Falta de crédito e assistência técnica aos produtores são os grandes desafios
O Ministério da Agricultura e Pescas (MINAGRIP) reconhece que a produção agro-pecuária e pesca familiar têm enfrentado sérios desafios e dificuldades para o seu desenvolvimento.
No relatório "Estratégia do Sector da Agricultura e Pescas para os Próximos Anos, o ministério aponta como desafios o acesso seguro e equitativo a terras e a água, a pouca cobertura de assistência técnica, facilidades de crédito, reduzido conhecimento, falta de disponibilidade de factores de produção e artefactos de pesca a preços competitivos.
O director do Gabinete de Estudos e Planeamento e Estatísticas (GEPE) do MINAGRIP, Anderson Jerónimo, que falava recentemente, sobre a "Estratégia do Sector da Agricultura e Pescas para os Próximos Anos", num seminário promovido pela Associação dos Jornalistas Económicos (AJECO), onde apresentou os resultados globais da campanha agrícola 2019/2020, disse que as limitações nas vias rurais para o escoamento dos produtos, carência de infra-estruturas de armazenamento, congelação, e processamento para obter preços mais competitivos, limitados investimentos em tecnologias, são outras dificuldades que atrasam o desenvolvimento do sector produtivo e do agro-negócio.
O responsável explicou, por outro lado, que o ambiente de interacção e negócio a nível da produção agro-pecuária e pesca familiar tem de se fortalecer, uma vez que os produtores empresariais têm sido o meio de escoamento da produção familiar, transmissão de algum conhecimento, para garantir os fluxos sustentáveis no sector.
A questão da assistência técnica ao nível da agricultura familiar tem sido levantada por muitos especialistas já que os pequenos produtores, responsáveis por quase 90% da produção agrícola do País, têm dificuldades na selecção das sementes e de semear, situação que tem impacto no crescimento da produção agrícola. Embora existam agora escolas de campo, especialistas afirmam que é preciso investir mais na capacitação dos pequenos produtores.
O empresário Costa Camuenho diz que a agricultura não pode ser pensada a partir do asfalto, ou seja, para esse agricultor, que há mais de 30 anos trabalha a terra, é preciso descentralizar as políticas e dar autonomia aos governos provinciais para a gestão dos recursos financeiros disponibilizados para as actividades permanentes do sector.
Lembra ainda que é preciso que os programas de apoio à produção deixem de ter "publicidade política" e que se pense numa cadeia de produção mais sustentável e que os produtos cheguem aos centros de consumo. O empresário alerta, no entanto, que é preciso que os apoios financeiros cheguem a todos e não a uma minoria. "Em Angola, temos produtores que estão a beneficiar de financiamentos sem necessidades. No interior do País não há financiamentos à agricultura, tudo não passa de propaganda, porque os bancos fazem as suas escolhas", explica, Costa Camuenho.
O agrónomo Fernando Pacheco, escreveu, num artigo de opinião publicado no Novo Jornal, em Julho do ano passado, que "nunca é demais fazer notar a necessidade de se conhecer a realidade do País para a definição de políticas e de planos". Uma clara alusão ao alargamento das políticas para o sector produtivo e os seus objectivos. Fernando Pacheco critica o PRODESI e a forma como as linhas de crédito têm sido usadas.
(Leia o artigo integral na edição 639 do Expansão, de sexta-feira, dia 27 de Agosto de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)