Carreira também é sobre sair
Por vezes, o maior acto de coragem e liderança pessoal é justamente esse: reconhecer que chegou o momento de partir. Que permanecer já não é crescimento, é sobrevivência. Que continuar ali, naquele lugar onde já não se aprende, onde já não se é visto, onde o trabalho deixou de ter sentido, é um preço alto demais a pagar.
Todos falam sobre entrar. Sobre conquistar uma oportunidade. Sobre ascender. Poucos falam com honestidade sobre sair.
Atualmente, muitos profissionais continuam a acreditar que uma carreira sólida se constrói à base de permanência. Que ficar muito tempo na mesma organização é sinónimo de lealdade, estabilidade e até de sucesso. Em Angola, onde o mercado ainda valoriza os percursos lineares, esta mentalidade persiste com força. No entanto, aquilo que muitas vezes é visto como firmeza pode, na verdade, ser estagnação mascarada de segurança.
Por vezes, o maior acto de coragem e liderança pessoal é justamente esse: reconhecer que chegou o momento de partir. Que permanecer já não é crescimento, é sobrevivência. Que continuar ali, naquele lugar onde já não se aprende, onde já não se é visto, onde o trabalho deixou de ter sentido, é um preço alto demais a pagar.
Há histórias que nos fazem pensar. Como a de Ana Cristina, mas realidade comum. Uma profissional experiente, dedicada, com mais de uma década na mesma empresa. Começou cheia de energia, foi crescendo, mas a certa altura o reconhecimento parou. As oportunidades secaram. E o ambiente à volta dela tornou-se pesado, fechado, pouco inspirador. Mesmo assim, Ana ficou. E ficou mais. Por medo. Por lealdade. Por não querer arriscar o desconhecido. Até ao dia em que percebeu que já não era a mesma, não por ter evoluído, mas por se ter adaptado a um lugar onde já não crescia. Onde já não era vista.
O que poucos dizem em voz alta é que a permanência por inércia é, muitas vezes, um acto de autossabotagem. Fazer-se pequeno para caber onde não te valorizam é desperdiçar o teu potencial. E mais do que isso: é arriscar a tua motivação, a tua energia, a tua criatividade. É aceitar ser gerido por quem já não vê em ti mais do que uma função operacional.
As consequências não são só individuais. Quando um colaborador decide permanecer num espaço onde já não se sente valorizado, o impacto começa a espalhar-se. A produtividade cai, a inovação morre e o clima organizacional contamina-se. A apatia instala- -se de forma silenciosa e muitas vezes, irreversível. As empresas que ignoram este fenómeno correm riscos sérios. A médio e longo prazo, não se trata apenas de perder talento. Trata-se de comprometer a reputação. De atrair novos profissionais sem conseguir retê-los. De deixar de ser um lugar onde os melhores querem estar.
Carreira não é apenas subir. Carreira também é saber sair. É ter clareza para perceber quando o ciclo terminou. É ter coragem para levantar-se da mesa quando já não há mais nada a ser servido. É recusar ser moldado para encaixar num espaço onde já não se encaixa. É aceitar que lealdade não é prisão, e que sair pode ser o acto mais nobre que se faz por si mesmo e, por vezes, pela própria organização.
Num mercado cada vez mais exigente e competitivo, as organizações precisam de líderes e profissionais que estejam vivos, despertos, alinhados com os seus valores e com vontade de contribuir. Quem se arrasta, sem brilho, sem motivação, sem perspectiva, não está a ajudar ninguém. Nem a si, nem à empresa. E a verdade é que, por vezes, o maior acto de responsabilidade profissional é sair. Sair para abrir espaço. Sair para inspirar outros. Sair para voltar a crescer.
É fundamental que tanto os profissionais quanto as organizações reconheçam a importância de avaliar continuamente o alinhamento entre os objectivos individuais e os da empresa. Quando este alinhamento deixa de existir, pode ser o momento de considerar uma mudança. Sair de uma organização não deve ser visto como um fracasso, mas sim como uma decisão estratégica para o crescimento pessoal e profissional.
Leia o artigo integral na edição 825 do Expansão, de Sexta-feira, dia 09 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)