ucrânia poderá interferir na mesa das famílias angolanas, em detrimento de outras nuances que este conflito acarretará. O Efeito Borboleta, uma metáfora utilizada pela primeira vez pelo professor Edward Lorenzo em 1969, diz que "o simples bater de asas de uma borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo".

Embora tenha sido utilizada pela primeira vez em 1969, a metáfora do Efeito Borboleta continua bastante actual e como diz o filósofo canadense Marshall Mcluham, no seu livro "A Galáxia de Gutenberg", "o mundo é uma aldeia global, uma aldeia onde tudo e todos estão interconectados", e, uma prova disso, é a alteração expressiva dos preços de diversas commodities no mercado internacional, causada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Para o alcance do "quid" do presente artigo, vamos analisar as exportações mundiais de fertilizantes, de milho e de trigo, que são produtos que concorrem para a produção de vários alimentos frequentemente utilizados na dieta alimentar das famílias angolanas.

OS FERTILIZANTES

Os fertilizantes, sejam minerais ou orgânicos, são compostos que desempenham a função de fornecer nutrientes aos solos para promover o crescimento e o desenvolvimento das culturas, ao mesmo tempo que garantem que a produção pode crescer enquanto se mantém o nível nutricional do solo. Esta contribuição de nutrientes é essencial para aumentar a produtividade por hectare das lavouras, mas não é a única razão para fertilizar. Um solo fertilizado melhora a eficiência no uso da água, aumenta a resistência a doenças e melhora a qualidade final das lavouras, entre outros factores. O crescimento populacional tem aumentado, cada vez mais, a procura por alimentos.

Nos últimos anos, a população mundial atingiu a impressionante marca de 7 biliões de pessoas. As previsões são de que chegaremos aos 9 biliões de pessoas em 2050. Em consequência disso, as produções de alimentos precisam ser cada vez maiores. Estimativas revelam que há necessidade de produzir nos próximos 40 anos a mesma quantidade de alimentos produzida nos últimos 8 mil anos. Um dos caminhos para atingir a missão de alimentar o mundo é aumentar a produtividade agrícola, e é neste contexto, que os fertilizantes se inserem como elementos de extrema importância, porque, o potencial produtivo dos países, está inteiramente ligado ao uso de fertilizantes, sem os quais, a capacidade de produzir de forma crescente e sustentável, seria extremamente prejudicada.

O mundo consome anualmente 185 milhões de toneladas de fertilizantes. Os principais consumidores são a China, Índia, EUA, Brasil, Indonésia e Paquistão. Rússia, Canadá e China são os países mais importantes em termos de exportações de fertilizantes, representando quase metade das exportações globais de fertilizantes, que totalizam mais de 100 milhões de toneladas.

(Leia o artigo integral na edição 667 do Expansão, de sexta-feira, dia 25 de Março de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)